Por Alexandre Gliv Zampieri
Raríssimas são as bandas na história da música que fazem um som mais energético, ficam longos anos (uma década!?) fora dos estúdios e retornam com a mesma pegada e intensidade, com continuações dignas e diretas, soando exatamente como se tivessem se passado apenas poucos meses.
Os suecos do Hellacopters conseguiram isso no ano passado (14 anos depois do último lançamento). E agora é a vez de seus conterrâneos, a banda The Hives.
“The Death of Randy Fitzsimmons” é o sucessor de 11 anos do quinto album e que finalmente chega até nós, com lançamento prontinho para entrar nesta meia-noite nos streamings.
Outra das estatísticas é que, quando uma banda anuncia que seu próximo disco é o “melhor da carreira”, 90% das vezes não é. Assim como 98% das vezes também não será o “mais pesado”.
Mais lúcidos e honestos, quando o Hives avisou para não esperar do seu novo lançamento um rock “maduro”, eles não estavam brincando. Nada de evolução por aqui, experimentações e, por favor, nada de músicas com mais de quatro minutos.
Voltando à inevitável comparação com o Hellacopters, são duas bandas de diferentes mas altamente potentes ataques sonoros. Que por um lado, realmente, podem não ser das mais revolucionárias ou vieram para reinventar estilos, mas por outro seguem fazendo sua música muito bem e em altíssimo volume como poucas.
Prova de que a banda sabe muito bem onde quer chegar é o foco no primeiro single e na faixa de abertura, a bombástica “Bogus Operandi”, dona de um dos riffs mais legais do rock recente, que gerou um dos melhores vídeos do ano, “meio Evil Dead”. Acertadíssima também a escolha pelo segundo single, outro dos sons (e vídeos) de destaque, “Countdown to Shutdown”.
“Two Kinds of Trouble”, outra das faixas, já nos primeiros segundos soa como se fosse uma música lá do terceiro album, “Tyrannosaurus Hives”, tipo 2004, quando o bicho pegava mesmo no novo rock.
“Smoke & Mirrors” é a mais Ramones das faixas. “Rigor Mortis Radio”, “Crash into the Weekend” e “The Way the Story Goes” já vêm com suas batidas e ritmos contagiantes de palmas embutidas, daqueles que podem te induzir a momentos levemente constrangedores se você é (assim como eu) dos mais empolgados com seus fones de ouvido. Mas, claro, tudo é devidamente liberado e potencializado nas apresentações ao vivo.
Curiosamente, faixas como “The Bomb”, “Trapdoor Solution” e “Step Out of the Way” podem ser alguns dos maiores resgates na discografia a remeterem diretamente a um passado ainda mais distante, lá do primeiro album (mais punk quase hardcore do que propriamente o garage rock que tornou o Hives mundialmente famoso).
Mas, atenção!!! Ouvidos mais preguiçosos ou cansados podem levar a veredictos perigosos tipo “Mais do mesmo!” a um disco como este novo do Hives. A geralmente subestimada genialidade na simplicidade pode reduzir ou deixar passar batido uma bem boa (e muito acima da média) variação de riffs, ideias e composições, coisas típicas do grupo de Pelle Almqvist.
Em termos matemáticos, 11 anos de espera para pouco mais de 30 minutos soa meio cruel mesmo. E talvez a inclusão de singles avulsos dos últimos tempos, como “Good Samaritan” e “I’m Alive”, encaixariam bem para ajudar a encorpar essa volta do Hives ao disco. Mas, em um mundo de playlists, provavelmente isso acaba não fazendo muita diferença ou sentido, quando você acrescenta (ou subtrai) o que mais te interessa.
E se em todos esses anos foram pouquíssimos lançamentos, pelo menos o Hives segue com uma das discografias mais consistentes de sua geração.
Lembrando que, ao vivo, que é o forte da banda, essa festa toda ganha altas doses de energia extra. E o Hives toca em SP no primeiro dia do festival Primavera Sound, em dezembro.
Aí sim…