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Não dá para negar que o mundo da música, ou o mundo de quem consome música, tem passado por um certo período de nostalgia cada vez mais latente. Desde a ressurreição de formatos como o vinil e a fita cassete, por exemplo, que estavam fora do mercado há quase duas décadas, mas que estão sendo cada vez mais procurados pela clientela, até as famosas “turnês de reunião”, que andam botando no mesmo palco algumas turmas que juravam nunca mais tocarem juntas, do Stone Roses ao Guns N’ Roses.
Em um cenário um pouco diferente, o pop brasileiro também tem seu case de “reunion” de sucesso: o da dupla Sandy e Junior.
Você pode estar estranhando que a Popload, que tem seu DNA voltado mais para o rock e a eletrônica (e diversas outras vertentes), para a CENA e o alternativo em uma visão mais ampla, esteja falando de um nome forte do mercado nacional que em tese não tem a nossa cara. Talvez não tenha mesmo. Mas, ao mesmo tempo, tem bastante. Afinal, é pop.
Fomos parar no show da não-dupla (a gente explica mais para o fim) em Belo Horizonte, no último sábado, para descobrir se vale mesmo todo esse hype em cima dos filhos do Xororó após 12 anos “separados”. Aqui, inclusive, cabe o parêntese de que eles não terminaram a carreira em 2007 tipo o Axl e o Slash tretando, ou os irmãos Gallagher, do Oasis, na base do ódio. Eles apenas resolveram encerrar um ciclo musical para darem início a outros novos ciclos, sem nunca, claro, terem que deixar de responder a cada entrevista na última década se dividiriam o mesmo palco outra vez na vida.
Mas para chegar ao show de sábado é preciso voltar cinco meses primeiro.
Quando a turnê de reunião da dupla foi anunciada em março deste ano, em coletiva que reuniu dezenas de jornalistas e parou a mídia nacional, inicialmente seriam 10 shows em 10 cidades, entre julho e setembro. Os ingressos evaporaram em tipo três horas. As filas online registraram mais de meio milhão de pessoas procurando por ingressos.
A primeira alternativa foi aumentar o número de shows em alguns lugares. No Rio, triplicou, sendo que um deles, o último, em 9 de novembro, será no mesmo espaço do Rock in Rio (para este ainda tem ingressos). Em São Paulo, uma apresentação no Allianz Parque virou quatro, com quase 200 mil ingressos vendidos. Não é exagero lembrar da procura por ingressos para um U2 da vida nessas horas, é?
Acabou que os 10 shows iniciais viraram 18, com dois deles sendo fora do país: um em Lisboa, na gigante Altice Arena, que em algumas semanas recebe a Billie Eilish, e outro no famoso Barclays Center, uma das principais arenas norte-americanas, em Nova York.
Belo Horizonte também foi afetada pela repercussão inesperada do show. Antes marcada para o ginásio Mineirinho, a apresentação foi logo transferida para um local duas, a Esplanada do Mineirão. Dizem, tentaram depois disso botar o show dentro do estádio, que quadruplicaria a capacidade original (de 12,5 para 50 mil pessoas), mas a falta de datas acabou impedindo. Os meninos não estão fáceis.
Pois bem. Cortando para a noite do último sábado.
A Esplanada do Mineirão recebeu um de seus maiores, senão o maior público desde a reabertura do estádio em janeiro de 2013. Sandy e Junior, mesmo sem qualquer música nova – as últimas gravações são tipo de 2006, 2007 – botaram quase 26 mil pessoas no espaço que já recebeu shows de gigantes internacionais como Foo Fighters, Black Sabbath e Aerosmith.
Apesar do espaço abarrotado, nenhuma ocorrência. É interessante perceber que o público, majoritariamente na faixa dos 25 aos 35 anos, vai para o show simplesmente para fazer essa viagem no tempo. E é justamente nesse desejo do público a que dupla acerta o tom da apresentação.
Antes mesmo do show começar, o sistema de som toca músicas apenas da época de ouro da carreira dos irmãos, na virada do século. Canções que tocavam na Jovem Pan ou apareciam sempre no Disk MTV meio que embalam e preparam o público para essa tal viagem.
