>>
Este é o fim da São Paulo indie como nós a conhecíamos. A cidade parou no último sábado para abrigar dois shows de gênios do rock alternativo, cada qual no seu quadrado. No dia do juízo final, a pergunta será: “Dia 21 de novembro de 2015, onde você estava? No show do Morrissey ou do Mac DeMarco?”. Perguntaram tipo assim no Twitter.
Moz é isso aí. Basicamente o maior britânico vivo, poeta, ícone de uma geração, um dos maiores cantores e letristas de todos os tempos, que um dia fez parte de uma das maiores bandas da história. Na contramão aparece o zoado Mac DeMarco, canadense prolífico e meio avacalhado, desses que parecem não ser muito sérios, que não sabe se o rio corre para cima ou para baixo, mas que a cada disco ou música lançada aumenta cada vez mais sua fervorosa e incrível legião de fãs. Como explicar, Brasil?
No país para (inicialmente) sete shows, DeMarco arrastou bom público ao Audio Club no último sábado, dentro do Balaclava Fest. Tocou canções de todas as fases de sua carreira, fumou (não pode, né?), dançou, fez piadinhas e literalmente se jogou no meio de uma galera insana (vídeo neste post). As aventuras do músico canadense continuaram ontem, no Rio, onde se apresentou para 50 fãs (!!!) no MIMPI Festival Film – Festival Internacional de Filmes de Surfe e Skate.
Se você atentou bem para os números, foram 50 ingressos para o show de Mac DeMarco no Rio ontem. “Para pessoas selecionadas”, parece. Isso motivou um grupo de fãs sem ingresso a criar o movimento “Barrados no Mac”. O objetivo principal do grupo: um show extra de DeMarco no Rio.
Semana passada, a Popload recebeu a mensagem de um emocionado Charles Faria, um dos mentores do movimento. Charles faz parte do coletivo Subsolo, um difusor da música independente no Rio de Janeiro e “sobretudo no Brasil”, diz ele. A mensagem do Charles começou assim: “Soubemos que o show do artista Mac DeMarco, esperado por cerca de 70 mil fãs só no Rio de Janeiro, foi restrito a 50 ingressos dentro do evento MIMPI Festival Film, que acontecerá neste domingo (22/11). A galera que é fã do artista aqui no Rio de Janeiro, os verdadeiros fãs do artista, criaram o grupo ‘Barrados do Mac’ e nos indicaram como apoio e porta-voz para a mobilização de mais um show extra do artista com uma ideia motivadora: todos os lucros do show, incluindo alimentos não perecíveis e roupas serão revertidos às famílias que sofreram com a tragédia em Mariana, Minas Gerais”.
Se você atentou bem para os números (de novo), Charles diz que DeMarco era esperado por 70 mil fãs só no Rio. Haha. Gênio. Tanto que a mobilização dos fãs teve seu primeiro efeito no evento aberto no Facebook com a petição do show, “Mac DeMarco – We want an extra show in Rio”, que em duas horas recebeu mais de 200 fãs confirmando presença.
O legal é que o Charles disse que a assessora do artista estava ciente da mobilização e da boa causa por trás da ideia, e que a mídia independente tinha que bombar uma ideia para ajudar os 100 mil (!!!) adeptos do trabalho do canadense na cidade. O importante é que o barulho funcionou e o músico, incrível, topou fazer um show extra na noite de hoje na Void General Store Barra (Av. Olegário Maciel, 130), com início por volta das 21h, DE GRAÇA! Os fãs que participaram do movimento vão arrecadar alimentos e donativos para as vítimas da enchente em Mariana. Classe.
Depois disso tudo, a pergunta que fica é: de onde saiu essa devoção toda ao grande DeMarco? Numa breve pesquisa, caí em um texto especial escrito pela banda indie O Terno para o Estadão, falando do show de sábado em São Paulo. Em um trecho, os músicos brasileiros tentam descrever essa comoção toda tipo assim:
“É bem curioso e divertido observar a máscara blasé do público hipster paulistano cair, revelando uma plateia carente e eufórica recebendo aos berros o canadense e sua banda excêntrica. A plateia era uma espécie engraçada de desfile das tendências hipsters, com um bocado de garotos “à caráter”, fantasiados de Mac DeMarco, com os bonezinhos, macacões, calças nas canelas e toda essa nostalgia anos noventa, inusitada até recentemente, que parece rodear a estética do canadense.
DeMarco é muito carísmatico. As canções são simples e bonitas, têm um astral muito bom. O clima brincalhão e despreocupado da banda como um todo dá leveza para um ambiente indie no qual a pose e o “blasé” costumam pesar e engessar tanto as coisas. Isso talvez ajude a responder à aquestão que fazemos assistir ao show dele: “Por que, de tantas bandas e artistas na cena indie mundial hoje, o Mac DeMarco realmente se destaca e parece especialmente cativante?”.
Parece que tem algo no clima, no pacote completo. As canções são pop, simples, bem feitas, bem tocadas, com uma estética própria, mas sem serem exageradamente enfeitadas ou recheadas de artifícios para, propositalmente, chamar a atenção. Isso casa com a estética dos clipes, os vhs freak, casa com o tipo de personagem engraçado que ele parece ser e com o show despretensioso.”
Despretensioso ou não e sendo um perfil total avesso ao Morrissey, por exemplo, DeMarco vai criando sua legião de fãs apaixonados, tal qual o inglês e cada um em suas devidas proporções. Mas, definitivamente, há algo acontecendo em torno deste jovem canadense que faz show vestindo macacão e boné.
O vídeo abaixo do show em São Paulo talvez explique melhor isso tudo. Ou, no fim das contas, confunda mais.
>>