Top 10 Gringo – Olha a mistura: Shame em primeiro, Kali Uchis em segundo e Gracie Abrams em terceiro

Qual é a mistura boa da semana? Fomos de pós-punk, pop, house e até uma tentativa de funk dos ingleses do Gorillaz, em um som praticamente todo em português com a presença do Mc Bin Laden. Imagino até um encontro da Caroline Polachek com a Cláudia Leite nesta semana. Os detalhes a gente te conta no caminho. Só vem. 

Será que vale premiar quase que os nossos amigos do Shame? Vocês sabem o quanto amamos esses ingleses que até colaram no Bar Alto antes do Bar Alto existir e tal. Mas, sejamos justos, “Food for Worms” é mais um discaço da banda e merece o primeiro lugar. Terceiro lançamento do quintento de pós-punk, o álbum é uma busca muito consciente por abrir novas fronteiras, cavar novas sonoridades. Como eles próprios entregaram no longo texto que apresenta o disco, é sobre se tornar um pouco menos ensimesmado.  E quem já viu a banda ao vivo e sentia um pouco da falta da mesma presença absurda nas versões de estúdio deve ficar mais satisfeita com a produção mais na cara que eles alcançaram aqui. E escolhemos “Adderall” para manter viva nossa maior piada interna: a track tem a participação (inaudível) da Phoebe Bridgers.  

E, por falar em terceiros álbuns, aguardamos com ansiedade “Red Moon in Venus”, o próximo lançamento da musa colombiana/americana Kali Uchis, que promete se jogar legal em fortes emoções. “Moonlight”, este single que destacamos aqui, que tem uma levadinha Lana Del Rey tem hora, transborda desejo. Sexy sem ser vulgar, tipo assim? 

A sonoridade e a voz fofa do quase folk quase pop da californiana Gracie Abrams ajudam a esconder letras quase sombrias, como a de “This Is What the Drugs Are for”(em tradução livre, “É para isso que servem as drogas”). Daqueles contos musicados doloridos sobre separação, Gracie canta os dias desde o término do relacionamento. A faixa é uma das boas do recém-lançado “Good Riddance”, seu álbum de estreia, escrito e produzido em conjunto com Aaron Dessner, um dos fundadores de outra banda quase sombria, nosso querido The National. 

Já assistiu “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. Favoritaço do Oscar, o filme dos irmãos Daniel tem uma trilha sonora linda produzida pela banda experimental norte-americana Son Lux. Entre as músicas armadas pela turma para o filmão ficção/comédia, uma delas ganhou vocais de ninguém menos que a dupla David Byrne e Mitski, um dream-team de diferentes gerações do indie (dá para chamar o Byrne de indie, não? Fica a questão. Punk, pós-punk, que seja, agora ele é nosso). A música também concorre ao Oscar e pode tirar a estatueta de peso pesados como Lady Gaga e Rihanna. Para quem você vai torcer? 

Com letra parte em coreano e parte em inglês, “Done (Let’s Get It)” é mais um single bom que antecipa “With a Hammer”, primeiro álbum da produtora Yaeji, autora de uma house music saborosa, digamos. Sua música funciona tanto do “dançar para valer” até o “curtir de boa no fone durante uma caminhada”. De família coreana, ela que nasceu em Nova York e cresceu entre os dois países, lançou até aqui uma mixtape e alguns EP que tiveram boa repercussão. Ainda que o formato álbum seja tão maltratado pela audiência, capaz que essa primeira amostra mais concentrada do seu poderoso trabalho coloque ela de vez em evidência do jeito que merece.   

MC o quê? É, lá fora a turma está se assustando com o nome do Bin Laden entre os convidados da edição de luxo do novo álbum do Gorillaz, “Cracker Island”. Só os distraídos mesmo, até porque Bin Laden já fez seu nome lá fora. É questão de pesquisa. Mesmo que já tenhamos celebrado a boa parceria lá no nosso nacional Top 50, tamanha é a proporção da participação do Bin Laden em uma faixa quase toda em português cabe lançar a música por aqui também. Afinal, o Gorillaz é uma banda inglesa, dono da música, ainda que esse som tenha ficado mais nosso que deles. Tudo bem, desta vez passa, Gorillaz.  

Na caixa de singles lançada pelo Strokes, que contempla a primeira fase da banda, ou seja, basicamente os três primeiros álbuns, os destaques vão para os saborosos lados B. Tem um cover de Clash, tem a maravilhosa parceria com Regina Spektor em “Modern Girls & Old Fashion Men” e a inusitada colaboração com Eddie Vedder e Josh Homme do Queens of the Stone Age – detalhe, Homme está na bateria – para a bela canção ecológica de Marvin Gaye. “Mercy Mercy Me” é tão boa que deve amolecer o coração até de eventuais haters de Strokes. Que los hay, los hay.

E o “This Stupid World”, décimo-sétimo álbum do Yo La Tengo? A gente está amando curtir um bom mergulho nas ótimas canções do disco. Não é todo dia que uma banda chega tão firme com tanta estrada. Ou o inverso. Mas a faixa “Miles Away”, com seus 7 e tantos minutos, parece muito mais curta de tão relaxante ao passo que também esconde algo de soturno em sua instrumentação superbásica – um minimalismo que quebra o impacto do restante da obra, que tem mais cara de ter sido feita em uma garagem. “Miles Away” parece composta em um barco, alto-mar, à noite, na calma da escuridão total.

E, por falar em gente que não perde o fio da carreira, Dallas Green em seu City and Colour, onde coloca a prova seu lado mais doce, chega ao sétimo disco em março, “The Love Still Held Me Near”. Apesar do título, “Fucked It Up”, a música é uma visão até bem-humorada de como sonhos adolescentes de uma vida toda planejada “casar, ter filhos e viver feliz para sempre” não é exatamente “a vida real”, palavras do próprio Dallas Green.

Se você não sorri toda vez que percebe que o violão flamenco de “Sunset” tem uma melodia quase igual a de “Amor Perfeito”, hit brasileiro de Michael Sullivan, Paulo Massadas, Lincoln Olivetti e Robson Jorge, não sei mais o que pode te dar alguma alegria. Está longe de ser um plágio, mas esta que é uma das melhores músicas de “Desire, I Want To Turn Into You” deixa a gente imaginando um eventual encontro de Caroline com Cláudia Leite, uma das muitas vozes que gravaram “Amor Pefeito”. Quem sabe no próximo Carnaval.


* Na vinheta do Top 10, a banda inglesa pós-punk Shame.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.