Popload entrevista: Laufey. Cantora islandesa quer levar jazz e bossa nova à geração Z. Segundo álbum chega em duas semanas

A jovem cantora e multiinstrumentista islandesa Laufey lançou seu primeiro single, “Street by Street”, no pandêmico ano de 2020, e logo estourou. Seu álbum de estreia, “Everything I Know about Love”, só chegou em 2022, mas trouxe uma coleção deliciosa de músicas suaves, um som que ela chama de “modern jazz” – para nós, brasileiros, o nome disso é “bossa nova”.

A moça, que tem traços familiares chineses, o que constitui uma insólita mistura, por conta de sua chegada forte à cena atingiu alguns patamares incríveis, para quem tem agora apenas 24 anos.

Por causa de seu caráter erudito (às vezes colabora com a London’s Philharmonia Orquestra), ela já teve até programa de rádio sobre “Happy Harmonies” na BBC Radio 3. Na sua lista de “grandes feitos” também está um convite para tocar no programa do Jimmy Kimmel Live!, na TV americana.

Agora, já morando em Los Angeles, Califórnia, para tentar bombar sua carreira por outros lados, Laufey está prestes a lançar seu aguardado segundo disco, “Bewitched”, agora em setembro.

A Popload já ouviu e garante que as influências de bossa nova estão mais contidas, e as músicas trazem uma variedade de estilos bem maior, incluindo bedroom pop, trazendo uma pegada “clássica” para o indie.

Em entrevista, Laufey conversou com a Popload sobre o lançamento de seu “Bewitched”. E, claro, declarou seu amor à música brasileira.

capa de “Bewitched”

Popload – Em seu ponto de vista, qual a maior mudança do primeiro disco para este novo?
Laufey – Acho que me tornei uma compositora melhor, estou mais confiante no que crio, é um som mais maduro. Meu primeiro álbum era um pouco bobo – mas, sendo justa, eu também era mais jovem. Mas acho que a principal diferença é que utilizei mais as minhas influências de jazz e música clássica. No primeiro disco, ainda usava mais pop, e não sabia o quanto poderia ir para o jazz e para a música clássica sem perder meus ouvintes mais jovens, da Gen Z. Mas aí percebi que esse público Gen Z gostava mais das músicas que pareciam um jazz antigo ou que foram gravadas com uma orquestra. Então, neste disco, tive mais confiança para focar nessas influências.

Popload – Você quer alcançar um público além da Gen Z?
Laufey – Sim, quero fazer música para todo mundo. Quero criar músicas que possam unir gerações. As pessoas mais velhas têm cantores de jazz que os representam há anos, mas a Gen Z não tem, então é por isso que foquei nesse público. Meu objetivo é trazer algo novo e interessante para os jovens. A cultura pop é criada pelos jovens, por pessoas na escola e na universidade. O engraçado é que, quando toco na Europa, minha plateia geralmente tem mais de 40 anos de idade na média, mas na América e na Ásia é um público bem mais novo.

Popload – E isso mostra como o jazz perdura, que as pessoas se identificam com ele em qualquer época.
Laufey – Sim, pelo menos é isso que espero. Acho que muita gente da minha idade passou o fim da adolescência ou o começo dos seus 20 anos durante a pandemia, sem poder ir a lugar algum, e era uma realidade meio triste. O que quero é que minha música forneça algum tipo de fuga, e algo que não esteja preso a um tempo específico.

Popload – E há uma influência de bossa nova na sua música?
Laufey – Sem dúvida. Eu amo bossa nova e sempre penso em como fazer jus ao estilo, porque sempre falo sobre bossa nova e música brasileira. Quero que as pessoas saibam de onde esses ritmos, melodias e batidas vêm. Amo Astrud Gilberto, é uma das minhas cantoras favoritas – seu estilo de cantar é mais contido, não é exagerado, ao contrário de muitas coisas do jazz. Ela tem um disco chamado “Beach Samba” que me inspirou muito. Também estudei bastante Tom Jobim e Bonfá, para entender as raízes desse som, mas ainda sinto que preciso aprender. Um objetivo meu é ir ao Brasil e aprender mais. 

Popload – A loja de discos Amoeba, em Los Angeles, tem uma série chamada “What’s in My Bag?”, e você participou de um episódio. Fiquei esperando que pegasse algum disco de bossa nova para botar na sua sacola…
Laufey – Bem, eu estava andando pela loja e meio que pegava o que aparecia na minha frente. Acho que não vi a seção de bossa nova! Eu tenho tantas influências diferentes que fiquei meio perdida com as opções naquela loja. Mas eu vejo minha função neste mundo quase como uma educadora, querendo apresentar música aos jovens. E levei anos ouvindo para chegar à música que faço hoje.

Popload – E você tem a intenção de tocar no Brasil em breve?Laufey – Eu ainda não sei, estamos planejando o ano adiante, mas eu adoraria. A América do Sul é o último lugar que falta para eu ir, então estou animadíssima para fazer isso. Em todos os vídeos ou fotos que posto, tem alguém comentando “Come to Brazil!”. Entendo que já é uma frase batida, mas me sinto honrada. E sei que preciso ir ao seu país. 

Popload – E o que você gostaria de fazer com sua música no futuro?
Laufey – Ainda não sei. Acho que ela vai mudar conforme eu mudo como pessoa. No momento, sinto que ainda não terminei de fazer este estilo de música, mas no futuro penso em ir para folk, country ou até pop. Estou disposta a qualquer coisa, desde que seja minha voz e minhas composições. 

Popload – Na loja Amoeba você também pegou um disco da Taylor Swift. Ela também passou por diversos estilos.
Laufey – Sim, e eu a admiro muito. Acho fascinante como ela trouxe a música country para um público maior, depois foi para o pop, aí fez discos folk, voltou para o pop… E cada vez que ela muda, ela mantém os fãs antigos e pega novos. Acho que é incrível alguém ficar na liderança por tanto tempo e após tantas mudanças.

Popload – Quando você faz músicas novas, quem tem a reação que mais importa para você?
Laufey – Minha irmã gêmea.

Popload – Você tem uma irmã gêmea?
Laufey – Sim, somos gêmeas idênticas. Ela também é minha diretora criativa e toca violino comigo. Ela é a única pessoa no mundo que me dará sua opinião sem filtros. Então, quando ela tem uma reação positiva a uma música, sei que é boa de verdade. 

** O álbum “Bewitched”, segundo de Laufey, será lançado em 8 de setembro. Hoje ela soltou uma música inédita, do disco, a faixa “California and Me”, que tem participação da Philharmonia Orchestra de Londres.

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* As fotos de Laufey usadas neste post são de Gemma Warren