Top 10 Gringo – A semana é toda indie. O Geese senta com gosto no primeiro lugar. E o Unknown Mortal Orchestra mete logo duas no pódio

Se já são confusas e agitadas as semanas que antecedem o Lollapalooza, imagine a semana do Lollapalooza. Pensa O DIA do Lollapalooza. Mas a gente se ajeitou e mesmo atrasando um pouquinho (muito!) conseguimos montar nosso Top 10 estrangeiro da semana. Ainda que com poucas obviedades ou lançamentos gigantescos. O que não é sinal de músicas fracas: chegamos em dez boas. E até uma que a gente está meio que criticando ali é uma canções que é boa na essência. Vê se você adivinha de qual estamos falando… 

Sabe a fase meio country do Primal Scream? Pense nela para curtir a onda do quinteto americano Geese, formado por amigos de escola em Nova York que meio que desistiram de desistir da banda quando o grupo começou a dar certo. Questão de deixar a faculdade para depois. E está dando tão certo que chegam ao verão (no caso, o verão deles) ao seu segundo álbum, que será lançado no dia 23 de junho. “3D Country” é meio épica, uma tom reforçado pela versão mais longa presente no vídeo da música, meio country (né?) e meio gospel. Mas também meio indie-desleixada (viaja na guitarra deles…), combinando bem com o visual dos garotos. Procure por fotos. Vale lembrar que o som dos caras tem a mão do produtor James Ford, que já ajudou o Arctic Monkeys a conquistar o mundo. Será que é a vez do Geese?  

Praticamente uma banda de um homem só, o Unknown Mortal Orchestra é a história de seu dono, Ruban Nielson. Durante a pandemia, Nielson conseguiu tirar um tempo precioso para cuidar da saúde, ele que é asmático foi se aquietar na sequidão dos desertos da Costa Oeste dos Estados Unidos. Essa atmosfera solar, quente, seca e caseira percorre todo o novo álbum da banda, seu quinto lançamento que leva justamente o nome de “V” (cinco em algarismo romano). Em todas as faixas, chama a atenção a tênue linha entre a produção quase lo-fi e um pop de alta-definição. Culpa muito da capacidade de Ruban em criar pequenos mantras melódicos capazes de deixar Paul McCartney bem enciumado – aliás, está aí a referência mais precisa para o som do Unknown Mortal Orchestra: “um pouquinho do álbum “McCartney I” com “McCartney II”. 

Anthony Gonzales, o homem por trás da sigla M83, soltou uma frase curiosa para explicar a capa bizarra do seu nono álbum, “Fantasy”, estrelado por alguém com uma máscara de um monstro. “Quero continuar sonhando e tendo fantasias sobre mundos que não conheço e criaturas que não entendo”, explicou ele se contrapondo a tendência/quase regra atual da ultraexposição de si mesmo. Tá certo o francês, que quase virou jogador de futebol, sabia? Os mundos fantásticos criados por M83 merecem ser explorados. 

Uma guitarra fazendo ruídos, uma linha melódica potente de baixo. A fórmula consagrada das melhores bandas indies da história está presente no novo single do quinteto Wednesday, que prepara o álbum “Rat Saw God”, seu quinto disco, para abril, que é considerado o “segundo”, a sério. O grupo americano está há algum tempo naquelas listas de promessas para o futuro e parece prontos a cumprir a expectativa. “TV Is the Gas Pump”, uma música que descreve as estranhas experiências de uma turnê, pode até não abrir um diálogo forte com o público, mas é um bom retrato de uma banda quando jovem. 

O histórico duo eletrônico de Manchester formado por Tom Rowlands e Ed Simons quebrou um silêncio de dois anos com um single novo que diz pouco perto do que já fizeram, não deve ser sinal de disco novo e, pior de tudo, faz o aquecimento perfeito para uma série de shows que rolam pelos EUA e seguem Europa verão adentro, passa pela Colômbia e parece que vai ignorar o Brasil. Ficamos brigados com Tom e Ed ou com os nossos produtores locais? Insira aqui aquele emoji pensativo.  

Outra dupla que a gente fica com birra é a norte-americana 100 Gecs, formada por Dylan Brady e Laura Les. Eles acabaram de lançar o louco, fritado, exagerado, amalucado (e por aí vai) “10,000 Gecs”, seu segundo álbum, tinham encontro marcado com a gente no Lolla e cancelaram a vinda. A decepção fica menor com as novas músicas, que cumprem seu papel de tirar o ouvinte do lugar. “757” parece resultado de um cruzamento de Dylan e Laura com outra dupla, mais famosa, o Daft Punk. Um encontro regado a um volume considerado de substâncias pouco recomendadas para a saúde, no caso. Mas pode escutar sem moderação. Nem precisa aumentar o volume para curtir – o disco é bizarramente alto mesmo quando você deixa o volume baixo. 

Já foram ver John Wick 4 no cinema? A gente nem tinha se ligado que a franquia já tinha chegado no quarto filme. Uau. Nossa queridíssima Rina Sawayama, dona de um dos álbuns mais legais de 2022, o precioso “Hold the Girl, está na trilha com “Eye for an Eye”. A canção escapa um tanto do estilo da Rina e parece mais uma leitura dela para a adrenalina proposta pelo longa do Keanu Reeves. Sabe a  maneira que os artistas saem um pouco de suas casinhas para produzirem as aberturas do 007? Só que estamos falando de um filme de porradaria mais frenético. Combinou com a maluquice da Rina Sawayama.   

Ficou bem estranho o novo disco do U2. “Songs of Surrender”, extensa coletânea de hits e quase hits reimaginados em versões semiacústicas, tinha tudo para ser um Acústico MTV de luxo do U2, mas deu tudo errado. Em vez de apelar à simplicidade do formato, Bono e The Edge, que tocam o disco quase todo em dupla, inventaram um acústico de estúdio requintado. Produção excessiva, muitas cordas, teclados e muita gente envolvida na confecção de cada versão. Resultado: nos distanciou do básico de cada canção. Ganhamos versões frias, pouco inspiradas. Quase o tempo todo sem baixo e bateria, Bono e Edge destroçam arranjos clássicos. É um meio termo esquisito: não chegaram ao despojamento na tentativa de retirar elementos das músicas, muito menos alcançaram o sucesso das versões definitivas de estúdio. Uma prova que o sucesso do U2 é resultado do seu quarteto jogando junto com um bom produtor do lado. Você pode tirar a prova disso quando o arranjo original é praticamente todo respeitado, caso desta belíssima “Electrical Storm”, que prova todos nossos argumentos. Perde de lavada para a versão de estúdio e nem soa mais leve ou mais simples.

Quer se apaixonar por uma música instantaneamente? Invista um seguidinho na Hariette. Ela é uma jovem compositora que foi para Nashville, escreveu umas musiquinhas e até já bombou no Tik Tok com uma delas. O Spotify a colocou em destaque em uma playlist que leva o nome de Sad Girls Starter Pack. É bedroom pop de primeira.     

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* Na vinheta do Top 10, .
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.