Arctic Monkeys em Curitiba: músicas novas moldam os velhos hits e dão à banda uma ótima consistência ao vivo

Nem parece que faz tanto tempo desde a última vez em que o Arctic Monkeys passou pelo Brasil, em 2019, quando foram headliners do Lollapalooza – culpa da distorção temporal pandêmica, imaginamos. Naquela ocasião, era a turnê divulgando o polêmico “Tranquility Base Hotel + Casino”, e fizeram um show marcado pela desconfortável dicotomia explícita entre o material mais antigo e o mais recente da banda.

Agora, em 2022, trazem o não-tão-polêmico “The Car”, e um show mais tematicamente coeso. Acompanhamos a apresentação da banda na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, a terceira e última desse giro brasileiro recente, e explicamos essa história. 

Primeiramente, o Arctic Monkeys acertou de tocar apenas as quatro melhores músicas deste último disco – já abrindo com a favorita aqui na Popload, “Sculptures of Anything Goes”.

“There’d Better Be a Mirrorball” e “Body Paint” ficaram igualmente boas ao vivo, deixando a faixa-título “The Car” como a mais genérica das novas. E foi assim, nada de forçar material recente goela abaixo. E que deixou bastante espaço para o resto da vasta discografia da banda. 

O curioso é que as outras 17 músicas da noite pareciam estar mais aliadas a esse estilo pós-2018 do grupo. As duas faixas de “Tranquility Base Hotel + Casino” que apareceram (a faixa-título e “Four Out of Five”) foram tocadas com arranjos novos, mais similares à estética de “The Car”. Até a clássica “505”, de 2007, ganhou uma versão nova que se encaixou perfeitamente no atual “mood” da banda. 

A seleção das músicas mais antigas também favoreceu esse estilo glam-lounge (chame como quiser) que adotam atualmente, no qual a banda dá mais espaço para Alex Turner assumir a posição de frontman. Em vez de “Library Pictures”, tocaram “Potion Approaching”; no lugar de “Teddy Picker”, veio “Do Me a Favour”; e “Dancing Shoes” foi substituída por “From the Ritz to the Rubble”.

Cada fase da banda continua adequadamente representada, mas com canções que não destoam tanto do material mais recente – até acrescentam algo positivo à atmosfera geral do show, e parecem uma parte essencial do todo. 

Curiosamente, na última vez em que o Arctic Monkeys se apresentou na Pedreira Paulo Leminski, lá no Tim Festival de 2007, “Brianstorm” podia ser considerada a musica mais essencial do setlist. Quinze anos depois, é a mais deslocada e desgastada – pelo menos nesse show, pouco pareceu empolgar, especialmente quando comparada aos hits gigantescos do disco “AM” (2013). 

Vale a pena destacar que “Pretty Visitors” continua sendo tocada ao vivo, e continua sendo uma das melhores (quem sabe a melhor mesmo?) da discografia da banda. Ela também exibe todos os truques de iluminação do palco, que são limitados, porém eficazes, certeiros. 

Quando “The Car” foi lançado, há poucos dias, comentamos em uma das nossas resenhas que o disco podia não ser o melhor da carreira do Arctic Monkeys, mas que acrescentaria algo de valor aos seus shows.

Estávamos apenas parcialmente corretos, porque o álbum foi além: ele conseguiu transformar aquele show inconsistente de 2019 em uma obra que faz mais sentido como um todo, e até recontextualiza a carreira do AM para uma nova era. E só ganhamos com isso.