Finalmente está aqui, o aguardado oitavo álbum da banda americana Queens of the Stone Age, “In Times New Roman…”, que chega aos streamings daqui umas horinhas. Quase seis anos se passaram desde o último (e decepcionante) disco deles, “Villains” (2017), e estamos aqui para responder se conseguiram se recuperar criativamente.
Em 2013, quando o QOTSA lançou o fenomenal “…Like Clockwork”, a banda parecia praticamente invencível. Após cinco discos ótimos, “…Like Clockwork” foi aclamado pela crítica, e até hoje é considerado por muitos fãs como o melhor trabalho do grupo.
A expectativa para o que viria a seguir era imensa – os Queens continuariam invictos, ou acabariam tendo o primeiro lançamento ruim de sua carreira?
Infelizmente, “Villains” foi a segunda opção. Produzido pelo badalado britânico Mark Ronson, que sempre esteve mais para o lado pop das coisas, o álbum pecava tanto pela falta de ideias novas quanto pelo som fino e sem impacto. Parecia que a fonte criativa do QOTSA tinha se esgotado, como se tivessem entrado em um piloto automático, reescrevendo músicas que já tinham feito melhor antes.
Pois “In Times New Roman…” mostra que aquele ponto baixo na discografia foi apenas a exceção à regra. Em uma situação similar ao que aconteceu com os Foo Fighters em seu disco lançado neste ano (“But Here We Are”, que adoramos), parece que dramas e tragédias pessoais do líder do grupo alimentaram a sua criatividade musical, e o resultado é mais uma ótima coleção de dez faixas.
Josh Homme admite que não escolhe os singles de seus discos, que acha isso uma bobeira. Portanto, damos nossos parabéns à pessoa que selecionou os singles de “In Times New Roman…”, seja quem for, porque são as suas melhores faixas.
“Emotion Sickness” é o exemplo perfeito de uma música pesada com riffs deliciosos e um refrão doce; “Carnavoyeur” mostra que o QOTSA ainda consegue fazer um som diferente, lembrando The Cure e David Bowie; e “Paper Machete” é um soco no estômago, no melhor sentido possível. Se pudéssemos escolher mais dois singles, seriam “Obscenery” e “Negative Space”, ambas excelentes.
Tanto Josh Homme quanto Dave Grohl tiveram que lidar com muitas perdas de entes queridos em anos recentes, mas o disco do QOTSA é mais alimentado pela amargura do que pelo luto.
Nos anos pós-“Villains”, Homme se separou de sua esposa, Brody Dalle, gerando uma disputa judicial feia e amplamente divulgada, especialmente por Brody e seus defensores. Homme passou anos calado, e apenas com a proximidade do anúncio de “In Times New Roman…” decidiu se pronunciar, por meio de seus advogados. Para quem acompanhou essa história toda, o desgosto do músico com toda essa situação fica evidente na maioria das músicas do disco novo.
Sugerimos que você preste uma atenção especial nas letras deste álbum, mas destacamos aqui dois trechos bem relevantes.
Primeiro, na agressiva “Paper Machete”, Homme canta: “Now I know you’d use anything, anyone/ To make yourself look clean/ In sickness, no vows mean anything” [“Sei que você usaria qualquer coisa, qualquer um/ Para limpar sua imagem/ Na doença, nenhum voto tem valor”]. Tendo em vista que o cantor recentemente revelou que foi diagnosticado com um câncer, a conexão fica um tanto óbvia.
Já na música “Time & Place”, com um tom mais irônico, Homme faz uma analogia brilhante entre um cigarro e uma pessoa desagradável: “You’re such a drag/ All that’s left is a decent butt“, onde “butt” pode ser “bunda” ou “bituca”.
“In Times New Roman…” é o primeiro disco desde o primeiro do QOTSA que não contém músicas lentas. São 48 minutos quase exclusivamente ocupados por guitarras pesadas e agressão. Há momentos mais arrastados, como “Sicily” ou “Straight Jacket Fitting”, mas nada que pudesse ser chamado de “balada”.
Eles já fizeram baladas maravilhosas no passado, mas não fazem falta no contexto ácido deste disco, e há variedade sonora suficiente aqui para não causar tédio.
Se há um ponto negativo no disco, é a excessivamente acelerada “What the Peephole Say”, que lembra “Head like a Haunted House”, do último disco – e que por si só já parecia uma versão inferior de coisas melhores que fizeram no passado.
Como o próprio Josh Homme afirmou, este álbum fecha uma trilogia que iniciou em 2013 _ e que só agora foi anunciada como trilogia. “…Like Clockwork Villains In Times New Roman…”, com a quase-perfeição de sua primeira parte, o tropeço da segunda, e a conclusão redentora da terceira.
Já vimos outros fãs comentando isso, e temos que concordar: “In Times New Roman…” dificilmente será lembrado ao lado de um “Songs for the Deaf” ou de um “…Like Clockwork”, tipicamente empatados como os melhores discos da banda, mas tranquilamente pode ocupar um terceiro lugar, também empatado, quem sabe, com “Era Vulgaris” (2007).
Não estão mais invictos, mas ainda têm uma das discografias mais consistentes do rock.