Top 50 da CENA – Elza Soares ressuscita música do Chico. Só podia ser primeiro lugar. E tem a N.I.N.A. e o Tim Bernardes dividindo o topo

* Até há pouco tempo, os artistas andavam respeitando com muita fidelidade um acordo da indústria musical de lançar as novidades todas na sexta-feira. Isso anda cada vez mais quebrado. Terça, quarta, quinta… É novidade todo dia. Um volume de lançamentos que é tão absurdo que entendemos perfeitamente quem se sente sem tempo para tanto – até a gente que se dedica só a escutar um pouco de tudo fica querendo um pouco mais de tempo, de calma. Mas não tem jeito. Temos que lidar com o mundo que é dado. Mas você não precisa disso: a curadoria vem na missão de só te deixar a par das mais quentes. E nesta semana a coisa está realmente a todo velocidade, se liga:

1 – Elza Soares – “Meu Guri” (Estreia)
Elza Soares se encontrou muitas vezes com “Meu Guri”, canção de Chico Buarque, ao longo de sua carreira. O “match” mais recente foi pouco antes do dia 20 de janeiro. Ela interpretou “Meu Guri” no Teatro Municipal de São Paulo para um DVD ao vivo. Elza não estava sozinha. Ao seu lado, o pianista Fábio Leandro. Entrega intensa em cada nota, em cada olhar dividido pelos dois. Sem ar de despedida. Afinal, seu tempo é agora.

2 – N.I.N.A. – “Anna” (Estreia)
Muito massa ver o sucesso do álbum de estreia da N.I.N.A. Artista do Rio de Janeiro, Cidade Alta, N.I.N.A. chamou atenção pelo singles, por sua pesquisa musical e sua história. Em 2020, ela contou para a “Rolling Stone” um pouco desse processo: “Deixei de ser a Nina que eu sou para virar a Nina acadêmica, que sempre tinha que estar dando o melhor para ser aceita. Eu meio que tinha me perdido em toda aquela fantasia”. Esse reencontro está presente em “Pele”, seu primeiro álbum, onde ela se apropria sem medo do drill, gênero mais atrelados aos caras e a temática da violência. Da faixa “Anna”, seu nome, até “N.I.N.A.”, seu nome artístico, ela abre uma papo sem firula sobre sua história, sexo, rolê e outras “cositas más”. Se os fãs estavam ansiosos pelo lançamento, imagina ela e sua espera bem mais longa: “24 anos para ser eu sem medo”, escreveu no Instagram.

3 – Tim Bernardes – “Nascer, Viver, Morrer” (Estreia)
Tim Bernardes, um terço da banda O Terno, dá o primeiro passo em direção ao seu segundo álbum solo, enquanto se apronta para passar um tempo pelos Estados Unidos em turnê abrindo para o famoso grupo indie Fleet Foxes. Ele vai ser a atração inicial nada mais nada menos que 17 shows da banda americana pela Costa Oeste. Na primeira amostra do novo trabalho, Tim segue com seu jeito bem particular de optar por uma confecção sonora que respeita muito uma certa descompressão. É sua recusa em participar da guerra por mais volume. Interessante que isso dialogue um tanto com a letra, que vai por um rumo mais filosófico sobre a vida.

4 – Saskia – “Quarta Obra” (Estreia)
“Quarta é um martelo nas paredes, é as cinzas do reprocesso e realocação da criatividade. Uma mistura das dimensões, salpicada de ironia, marinada no conforto. Para desentupir todos os desejos afogados, hackear o deboche do grito isolado”. Bem que a gente queria ter essa habilidade para descrever o som da Saskia, mas a belíssima descrição é da própria Saskia, que chega arrebentando no conceitual EP surpresa “Quarta”.

5 – Rashid – “Pílula Vermelha, Pílula Azul” (Estreia)
Com versos de Chico Science na abertura de seu novo single, Rashid coloca em campo uma nova fase de sua carreira. E chegou muito bem. Em uma alusão a “Matrix”, dois personagens são apresentados. Um que enxerga a realidade, outro acredita na farsa. Para esse segundo personagem, o próprio Rashid cria uma nova voz. E o resultado é tão impressionante que deixou a gente procurando onde que estava o feat. da faixa. Não tem feat. coisa nenhuma. É uma atuação dentro da música. Trampo nota 10. Outro level. Fica até na nossa imaginação a ideia de ele sabotar o sistema emplacando esse playboy inventado como artista real. Muita gente ia acreditar.

6 – Otto – “Tinta” (Estreia)
Em “Canicule Sauvage”, seu sétimo álbum, Otto revê a música eletrônica. Tudo por conta de uma parceria sua com o GarageBand, app do iPhone. A novidade nessa “amizade” é que Otto deslocou o app do mero espaço de anotação de ideias para o lugar de uma ferramenta efetiva na criação, tanto que é a primeira vez que ele assina uma produção própria. Ainda assim, isso não excluiu a presença orgânica. E essa mistura está muito bem calibrada nessa parceria com Tulipa Ruiz, parceira na escrita e no vocal.

