A Popload ouviu: “Cutouts”, da banda inglesa The Smile

“Ouviu o disco novo da banda The Smile? É muito bom!” Não, não é déjà vu. Você já escutou isso no comecinho de 2024. E estará escutando novamente agora, já que o trio inglês está lançando nesta sexta-feira seu terceiro álbum, “Cutouts”. Portanto, evitaremos entrar na repetição de contar que The Smile é um projeto paralelo de dois integrantes do Radiohead, porque já seria a terceira vez em pouco mais de dois anos que explicamos isso no início de uma resenha. Mas, sim, “Cutouts” é muito bom. De novo. 

Enquanto o primeiro álbum do The Smile, “A Light for Attracting Attention” (2022), era frenético e ansioso, sua sequência, “Wall of Eyes” (lançado em janeiro deste ano) foi marcada por um tom mais introspectivo e calmo. Tendo isso em vista, fica fácil definir que este “Cutouts”: é um ponto de equilíbrio entre os dois trabalhos anteriores, mas dando alguns passos importantes adiante. 

A abertura misteriosa com “Foreign Spies” inteira carregada por sintetizadores, não deixa claro qual será o clima do restante das faixas. Mas logo vem a linda “Instant Psalm”, cujo violão e arranjos orquestrais remetem ao outro disco que a banda lançou neste ano, mas soa distintivamente melhor que a maioria das faixas dele.

Na terceira canção do disco, “Zero Sum”, já temos algo que lembra mais o ritmo acelerado do primeiro disco do Smile. No entanto, um saxofone que aparece de surpresa muda totalmente o tom da faixa. “Eyes & Mouth” faz algo similar ao incluir notas de piano e um coral sutil ao fundo. São toques assim que elevam a instrumentação de “Cutouts” para além dos dois discos anteriores. 

Como a primeira música, “Don’t Get Me Started” também é dominada por sintetizadores. A atmosfera da faixa chega a dar uma saudade muito boa da fase “Kid A” do Radiohead, sem qualquer pretensão óbvia de instigar uma nostalgia no ouvinte. 

Os arranjos orquestrais voltam na excelente “Tiptoe”, mostrando que Thom Yorke e Jonny Greenwood conseguem fazer muito com “apenas” um piano e umas cordas ao fundo. Em seguida, uma mudança completa de tom em “The Slip” mostra como o grupo facilmente vai de um clima para o outro sem perder o fio da meada, evitando que o álbum soe como um apanhado de sobras. 

Fechando com a deliciosa “Bodies Laughing”, “Cutouts” é tão bom que você fica desejando que ele tivesse mais faixas. O que é curioso, tendo em vista que este disco concretiza o período mais prolífico que Thom Yorke e Jonny Greenwood tiveram juntos neste século – 31 músicas lançadas em pouco mais de dois anos. E não pelo Radiohead.

“Cutouts” talvez seja o trabalho definitivo do The Smile, vamos esperar para ver. É seu lançamento mais variado e prazeroso de ouvir até agora. Junta os elementos principais dos dois álbuns anteriores e acrescenta o suficiente para soar novo e empolgante.

Talvez o grupo nunca venha a criar um disco tão memorável quanto “Kid A”, também deles, mas pelo outro CNPJ. Pouco importa. Fazia tempo que não era tão divertido ouvir esses músicos trabalhando juntos. Por mais que o adjetivo não combine lá tanto assim com a música de um sujeito como Thom Yorke.