Exatamente meia hora antes de Sandy e Junior subirem ao palco, começa nos telões uma contagem regressiva. A cada 10 minutos, aparecem imagens de arquivo pessoal registradas em VHS, quando eles, na faixa dos 5, 6 anos de idade, arriscavam cantorias na sala de casa. O público, claro, só vai se identificando e sendo jogado para dentro do show antes mesmo dele começar.
A apresentação em si dura cerca de duas horas e revisita todo o catálogo do duo, que se atentou para cada detalhe. A identidade visual do palco, que conta com quatro telões gigantes, é pautada em dezenas de triângulos iluminados que substituem o tradicional “&” que une as duplas até nas grafias de logomarca.
Em uma entrevista recente publicada pelo Jornal Extra, do Rio, Junior chegou a comentar que a substituição do “&” por dois triângulos (um sólido e outro transparente) que se entrelaçam significam “irmãos” e foi uma adaptação de um símbolo encontrado em hieróglifos gregos. “Já somos artistas individuais e estamos nos juntando para um projeto”, contou. A Sandy complementou: “Mesmo não sendo uma dupla, somos irmãos”.
Está aí a explicação para a “não-dupla”.
E a união dos dois irmãos que ultrapassa a admiração que um tem pelo outro, no palco, é nítida. O protagonismo é bem dividido. Enquanto Sandy imposta sua voz suave sobre um som potente de uma banda de apoio bem competente e, acredite, pesada, Junior mostra sua evolução e diversidade enquanto músico e, por muitas vezes, assume o centro do palco.
Embora seja uma reunião de uma dupla que “não existe mais”, é fácil notar que o gatilho do show bem produzido é segurado por uma fila de sucessos que nasceram adolescentes e amadureceram com dignidade, acompanhando milhões de fãs que fazem a história resistir ao tempo.
Para uma época em que a música pop brasileira tomou rumos um tanto obscuros, em que o batidão supera a melodia, o ar de nostalgia preenche uma lacuna que dá a impressão de ser maior do que parece. E, talvez, o segredo desse burburinho todo em cima da turnê “Nossa História” esteja exatamente aí: eles fazem um pop nacional que não existe mais.
Sandy e Junior se apresentam sábado e domingo no Allianz Parque, em São Paulo. Os ingressos estão esgotados.
SETLIST
Não dá pra não pensar
Nada vai me sufocar
No fundo do coração
Estranho jeito de amar
Olha o que o amor me faz
Nada é por acaso
Love never fails
As quatro estações
Aprender a amar
Imortal
Libertar
Eu acho que pirei
Medley (Beijo é bom / Etc… e tal / Vai ter que rebolar / Dig-dig-joy / Eu quero mais)
Enrosca
A gente dá certo
Você para sempre (Inveja)
Ilusão
Não ter
O amor faz
Cadê você que não está
Inesquecível
Super-herói (não é fácil)
A lenda
Cai a chuva
Quando você passa (turu turu)
Desperdiçou
Vamo pulá!
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ahahaha tá de brincadeira né?
Afeee q horror.
post pago?
Matéria foda. Parabéns
muito legal a matéria.
eu fico feliz de ler isso aqui pq meu gosto musical está muito na intersecção desse blog e Sandy e Junior. é engraçado pq meu visual, meus interesses e a maioria das outras coisas que eu ouço faz as pessoas ficarem intrigadas qdo descobrem que eu gosto deles, pq não combina com o resto. mas Sandy e Junior vieram antes de td q eu ouço hj.
é até curioso que a primeira vez q eu ouvi Strokes e fui me interessar pra ir atrás foi no video de bastidores de uma entrevista que o Lucio fez com o Junior para a Capricho (!).
mas é isso. claro que não é do gosto de todo mundo, provavelmente menos ainda quem lê esse blog, mas eles tem competência e história dentro do estilo deles, e só merecem respeito 😉
Lucio Ribeiro de volta aos bons tempos da Revista Capricho ahauahauhauaha. Vivi pra ver isso.