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Lá se vão 25 anos desde que Kurt Cobain, o maior ídolo do rock de sua geração, resolveu dar fim às constantes lutas contra seus próprios demônios e nos deixou precocemente, aos 27 anos de idade, estando à frente de uma das maiores bandas do mundo naquele época.
Desde então, o mundo insiste em não esquecer Kurt Cobain, para o bem ou para o mal.
Já contei aqui mil vezes a história de como eu, tendo o Nirvana como meu Beatles particular, fiquei sabendo do à época possível morte do ex-líder da colossal banda (da região ) de Seattle.
Eu trabalhava à época no jornal “Notícias Populares”, que era do grupo da Folha de S.Paulo, e numa reunião de alta cúpula um diretor do jornal sobre por um amigo americano o “boato”. Missão dada, comecei a ligar para jornais de Seattle e recebi um número de telefone da polícia local, que investigava o caso.
Óbvio, fiz a chamada e, dada a alta quantidade de pessoas que ligavam na mesma hora e com o mesmo propósito, a políca resolveu colocar um recado gravado, que dizia mais ou menos o seguinte: “Um corpo de um homem foi encontrado hoje na casa do rock star Kurt Cobain, com uma ferida na cabeça. Especialistas ainda não confirmam a identidade da vítima”.
Tenho essa gravação em fita cassete até hoje. Era dia 8 de abril. E era Kurt Cobain mesmo. Os médicos calcularam que o músico se matou três dias antes, no dia 5 de abril, 25 anos hoje.
Nesta marca de 25 anos, a principal notícia relacionada ao ex-líder do Nirvana talvez seja o lançamento do livro “Serving the Servant: Remembering Kurt Cobain”, escrito pelo seu ex-empresário Danny Goldberg, que afirma estar só agora pronto para refletir publicamente sobre a representatividade de Cobain na cultura pop.
“Ele foi um cantor incrivelmente comovente, sua voz transmitia uma vulnerabilidade e uma intimidade rara”, aponta Danny, que acredita que a imagem que ficou de Kurt na imprensa foi um tanto distorcida. “Se concentrou de maneira desproporcional em sua morte, não tanto em sua vida e arte”.
No livro, Goldberg relata os momentos de glória e de tensão do Nirvana e conta que ainda não chegou a uma conclusão certa sobre o que levou o artista a cometer um suicídio.
“Não tenho ideia do que provocou as últimas semanas de desespero dele. Talvez tenha sido uma intensa cristalização das depressões que o atormentavam por muito tempo”, destaca no livro.
Em entrevista ao Washington Post, Danny, que também foi empresário do Led Zeppelin, conta que Kurt via em Dave Grohl um potencial cantor. E que a relação de ambos gerava até um pouco de ciúmes.
“Kurt disse para mim: ‘acho que você não faz ideia de quão bom Dave é como cantor, mas eu o ouço cantando todas as noites’. É como se ele fizesse isso só para eu saber, porque havia um lado fraternal e doce da parte dele, mas também um pouco de inveja. Quer dizer, ele era competitivo”, relatou.
Registros inéditos da passagem pelo Brasil em 1993
Também nesta sexta-feira, veio à tona em uma reportagem do jornal O Globo alguns registros de bastidores da única, conturbada e inesquecível passagem do Nirvana pelo Brasil no ano de 1993, o anterior à morte de Kurt.
O texto assinado por Johanns Eller traz imagens inéditas de Kurt, e relembra a saga do repórter Antonio Carlos Miguel e da fotógrafa Márcia Foletto para estarem perto de Kurt em um hotel em São Conrado, para uma entrevista. Depois de uma ajudinha de um segurança brasileiro, eles conseguiram intermediar uma entrevista com Kurt em seu quarto. Foram recebido pelo rockstar de pijamas e meias longas. E alguns desses registros da fotógrafa Márcia Foletto podem ser vistos abaixo. A reportagem completa está aqui.
*** O Suicídio e as Redes
* A morte prematura de Kurt Cobain, que contribuiu para criar o mito em torno de sua figura, estimula ainda hoje debates sobre a saúde mental. Foi baseando-se em trechos de seus diários, além de expressões de outras pessoas, que definiu o que foi chamado de “gramática da depressão”, um determinado grupo de palavras usado nas redes sociais que indicam a incidência da doença, mesmo em estágios iniciais. O termo deriva de Estudos da University of Reading, na Inglaterra, e da Florida State University, publicados pelos respectivos departamento de psicologia.
Só no ano passado, 1 milhão de pessoas tirou a própria vida ao redor do mundo. O estudo foi a fundo para entender como são os pedidos de ajuda, voluntários ou involuntários, recorrentes nas redes sociais para pessoas potencialmente em algum estágio depressivo. E serviu de inspiração para a criação do Algoritmo da Vida.
O projeto, assinado pela “Rolling Stone Brasil”, se trata de um software capaz de identificar no Twitter uma variedade de palavras e frases que podem indicar sintomas de depressão nas postagens públicas dos usuários. O algoritmo encontra a recorrência desses termos e indica o perfil para uma checagem de uma equipe treinada para considerar, inclusive, contexto, ironias e recorrência de termos. Depois que a ferramenta e a equipe confirmam o potencial do usuário em desenvolver a doença, um perfil secreto criado especificamente para a ação com o auxílio de psiquiatras entra em contato com o indivíduo por meio de mensagem privada, na mesma rede social, e, se for o caso o encaminha para o Centro de Valorização da Vida (ligue 188). Desde o início do funcionamento da ferramenta, estima-se que 40% das pessoas que receberam a nossa mensagem clicaram no link para receber auxílio.
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