Alerta Popload Festival. O gigante Pixies lança disco novo e fala à Popload (inclusive  sobre os shows no Brasil)

Uma das bandas mais importantes da história do rock alternativo está de volta – e para nós, no Brasil, dá até para dizer que essa volta é em dose dupla. Isso porque nesta sexta-feira, dia 30, chega às plataformas o novo disco dos Pixies, “Doggerel”.

E, em menos de 15 dias, o quarteto liderado por Black Francis baixa aqui no país para duas apresentações, trazido pela Popload. O primeiro show é no Rio, um Popload Gig, na terça 11 de outubro. O segundo é estrelando o Popload Festival, em São Paulo, na quarta, em pleno feriado de 12 de outubro.

“Estou muito animado, porque os shows são diferentes aí, as pessoas realmente mostram que estão curtindo o show”, conta o baterista Dave Lovering, que conversou com a dupla do “Programa de Indie”, Bruno Capelas e Igor Muller, a convite da Popload. 

Para quem for aos concertos, Dave promete que os Pixies vão enfileirar música atrás de música, sem muita firula. “Não somos antissociais, juro. Só queremos entregar o que sabemos fazer de melhor. E devo dizer mais: vamos tocar clássicos, como sempre tocamos, mas já que o disco está saindo agora vamos ter que tocar mais músicas dele. Acho que vou ter que aprender a tocar essas músicas novas”, brinca o baterista, que também é mágico nas horas vagas. 

Para ele, “Doggerel” é uma celebração em torno da música – tocar, gravar, sair em turnê, todas essas coisas que ficaram em suspenso nos últimos dois anos por conta da pandemia. “Aprendemos a dar valor a esta vida e não vamos esquecer o que perdemos nesses dois anos – mesmo se eu tiver de lavar minhas próprias roupas durante as turnês”, diz Lovering, em um tom animado que não deixa trespassar os 60 anos que ele já tem.

“É só muito doido que estamos juntos há tanto tempo. O tempo não significa nada para nós”, afirma, falando também em nome de Black Francis, Joey Santiago e a argentina Paz Lenchantin, que assumiu o baixo do grupo em 2015 e não largou mais. 

Na entrevista a seguir, Dave Lovering fala mais sobre “Doggerel”, o terceiro trabalho seguido da banda com o produtor Tom Dalgety, bem como sobre as expectativas para os dois shows aqui no Brasil.

De quebra, ele também fala um pouco sobre histórias do passado com o produtor Gil Norton, responsável pela trinca “Doolittle”, “Bossanova” e “Trompe Le Monde”, e revela qual truque de mágica faria para melhorar o mundo num instante se pudesse. 

Meu Deus, sobre o que é “Doggerel”? (risos). Bem… a história é que lançamos “Beneath the Eyrie” pouco antes de a pandemia começar. Estávamos fazendo uma pequena turnê quando a covid chegou e não deu para seguir fazendo shows. Tivemos de nos trancar em casa e ficamos esperando para voltar para a estrada. Dois anos se passaram e não conseguíamos mais sustentar uma turnê com “Beneath the Eyrie”. Essa foi a principal razão para “Doggerel” sair. O engraçado é que o Charles [Thompson IV, o nome de batismo de Black Francis] quase não fez músicas nesses dois anos. Ele fez tudo em dois meses, antes de irmos para o estúdio. Tínhamos uma porção de músicas, umas 40, e fomos para o estúdio. Tenho que dizer que “Doggerel” é um disco sobre esse período de dois anos que passaram e nos quais não podíamos tocar, gravar, fazer shows. De repente, poder voltar a tocar foi incrível. Passamos a valorizar demais o que é poder ser músico. Eu não me importo se precisar tirar os sapatos para entrar em um estúdio, por exemplo. Eu estava feliz demais em tocar, gosto demais disso, de todos os momentos. 

É maravilhoso. Quando nos reunimos em 2004 e ficamos juntos até 2011, percebemos que essa formação tinha durado mais que a primeira fase da banda. E foi surreal dar conta disso naquela época. Nós gravamos “Indie Cindy” e pudemos tocar coisas novas, não só as músicas que a gente fazia antigamente. Mas agora, como você diz, estamos em 2022. Não é mais surreal, é só muito doido que estamos juntos há tanto tempo. Poder continuar tocando e curtindo o que estamos fazendo… é ótimo. Estamos muito mais velhos, mas amamos tocar, amamos gravar. E, com Paz na banda, preciso dizer que ela não é mais uma novata. Ela faz parte da banda. Por ela ser uma mulher, nós três homens estamos nos comportando. E nós nos damos muito bem!. O tempo não significa nada para nós. 