7 – Assucena – “Ela (Citação a Menina Dança)” (Estreia)
Esta canção de Aldir Blanc e César Costa Filho foi gravada em 1971 por Elis Regina. Ainda que seja o nome do álbum lançado pela cantora naquela ano, talvez as pessoas se recordem mais de outras músicas do disco: pense em “Madalena” ou “Black Is Beautiful”. Menos lembrada, ainda é uma canção sobre a melancolia da separação. Assucena em seu segundo single solo após o fim d’As Baías recupera essa bonita peça, lustra e dá uma nova aparência à canção, tirando um pouco do seu ar melancólico: quando a personagem se vê sozinha agora há menos solidão e mais um rico encontro consigo mesma.

8 – Emicida – “Gueto” (Estreia)
O Emicida fez um show no popular game Fortnite, um dos games mais populares do momento para quem não é do ramo. E as versões das músicas do show viraram um interessante EP com alguns clássicos repaginados. Delícia escutar uma versão turbinada de “Gueto” ou a clássica “Triunfo” rimada com outra pegada. Um vacilo? A versão de “Levanta e Anda” não trouxe aquela repetição final que rola só na versão ao vivo. Teria ficado massa.

9 – Dieguito Reis – “Decolagem” (Estreia)
O músico baiano Dieguito, que um dia foi da baterista da banda Vivendo do Ócio, acaba de lançar mais um de seus trabalhos em que assume seu protagonismo e bota seu som a caminho de um certo “groove” que passeia entre o hip hop, o samba-reggae e o indie. Esta faixa “Decolagem”, que abre o álbum “Verão Na Cidade Sem Mar”. Ela pende mais ao rap, um rap branco guiado por um rock que lembra as misturas sonoras do extinto grupo paulistano dos anos 80 G.U.E.T.O., o mais próximo que chegamos dos Beastie Boys. “Verão Na Cidade Sem Mar” pode ser irregular em suas variações. Mas quando Dieguito acerta no groove, o disco decola.

10 – Amen Jr. – “Mysterio” (Estreia)
Michael? Os indies do Amen Jr. continuam em seu novo single com sua capacidade máxima de entregar um balde cheio de nostalgia oitentista. As dicas vão das gritantes referências ou em detalhes mais sutis, como o esquecido “fade out” em uma música. Repara.

11 – Gab Ferreira – “Me Encontra Lá 🙂 ” (1)
11 – Bebé – “Saltos de Realidade” (2)
12 – Jennifer Souza – “Ultraleve” (3)
13 – Walfredo em Busca da Simbiose – “Netuno” (5)
14 – Gorduratrans – “Enterro dos Ossos” (6)
15 – Gabriel Ventura – “Nada pra Ensinar, Muito pra Aprender” (7)
16 – AIYE – “Isadora” (8
17 – Lupe de Lupe – “Brasil Novo” (9)
18 – Holger – “Beaver” (10)
19 – Glue Trip – “Lazy Days” (com Arthur Verocai) (11)
20 – Sérgio Wong – “Filme” (12)
21 – Radio Diaspora – “Ori” (13)
22 – Anitta – “Maria Elegante” (com Afro B) (14)
23 – Devotos – “Periferia Fria” (com Criolo) (15)
24 – UANA – “Vidro Fumê” (16)
25 – Cícero – “Sem Distância” (17)
26 – Rico Dalasam – “Expresso Sudamericah (Ao Vivo no Encontro DDGA)” (18)
27 – Karol Conká – “Fuzuê” (19)
28 – Florais da Terra Quente – “Suco de Umbu” (com Chapéu de Palha) (20)
29 – Narcoliricista – “Bem Pertin” (21)
30 – Marina Sena – “Temporal” (22)
31 – LAZÚLI – “Pomba Gira” (23)
32 – Maglore – “A Vida É uma Aventura” (24)
33 – Valciãn Calixto – “Aquele Frejo” (25)
34 – Helo Cleaver – “Café com Leite” (26)
35 – Messias – “Avenida Contorno” (27)
36 – Labaq – “Dóidóidói” (28)
37 – Pabllo Vittar e Rina Sawayama – “Follow Me” (29)
38 – Jota.pê – “Preta Rainha” com Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano (30)
39 – Dududa – “Vou Seu” (31)
40 – Luneta Mágica – “Além das Fronteiras” (32)
41 – Vanguart – “Amor” (33)
42 – HENRI – “Coração de Plástico” (34)
43 – Agnes Nunes – “Não Quero – A COLORS SHOW” (35)
44 – Diogo Strausz – “Deixa a Gira Girar” (36)
45 – Zudizilla – “Oya” (37)
46 – Coruja BC1 – “Auxílio Emergencial do Rap” (38)
47 – Duda Beat – “Dar uma Deitchada” (39)
48 – Larissa Luz – “Brinco Só” (40)
49 – Monna Brutal – “Hashtag (com Mu540)” (41)
50 – Afrocidade – “Toma” (42)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, ela, Elza Soares.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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