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* Monstro da guitarra do nosso tempo, o multi-agitado músico e empreendedor americano Jack White começou seu plano de dominação de 2022 com o lançamento, nesta sexta, de um de seus dois álbuns programados para este ano.
“Fear of the Dawn”, o “disco de garage rock”, marca a volta de White ao estúdio depois de quatro longos anos. Daqui três meses, sai o “Entering Heaven Alive”, o “disco maneiro”, mais composto de baladas acústicas ou quase isso.
Sexta passada não foi apenas um disco que Jack White lançou. Ele se lançou, também, a mais um casamento, com Olivia Jean. Ele aproveitou que estava iniciando sua tour “Supply Chain Issues Tour” no Masonic Temple Theatre, em Detroit, pediu a mão dela e casou, tudo na mesma noite de show.
Sendo que horas antes ele foi ao estádio de basebol do Detroit Tigers tocar o hino americano na guitarra, antes de uma partida do time local.
Bem, como o negócio aqui é música, a gente volta a falar de “Fear of the Dawn”, o primeiro disco lançado em 2022, que saiu nesta sexta. E, para esmiuçar o que esse novo álbum representa, chamamos o poploader Fernando Scoczynski Filho, especialista em Jack White. Que disse o seguinte…
Nem parece que se passaram quatro anos desde a última vez que falamos de um lançamento solo de Jack White. Em 2018, saiu o ótimo “Boarding House Reach”, e comentamos que era um alívio ouvir um trabalho que, finalmente, representava toda a excentricidade característica da persona pública do guitarrista/cantor/baterista/etc. Agora, quatro anos depois, temos “Fear of the Dawn”, quarto trabalho solo de White, e apenas o primeiro de dois que ele deve lançar em 2022. Será que ele manteve o nível tão alto quanto esperávamos?
Além dos seis discos de estúdio dos White Stripes, Jack White já tinha completado três “trilogias” com seus outros trabalhos principais (3 LPs do Dead Weather, 3 dos Raconteurs e 3 solo). Em 2018, atingiu um ápice criativo com “Boarding House Reach”; em 2019, teve seu momento mais chato e previsível com “Help Us Stranger”, terceiro LP dos Raconteurs. Agora, após essa eternidade de tempo distorcido da pandemia, um quarto trabalho solo traz consigo expectativa e apreensão. É o 16º disco onde White aparece como um dos principais compositores. Quem consegue manter um nível alto por tanto tempo?
Já adiantamos: “Fear of the Dawn” tem um som autêntico, e foge do rock padrão. Não é a melhor coisa que ele já fez, mas também passa longe de ser a pior.
Como já falamos, “Fear of the Dawn” é o primeiro de dois discos de Jack White em 2022 – o outro, “Entering Heaven Alive”, está marcado para julho. Após uma audição, já podemos presumir como é a organização sonora dos dois trabalhos: este primeiro ficou com todas as músicas pesadas e elétricas; o segundo vai ficar com as baladas acústicas. Isso leva a uma das características mais marcantes de “Fear of the Dawn”: são 40 minutos barulhentos, agitados e algo cansativo. Felizmente, as canções escapam da monotonia graças às constantes trocas de ritmo e andamento, herança bem-vinda das quebradas quase jazzísticas de “Boarding House Reach”.
Essa ausência de pausas não significa que não há variedade de sons no disco – cada uma das 12 faixas traz um estilo de rock singular. A abertura “Taking Me Back” é o clássico pesado quase-Led-Zeppelin, e logo é seguida pela acelerada faixa-título, que alguns ouvintes terão que fazer força para não associar a “Woman”, do (infinitamente inferior na hierarquia do rock) Wolfmother. Em “Hi-De-Ho”, temos o desvio para o hip-hop mais marcante e bem-sucedido da carreira de White, graças aos versos do venerado rapper Q-Tip (A Tribe Called Quest). “Into the Twilight” empresta a batida e o riff de “Robot Rock”, do Daft Punk, que originalmente nem é do Daft Punk (procure “Release the Beast” em seu serviço de streaming aí, agora!!). “What’s the Trick?” traz White fazendo sua melhor imitação de Captain Beefheart, e é maravilhosa. Nada aqui parece totalmente original, e é exatamente por isso que é legal.
Gostamos quando Jack White faz rock, e ele continua sendo muito bom nisso. Infelizmente, a audição deste disco não é tão variada quanto qualquer de seus três lançamentos solo anteriores, nem de perto. Enquanto “Boarding House Reach” tinha cara de “álbum” mesmo, redondinho, para ser apreciado do começo ao fim, este aqui parece que vai alimentar playlists, com fãs escolhendo suas favoritas e esquecendo o resto. Não que isso seja ruim, claro, mas ficamos imaginando: se este trabalho foi gravado simultaneamente ao (presumivelmente) acústico “Entering Heaven Alive”, não poderiam ser lançados como um disco duplo, mesclando as músicas? Um tracklist mais longo, porém mais equilibrado? Saberemos melhor em julho.
“Fear of the Dawn” é um disco que deve receber a atenção de qualquer fã de Jack White. Aliás, quem acompanhou a carreira dele até aqui já deve ter terminado sua terceira audição muito antes de este texto ser publicado. Não é o trabalho mais essencial que ele já criou, mas merece crédito por evitar cair na mesmice protocolar de fazer um rock “basicão”, como aconteceu com o último dos Raconteurs. No mínimo, algumas dessas músicas tornarão os setlists de White ainda mais fantásticos.
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* A foto de Jack White que ilustra a chamada para este post ali na home da Popload é de Paige Sara.
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