É interessante. Quando começamos com “Come on Pilgrim”, era só uma demo gravada no estúdio Fort Apache, em Boston. E aquelas eram canções que nós tocávamos por aí em Boston. Era como andar de bicicleta: simplesmente sabíamos como tocar essas músicas. Foi um choque estar no estúdio pela primeira vez, mas sabíamos bem o que fazer com aquelas músicas, então foi bem fácil de gravar. Com “Surfer Rosa”, foi a mesma coisa. Mas conforme os próximos discos foram surgindo, “Bossanova”, “Doolitle”, “Trompe le Monde”, o processo de fazer esses discos foi se tornando cada vez mais rápido, porque tínhamos um contrato com uma gravadora e eles queriam colocar os discos nas lojas. Nós não tínhamos mais o luxo de poder tocar as músicas por aí, ao vivo, da forma como fazíamos antes. Não dava mais para entender antes o que fazer com cada música em cima do palco, então era um desafio aprender o que cada canção poderia ser. Foi ficando cada vez mais difícil, numa escala linear, até chegar a “Trompe l e Monde”. Para mim então era ainda mais desafiador, eu tinha que correr atrás, até porque não aprendo as coisas rápido. E, bem, em 2011 nós voltamos a gravar, fizemos “Indie Cindy”. A tecnologia tinha mudado, era tudo digital, mas isso não mudou a nossa ética de gravação. Gravamos com Gil Norton, que havia feito vários discos nossos nos anos 1980. Ali, levamos cerca de dois meses, e o processo foi muito parecido. Continuava difícil, porque tocávamos as músicas no estúdio, testando sonoridades, algo que não é tão bom quanto poder testar as canções ao vivo, no palco. 

Tem sido ótimo! Um produtor é como um embaixador, para mim. Ele não tem só que saber trabalhar do lado técnico, entender como funciona uma gravação, mas também tem que saber trabalhar com a banda. É preciso entender como a banda funciona, motivar o grupo, e claro que um pouco de repertório e familiaridade com cada pessoa ajuda. Estamos no terceiro disco com ele e, poxa, ele já faz parte da família, é praticamente um dos Pixies. Ele sabe como nós trabalhamos, temos uma ótima simbiose. E ele tem um ótimo fluxo de trabalho: conseguimos fazer com ele um disco em três semanas e meia. Com Gil Norton esse processo levava dois meses. E, para mim, como já disse, e especialmente nos últimos tempos, eu aprendo as coisas devagar. Em “Doggerel”, porém, foi mais fácil: recebi as músicas dois meses antes de irmos ao estúdio. E Tom fez uma coisa incrível. Ele colocou uma faixa-guia de baterias nas músicas. Achei que eram de verdade, mas eram só simulação, uma drum machine. Mas por causa disso consegui ter uma linha condutora na gravação, que me levou a entender melhor as músicas e me deixou mais confiante para entrar no estúdio. Entrei com uma confiança que faltou em vários discos dos Pixies e que ajudou “Doggerel” a ser diferente. 

Interessante, eu nunca soube que as bandas costumavam encerrar turnês no Brasil. Mas é muito legal tocar aí. Antes de fecharmos essa turnê, me perguntei por que não íamos tocar aí, cheguei até a perguntar ao nosso empresário. Não vou dizer que marquei os shows, mas… bem, fizemos três meses de turnê pela Europa, agora vamos passar pelos EUA e depois vamos direto para a América do Sul. Estou muito animado, porque os shows são diferentes aí, as pessoas realmente mostram que estão curtindo o show. É incrível. É algo que nos dá mais energia para tocar e estou ansioso para ver isso de novo. 

Normalmente, tocamos duas horas de música sem parar, sem pensar muito, sem falar com a plateia. Não somos antissociais, juro, só queremos entregar o que fazemos de melhor.  Claro, vamos tocar alguns clássicos, como sempre tocamos. Nessa turnê na Europa, tocávamos três ou quatro músicas de “Doggerel”, mas já que o disco está saindo agora, vamos ter que tocar mais dele. Acho que vou ter que aprender a tocar essas músicas novas (risos)

É ótimo poder sair por aí em turnê. Fiquei esperando dois anos para voltar a tocar. Em casa, eu tenho mulher e filhos, mas não costumo passar muito tempo com eles porque estou sempre em turnê. Fiquei meio maluco em casa durante a pandemia… E, passados dois anos, ainda estou casado, o que eu acho incrível! Acho que esses dois anos serviram para mostrar para mim e para o resto da banda como é bom poder tocar, gravar, estar em turnê. Aprendemos a dar valor a essa vida e não vamos esquecer o que perdemos nesses dois anos – mesmo se eu tiver de lavar minhas próprias roupas durante as turnês. 

Ambos são incríveis! O que acontece é que, quando fazemos shows solo, queremos fazer festivais. E quando fazemos shows em festivais, ficamos com vontade de fazer nossos shows solo. É sério! Cada um deles tem suas vantagens. Nos nossos shows, temos o controle – e é ótimo ter o controle. E em festivais podemos estar com outras bandas, o que é muito legal. O importante é fazer um pouco de cada em uma turnê: se fizermos só shows solo, ficamos entediados e acabamos com saudade de festivais… e vice-versa. E sei que não estou sozinho. Toda a banda pensa assim. 

Eu só queria que todo mundo se desse bem com os outros. É isso! As pessoas precisam conviver bem, não consigo pensar em outra coisa. Tem muita coisa doida acontecendo hoje, guerra, conflitos religiosos… Se eu pudesse estalar os dedos e resolver, seria isso: todo mundo convivendo pacificamente. 

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* Abaixo, o álbum novo dos Pixies, “Doggerel”:

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* Bruno Capelas e Igor Muller são apresentadores do espertíssimo “Programa de Indie”, que vai ao ar às sextas-feiras na Rádio Eldorado às 23h, para depois, à 0h, cair no Spotify. E, veja só, o convidado desta sexta deste programa lado B dos bons é um tal de Lúcio Ribeiro, falando de Pixies e Popload Festival no geral, o que completa esse ciclo que tem esta entrevista.

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