>>
* Em tweet curtido por Frances Bean Cobain e cheio de amor nas palavras, a banda americana Cigarettes After Sex agradeceu ontem, poucas horas de entrar em cena no tradicional e francês festival de Montreux, ter sua música “Apocalypse” tocada por Elton John em seu programa “Rocket Hour”, na Beats 1, rádio cool da Apple Music.
Se não é a música mais bonita do ano em suas peculiaridades, “Apocalypse” está ali perto de ser. Uma espécie de refrão com as poucas palavras “Your lips, my lips apocalyse” é a frase mais letal da música independente hoje, principalmente do jeito que é cantada, ou falada, de modo sussurrada pelo singular cantor Greg González (acima na foto, cantando em um show recente em Manchester, In, que costuma balbuciar suas letras cinemáticas ao microfone com a cabeça meio virada, algo torta, pendendo para um lado.
“Este foi Cigarettes After Sex, com ‘Apocalypse’, música do fabuloso e traiçoeiro álbum, chamado Cigarettes After Sex”, anunciou Elton John, depois de tocar a canção em seu delicioso programa na Beats 1. O “traiçoeiro” proferido pelo astro inglês radialista serve para os dois lados, o bom e o ruim, como se dissesse “contagiante”, “uma praga” que vai te deixar “doente”.
“Apocalypse” está no primeiro álbum desta banda de El Paso, no Texas, que decidiu seguir carreira morando no Brooklyn, em Nova York. Tudo a ver. O disco, homônimo, foi lançado não tem um mês, embora o Cigarettes After Sex circula pelo indie americano desde, sei lá, 2015, quando já tinha uma certa predileção propagada descaradamente pelas rádios indies cool americana. Enfim o álbum de estreia saiu. Lembro de ter conhecido o CaS através de uma cover aterradoramente linda de um clássico antigo de FM, a “Keep on Loving You”, do grupo REO Speedwagon, dos anos 70/80, dessas de comerciais de cigarro.
A obra inteira de Gonzáles, tantos os EPs pré-album quanto esse disco de estréia, parece feito por uma Lana Del Rey masculina, mas a Lana do início. Masculina por vezes andrógina. Músicas minimalistas, suaves, delicadas, que parecem trilha de filme (daí o “cinemática”), de seriado, músicas para ver.
Essa “Apocalypse” abriu o último “Morning Becomes Eclectic”, da rádio californiana KCRW, um dos programas indies de rádio mais legais do planeta, e isso tudo não é de bobeira. O Cigarettes After Sex “pegou”.
Tanto que a banda, além de tocar no festival de jazz suíço que era cool, virou cafona e agora está bem moderninho, em um mês e em torno do lançamento do disco, vem de show em festival grego, acumula datas em outros festivais europeus na linha Best Kept Secret e Rock Werchter, se apresentou dentro da loja Rough Trade em Londres e é uma das atrações da selecionadíssima lista do Pitchfork Festival de Paris, em novembro.
Tem mais músicas boas de onde vem essa maravilhosa “Apocalypse”, que tem um clima shoegaze-noir denso perfeito para tocar no Bang Bang Bar, em um final de episódio sinistro da série doida “Twin Peaks”, de David Lynch. As duas primeiras do disco, “K” e “Each Time You Fall in Love” são igualmente matadoras, já que é esse o tema associativo ao Cigarettes After Sex. Antes de “Apocalypse”, no álbum, tem “Sunsetz”, um revezamento de guitarra cortante e voz irritante de tão calminha, que forma outra canção absurda do álbum. “Sweet”, guitarrinha cortante e voz calma-irritante de novo, mas desta vez marcada por uma bateria simples, é outra coisa linda desse disco. No fim, para resumir, tudo música igual, tudo diferente.
Nesta semana, ainda no Twitter, o Cigarettes After Sex anunciou estava radiante por anunciar seu primeiro show na Rússia, em Moscou, agora dia 11, daqui uma semana. Vamos tentar imagens dessa apresentação.
Por enquanto, fique com a perturbadora “Apocalypse” ao vivo no NOS Primavera Sound, a versão portuguesa menor do festivalzão de Barcelona. Na sequência, “K” e a cover de “Keep on Loving You”, ambas ao vivo dentro da loja Rough Trade, no lado leste de Londres, há poucas semanas.
>>
Como diriam uns gringos chapados no Primavera Sound: a versão pornô do Beach House! Precisamente…