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Pelo menos nos últimos três bons anos, o mercado de shows internacionais no Brasil foi provavelmente o que mais cresceu no mundo todo. Neste meio tempo, o país deve ter recebido uma quantidade na casa do milhar de shows gringos, desde o Miike Snow ao Paul McCartney (três vezes!!!), viu o Rock In Rio voltar, o SWU aparecer e sumir (faliu neste ano), e nomes como Sónar e o Lollapalooza apostarem no nosso mercado, de gama, variedade e público tão amplos. Sem falar na “ameaça” já pública de o bombado Coachella ser realizado aqui no ano que vem.
Pode botar o Popload Gig nessa história, eu deixo. O festival foi formado em 2009 com a ideia de fazer uma edição a cada seis meses, e que, hoje, depois de quase 20 edições em três anos, tem potencial, se quiséssemos ($$$$$), de acontecer todo mês, às vezes duas vezes num mesmo mês. Dezenas de empresas trouxeram bandas gringas especialmente para seus eventos. Vieram, encararam longa viagem, tocaram em festa fechada e foram embora. Pensa.
O negócio ficou tão bom por aqui que já temos dois megafestivais de 2013 com umas 80 atrações já anunciadas, já vendendo ingressos faz tempo. Um deles é do segundo semestre do ano que vem.
Fora a história dos crowdfundings, que começou com o Queremos no Rio de Janeiro e hoje já tem até “iniciativas gringas” armando shows do tipo no Brasil.
E tudo mais.
Só que as últimas semanas definitivamente acenderam um sinal de alerta em todo mundo envolvido na organização de shows, passando por quem compra ingresso e quem gosta de analisar isso, leia-se imprensa.
Lady Gaga e o assombroso caso do público que sumiu
Tudo começou com a surpreendente baixa venda de ingressos das duas maiores e mais caras turnês da atualidade. Lady Gaga, maior e mais controversa popstar que surgiu na música nos últimos anos, fez shows para metade do público esperado em sua turnê que recém passou por Rio, São Paulo e Porto Alegre. A produtora que trouxe a turnê ao país teve que se virar com promoções de última hora para que a cantora não tocasse para “ninguém” em sua turnê “monster”.
Do mesmo problema sofre Madonna, a maior e mais controversa popstar de todos os tempos. A poucas semanas de chegar ao país, a mesma produtora precisou tomar uma medida emergencial de reajustes absurdos nos preços de seus ingressos que baixaram, por exemplo, de R$ 360 para R$ 200 (pista).
A gente soube que antes de tudo isso, o “campeão de vendas” Planeta Terra Festival, também não atingiu o público esperado. O espaço do Jockey Club, a nova casa do evento indie mais tradicional do país, teve que ser “remodelado” duas vezes para “cortar os vazios”, parece.
Mas, nos últimos dias, o bicho pegou. Uma semana do “desconforto” se iniciou na sexta passada, quando o Coldplay, que tem lotado estádios pelo mundo todo, comunicou que não poderá tocar na América do Sul na data prevista, isso apenas três dias depois de confirmar “com muita alegria” mais uma visita por aqui.
Chris Martin anunciou o cancelamento dos shows na América do Sul na internet antes de comunicar os produtores locais
No último final de semana, em São Paulo, o Cavalera Conspiracy (que a princípio tocaria no Espaço das Américas ao lado do Mastodon e do Slayer) precisou mudar seu show para a bem menor Via Marquês, chegou a cancelar essa apresentação e só remarcou o show para o Cine Joia aos 45 do segundo tempo. Os motivos podem ser outros, mais variados que apenas as tais “venda de ingressos”, mas enfim.
A louquinha e talentosa cantora Fiona Apple, um dos grandes nomes do momento, anunciou na terça que não pode vir ao país e jogou a culpa na sua pitbull que está doente e pode ficar mais doente ainda se ela viajar. Então ela decidiu não vir. O Black Label Society cancelou sua apresentação em Fortaleza alegando que não recebeu cachê e, pior, uma das produtoras envolvidas soltou um comunicado informando “se isentar do reembolso aos fãs”, jogando a responsabilidade para uma produtora local.
O Sublime With Rome, com show agendado para o HSBC Hall nesta sexta, informou na tarde de hoje que a apresentação foi adiada, sem dar maiores detalhes. Mais um para a conta.
Ontem, uma notícia que diz respeito muito a gente mas que circulou forte apenas nos cadernos e sites de economia, apontou que a gigante do entretenimento Time for Fun (T4F) teve sensível queda nos resultados da empresa por causa de cancelamentos e baixa venda de ingressos em shows nos quais eram esperadas altas vendagens (Coldplay, Lady Gaga, Madonna e Fiona Apple são/eram da T4F). Não é que a empresa não lucrou, longe disso. Mas esse arranjo de situações variadas no showbis fez a T4F diminuir seu lucro em 2012 em quase 30%. Para uma empresa grande e estruturada, isso é assimilado de certa forma. Para quase todos os restos dos montes de produtores existentes, seria a morte.
Essa “fase” macabra de cancelamentos, somada à situação esquisita da economia, juntando um certo, talvez, esgotamento de shows para um público grande que não tem tanta grana assim para gastar em shows toda hora, mais os ingressos discutivelmente caros, mais o enquadramento da política sempre controversa da “meia entrada” (que, já foi anunciado, vai mudar sua política de abocanh… de utilização em 2013), mais a prometida fiscalização do Ecad, mais o fechamento de importantes casas de shows, mais a abertura de outras importantes casas de shows e arenas e clubes que a gente sabe que vão abrir, tudo isso puxado por todos os lados, de ponta-cabeça e esticado aqui e acolá, promete para o ano que vem uma nova ordem desse “case” interessante que se tornou o assunto “shows internacionais no Brasil”.
Quem viver 2013 verá.
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