Amiga íntima de seus fãs, a britânica Lucy Rose toca hoje em São Paulo, onde fez história

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* É talvez a atitude mais bacana que uma jovem artista fez na música independente nos últimos anos. A cantora inglesa Lucy Rose toca hoje no Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo, já adiantando o repertório do novo disco, seu terceiro, “Something’s Changing”, que vai ser lançado em 14 de julho próximo, e que tem nome e conteúdo inspirado no que aconteceu com ela, ou foi provocado por ela, na turnê pela América do Sul, no ano passado.

Aproveitando que iria tirar umas férias com o marido depois de shows na Europa e nos EUA, Rose resolveu fazer um combinado com seus fãs de lugares em que ela não tinha ainda se apresentado mas que viviam pedindo que ela passasse com sua turnê. No caso, fãs da América do Sul.

Lucy Rose bancaria suas passagens desde que os fãs a abrigassem em casa, a convidassem à mesa, mostrassem lugares para ela e ajudassem a montar a turnê em algumas casas de shows locais. Uma turnê total feita no esquema do-it-yourself. Ela e seus fãs, sem intermediários.

E por nove semanas a inglesa foi conhecer, tocar e morar com seus fãs do Equador, Peru, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. Aqui, ela fez cinco apresentações: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Uma de São Paulo foi especial dentro das especiais. Foi na House of Bubbles (foto abaixo), uma lavanderia que fica em Pinheiros e forma um pequeno “complexo” de coisas bacanas com nome de House à frente: House of Work (um lugar de coworking), House of Food (um rstaurante “diferente” dos tradicionais, House of Learning, um lugar para professores particulares levar seus alunos.

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Acontece que o show foi de graça, bem divulgado em redes sociais e de repente cerca de 1200 pessoas estavam lá para ver Lucy tocar, para a surpresa dela e de todo mundo. Imagina uma inglesa indie tocando numa janela de lavanderia, no segundo andar, voltada para uma rua entupida de gente, que teve que ter trânsito desviado sem aviso prévio às autoridades.

Essa façanha indie fez Lucy Rose estar de volta hoje a São Paulo, para tocar no Rio Verde. Não deve ser tão histórico quanto o anterior, mas com certeza é a grande pedida de shows na cidade, em uma semana abarrotada de shows bons.

Para completar, o novo álbum em julho e o show de hoje em São Paulo vêm acompanhados de um documentário que registra essa turnê de 2016 e gerou esta “Worldwide Cinema Tour”, que batiza a atual turnê. O filme, de novo, será mostrado no concerto de hoje no Centro Cultural Rio Verde.

A Popload foi no último domingo com Lucy na House of Bubbles, provavelmente seu lugar predileto no mundo, para entrevistar a inglesa sobre o show do ano passado e o show de hoje à noite. Abaixo, um “melhores momentos” da conversa com a simpática heroína indie.

* SOBRE O DISCO NOVO – “Ele é o mais bem acabado disco que eu fiz, o que saiu mais próximo do que eu pensei desde o princípio. Estou bem satisfeita com ele. É o álbum que eu fiz mais compromissada com o que eu sinto do que pode alcançar minha música, do que eu me comprometi a fazer. Sempre achei que não exatamente eu estava tão comprometida assim nos outros, sempre com várias dúvidas. Mas este saiu diferente.
Ele naturalmente é um disco maduro. Estou ficando velha. Não tenho mais as angústias e anseios de quando eu tinha 20 anos [ela tem 27, hoje]. Honestamente, hoje eu acho que posso dizer tranquilamente que sou uma artista de country-folk, coisa que me deixava desconfortável antes, mais jovem, quando isso não soava “cool” e todos meus amigos eram artistas de “indie music”. Sim, eu sou country e agora gosto disso.
Esse novo disco me aproxima com mais prazer de artistas como Neil Young, Joni Mitchell, Carole King, que serviram de referência para este novo disco, algo mais anos 70.”

* SOBRE A TURNÊ VIVENDO COM OS FÃS – “Foi a melhor coisa que eu fiz na minha carreira, na minha vida. Era um momento que sinceramente eu me sentia um pouco perdida, sem saber o que fazer para continuar minha carreira, se é que eu queria continuá-la, quando decidi viajar um tempo com meu marido para ver coisas diferentes e ver se algo novo me inspirava. Essa era a ideia original. E estávamos decidindo para onde iríamos e resolvemos viajar para a América do Sul. Ao mesmo tempo, batia uma coisa em mim que seria um desperdício chegar em um lugar que eu nunca toquei, lugares que eu sabia pela internet que tinha pessoas interessadas em minha música.
Daí veio a ideia dessa “troca de favores”, digamos. Eles me acomodavam e me alimentavam, eu tocaria para eles. Free music, sem envolver dinheiro, era um plano que me instigava. A ideia cresceu e foi maravilhosa para me resgatar para a minha própria música. Aumentar minhas certezas do que eu queria para a a minha vida, minha carreira.
Eu não conseguia acreditar que as músicas que eu fiz tão privadamente em meu quarto poderia movimentar pessoas em lugares como Equador, Argentina, Brasil a me chamarem para tocá-las para elas. Com elas sabendo as letras. Com elas me chamando para morar em suas casas, mesmo por poucos dias.
Não acho que uma coisa dessas poderia acontecer na Inglaterra, por exemplo. Principalmente em Londres. Ninguém confia no outro em Londres. Sempre tem alguém pensando como o outro vai ferrá-lo se você fizer algo do tipo.
Fazendo isso aqui na América do Sul, com tudo de ruim que você vê e lê todos os dias sobre o que acontece no mundo, me fez resgatar a fé não só na música, que é meu trabalho. Mas também nas pessoas.”

* SOBRE O SHOW HISTÓRICO NA LAVANDERIA – “A experiência em São Paulo foi toda única. O lugar, a cidade, as pessoas que me acolheram aqui. Quando me ofereceram a oportunidade de tocar numa lavanderia, eu pensei: “Whaaaaaaat?”. Quando vi que seria eu dentro da lavanderia, tocando para pessoas na calçada, na rua, do lado de fora, eu já nem sabia mais o que pensar, mas a ideia me excitava. Acabou que eu acabei fazendo um show para o maior público de minha vida [calculou-se 1200 pessoas presentes no dia]. Tocar para esse tanto de gente, um show de graça, na rua, qualquer um podia passar e ficar para ver. Muita gente cantando as letras. Foi tudo bem louco. Foi um sonho realizado. Eu não poderia ser mais feliz como naquela noite.”

* SOBRE O SHOW DE HOJE À NOITE – “É completamente novo, não só porque traz bastantes das novas canções, mas também porque sou acompanhada ao vivo por mais dois novos músicos, agora. É uma nova atmosfera, uma nova energia. Nunca imaginei que minhas músicas sofreriam tanta energia simplesmente porque eu botei um baixista para marcá-las, porque antes era apenas eu e minha guitarra. Soam novas músicas para mim. E isso é bem visível nos shows.”

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