SEMILOAD – Ainda sobre a Anitta e a música número 1 mundial dela

* Anitta deixando o Coachella de quatro e ainda fazendo twerk. Anitta levando Snoop Dogg, Diplo e a cantora-rapper Saweetie para o palco. O enorme The Weeknd citando a bunda da Anitta no show headliner dele. Anitta deixando o grande radialista Zane Lowe sem fôlego em entrevista ao vivo para o programa dele na Apple 1.

A gente ainda está meio tonta com tanta coisa que a Anitta anda armando nestes últimos dias e olha que ela ainda tem o segundo show do Coachella Festival no próximo final de semana para sacramentar de vez sua internacionalização.

Mas queremos voltar àquele assuntinho sobre a música “Envolver” e a “trama” para a música ser a mais ouvida do mundo.

Queremos é modo de dizer. A Dora Guerra que pilota esta Semiload a partir da ótima newsletter dela, a Semibreve, é quem quer. Então…

Eu ia tentar sair contra a onda e falar de um assunto que não fosse a Anitta nestes últimos dias. mas não tem jeito: no meu Twitter, no Twitter dela, no de todo mundo, só de fala dela; não só no dia de lançamento do álbum da artista, mas há semanas – em parte, por uma estratégia surpreendente e histórica de tornar “Envolver” a música número 1 do Spotify.

A Anitta fez história, quebrou recordes nunca alcançados, aparentemente chegou lá: com a faixa, um reggaeton lento e sexy acompanhado de um ótimo (e dificílimo) desafio no TikTok, a artista pegou número 1 no ranking global de músicas da principal plataforma de streamings do planeta. Um feito inédito, que só alguém como ela conseguiria nessa “velocidade”.

Acontece que uma façanha assim, que envolveu mutirões e mutirões de brasileiros ouvindo a música diariamente, gera questionamentos. Vale ressaltar: nem sempre essas dúvidas são uma forma de invalidar a conquista da cantora, mas podem levantar dúvidas quase naturais. Eu mesma os tinha. Afinal, nessa luta de Anitta para conquistar o mercado internacional (estadunidense), com a dificuldade em decifrar o que está de fato tocando nas rádios por lá e o apoio brasileiro nessa onda, não tem como não se perguntar: e aí, já deu certo?

Em outras palavras: esse Top 1 global é global mesmo ou é brasileiro?

É nessa pergunta – a pergunta de ouro – que a questão fica mais complexa.

A “Folha de S.Paulo”, a UOL e afins fizeram essa pergunta. Mais do que isso, obtiveram alguma resposta: relataram que o resultado era, entre outras coisas, causado por um “hack” no algoritmo por parte dos fãs da Anitta. Por exemplo: ao criar mais de uma conta e várias playlists com “Envolver”, isso definitivamente ajudaria os números. Investigando um pouco mais, os jornalistas chegaram a uma conclusão que não era de fato tão inesperada – a maior parte dos streams vinha, sim, do nosso país.

Assim como eu acho normal levantar a dúvida, acho normal o jornalismo respondê-la (não curto, inclusive, as respostas na linha defensiva-ofensiva que a artista dá aos jornalistas, mas isso é outra história). Temos que entender que não estamos habituados a esse tipo de coisa como a galera da gringa está.

O ponto é: nada de realmente bizarro ou profundamente errado aconteceu no caso da Anitta. Resumindo, tudo faz parte do jogo. Ressalto aqui para você um detalhe, como fiz umas edições atrás: as grandes gravadoras são acionistas do Spotify e, portanto, o negócio já tem um sistema não necessariamente transparente. Será que é tão errado hackear uma plataforma já entregue à indústria? Fãs de K-pop (leia-se: BTS) sabem disso há muito tempo. O negócio é dar uma driblada no algoritmo e ter seus truques, o que não deixa de ser uma manifestação significativa de que aquele artista tem ouvintes dedicados.

“O consumo de música nunca foi orgânico. Se hoje tem “hack”, antes tinha jabá/payola” – Dani Ribas, no Twitter

Ou seja: o número 1 da Anitta tem que ser interpretado com cuidado por todos os lados. Em um ponto, é importante lembrar que nenhum número do spotify é realmente confiável. Por outro lado, um número 1 é um número 1 – se qualquer um fosse capaz de conseguir, todos conseguiriam. Um hack é uma forma de contornar o sistema, sim, mas não é o mapa do tesouro. Ele depende de muita gente por conta disso, a fim de apoiar um artista. E, se você pensa profundamente sobre o assunto, o topo daquela lista começa a se tornar uma recompensa até pequena para tamanho esforço.

Por fim, o principal: esse número 1 não diz nem que a Anitta tem a música mais ouvida no mundo, nem que a Anitta não está bombando lá fora. É um dado que existe mais como causa do que como consequência, em uma lógica bem maluca: uma forma de dizer “Ei, mundo, se você não estava prestando atenção, deveria”.

Não se pode ignorar a artista ou a música que pega o topo de uma lista como essa. E aí, se esse resultado foi autêntico (coisa que praticamente inexiste), essa é na verdade a menor das questões.

(Saiu uma carta aberta da assessoria da Anitta sobre o assunto, inclusive, caso te interesse).

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* Dora Guerra tem os tweets número 1 lá no perfil dela, o @goraduerra.

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