Sabe aquelas festas em que você só tem que levar o que você vai beber? E, quando a festa acaba, sobra uma mesa cheia de misturas pela metade. Uma coca-cola de 2L meio sem gás já, restos de um limão mal cortado, uma vodka chique e um corote fluorescente todos ocupando o mesmo espaço, todos foram combustíveis responsáveis por garantir uma baita festa.
O novo disco da Lupe de Lupe, “Um Tijolo com Seu Nome”, lançado hoje pelo selo da Balaclava, é a tradução dessa mesa em músicas. Tem algo para todos os gostos. Punk, pós-punk, indie, até uma MPB distorcidinha. Dá para colocar pelo menos uma das músicas em qualquer tipo de playlist. Cada música traz algo para a mesa e é capaz de se encaixar em nosso momento individual.
E este era meio que o objetivo da banda mineira com esse seu sexto álbum de estúdio. Um disco para os tempos modernos com seus imediatismos, gratificações instantâneas e prazeres efêmeros que sustentam a sobrevivência de cada dia. É um trabalho que reflete muito os hábitos de consumo musical atuais, onde as pessoas ouvem playlists e não discos.
Com 24 faixas com duração entre 1 e 2 minutos e meio, cada canção tem um nome de pessoa e conta uma pequena história, cujo personagem pode ser real ou imaginário. Todos os contos são independentes, o que significa que a ordem é irrelevante. E o inesperado – um elemento muito presente na discografia da Lupe de Lupe – faz cada experiência se tornar única e customizável.
É preciso ficar atento ou você perderá mil pérolas casualmente jogadas pelas músicas. Tem críticas sociais veladas como na música Caê, quer dizer “Cauê”, sobre o “nosso monstro da MPB”. E as não tão veladas assim, como na música “Lucas”, em que as letras descrevem uma situação muito comum de racismo sistêmico: “Cantando aquela do Baianasystem num bairro gentrificado, o DJ toca brasilidades e na parede do bar tem mais preto do que na pista”.
Tem também os comentários inusitados sobre o cotidiano, como em “Marisa”, quando alguém comenta sobre uma pessoa que se jogou nos trilhos do metrô e o eu-lírico pensa: “Os condutores realmente precisam de suporte psicológico.”
O primeiro single do disco foi a faixa “Letícia”. E no X o integrante da banda Jonathan Tadeu disse: “A gente é muito corno de soltar a música mais leve do disco mais caótico da banda hahaha. Quem não gostou dessa talvez goste do resto. E quem gostou dessa talvez não goste do resto”.
Tendemos a concordar em partes. De fato “Letícia” é uma música que fica em cima do muro dentre essas 24 faixas, mas “Um Tijolo com Seu Nome” é um desses discos que realmente tem algo para todo mundo. Tem faixas mais pesadas, como “Ricardo”, que serão boas para quem prefere um som mais punk e curte fazer um moshpit nos shows da Lupe de Lupe. E tem as que são mais melódicas e suaves, como “Helena” e “Dalila”.
O fato é que “Um Tijolo com Seu Nome” é uma exibição das habilidades, que são muitas e ótimas, da Lupe de Lupe. O disco consegue, em sua dessincronia, sintetizar uma visão da sociedade atual muito nítida e que ressoará um pouco em todo mundo mundo que ouvi-lo.
***
* A foto do Lupe de Lupe usada neste post é de Tiago Baccarin.