Lembra o duo The Knife. Metade dele toca hoje no Dekmantel, em São Paulo. Entrevistamos o produtor Olof Dreijer

Depois de cinco anos sem dar as caras em São Paulo, o festival eletrônico holandês Dekmantel retorna a essas terras hoje (sexta, 3) e amanhã (sábado, 4), co-produzido com o coletivo paulistano Gop Tun. Notório por sua atenção aos ritmos digitais mais complexos, o evento traz, na escalação de hoje, alguém que você pode conhecer de outras primaveras.

O nome Olof Dreijer te diz alguma coisa? Sim, é sueco. Nada? The Knife? Não, Olof Dreijer não é o designer das facas da IKEA, mas, junto com a irmã, Karin, formava a formidável dupla The Knife, de synthpop gostoso, eletrônico mas superconectada à cultura indie, que ali nos anos 2000 cabia lindo numa pista junto com, hum, Strokes e Franz Ferdinand. E que legou à posteridade o sensacional “Silent Shout”, de 2006.

Com o final da banda, em 2014, Olof Dreijer tocou outros projetos, mas voltou a fazer música em 2020. E hoje à noite, à meia-noite, já entrando no sábado, São Paulo poderá ouvir seu eclético set, uma mistura de influências eletrônicas de diversos continentes.

A POPLOAD chamou o jetsetter Eduardo Palandi, maior especialista em The Knife no planeta, para falar com Olof, sobre a retomada de sua carreira, kuduro e, claro,… The Knife.

 Por Eduardo Palandi

Popload – Dekmantel é um festival conhecido por colocar-se na vanguarda da música eletrônica. Enquanto isso, sua produção recente mostra conexões com as cenas eletrônicas da África, da América do Sul e do Caribe, com a impressão de que este é o momento mais experimental da sua carreira. Como isso influencia seu processo criativo e seus sets?

Olof Dreijer – Escuto todo tipo de música e meus sets representam isso. Gosto do inesperado e gosto que a audiência tenha surpresas, como gosto de combinar aquelas faixas que nunca foram combinadas antes. Sobre a produção musical em outros continentes, são encontros inusitados, e é a batida desses artistas, desses povos, que está expandindo as fronteiras da música eletrônica atualmente.

Popload – Encontramos no Spotify um set de sua autoria chamado “The Knife Birthday DJ Set”, com várias influências da diáspora africana: funk carioca, kuduro, batida, tarraxinha… o que você acha dessas novas ondas nos países de língua portuguesa?

Olof – São fantásticas, o groove delas é algo muito avançado e, quando você ouve isso, não consegue ficar parado. Há produtores muito jovens fazendo essas músicas e acho muito bacana tocar coisas deles. Para esse set, escolhi com base no meu gosto pessoal, mas é importante mostrar para as pessoas as origens desses ritmos; o techno, por exemplo, vem dos negros dos EUA, mas é difícil de lembrarem disso com tantos brancos na cena.

Popload – Houve poucos lançamentos musicais de seus projetos entre o fim do The Knife e os singles lançados a partir de 2020 e o remix de “Monument”, do Röyksopp. O que te fez voltar? Houve alguma ligação com a pandemia e mais tempo para fazer música em casa?

Olof – Houve um hiato de quase dez anos entre a última turnê do Knife e esses lançamentos. Passei esse tempo ajudando outros [artistas] a realizarem seus projetos e trabalhei numa escola de música para migrantes em Berlim. Foi no período da pandemia que retomei a minha própria produção, e focar na minha própria música ainda está sendo novidade para mim.

Popload – Seu último EP, “Rosa Rugosa”, tem três músicas com nome de flores, e elas passam uma impressão complexa: tanto parecem músicas finalizadas quanto pontos de partida para remixes, vocais e outras mudanças. Pode falar um pouco sobre como foi a composição?

Olof – Como disse no material de divulgação do EP, a ideia foi fazer algo simples, com mais emoção, mais calor – ao menos em relação ao que se tem gravado no Ocidente. Queria mais cor, fazer coisas mais melódicas. É curioso o que você disse, porque vejo o resultado como algo entre canções e dance music, algo baseado em melodias.

Popload – Falando sobre seu outro lançamento deste ano, o disco “Souvenir”, que explora um minimalismo ambiente com tambores de aço. Souvenirs são lembranças de locais pelos quais passamos, mas não estamos mais presentes. Como o título do álbum se relaciona com as faixas?

Olof – Bem, há muitos significados para a palavra “souvenir”, e essa foi a sua interpretação. O que pensei [com esse título] é que os tambores de aço foram tornados exóticos e reduzidos a algo simples, mas, em sua origem, eles eram usados para resistência política. A população de Trinidad e Tobago, de onde os tambores se originam, estava calada, e eles passaram a usar os tambores para fins políticos. O Ocidente, por inúmeras vezes, chega a um país e rouba coisas e elementos culturais e os leva como se fossem souvenirs…

Popload – Voltando ao seus sets: o que passa pela sua cabeça quando você está no palco?

Olof – Quando vou tocar, sempre fico bastante focado. Há elementos diferentes ao mesmo tempo; às vezes, há quatro faixas tocando ao mesmo tempo, por isso é preciso ficar bastante focado e, por isso, não fico sob efeito de nenhuma substância (risos). Tento relaxar e danço bastante, também.

Popload – Embora você esteja no Brasil para um DJ set, é impossível não perguntar: há algum plano para uma volta do The Knife, banda que tantas saudades deixou no público?

Olof – Não sei… nós [Olof e a irmã, Karin Dreijer] sempre temos essa possibilidade, mas, por enquanto, não há planos para isso.

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* O Dekmantel São Paulo acontece na Fábrica de Impressões, em SP. Ingressos disponíveis aqui.