SEMILOAD – Conexão Belory Hills. Um olhar mineiro rápido sobre a rica cena mineira

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* Vira e mexe a Popload resvala em alguma boa coisa vinda de Belo Horizonte. Ou, para os criativos produtores da cena local, Belory Hills. Tem um hip hop bacana, vai ver, tá lá: da capital de Minas Gerais. Olha que indie-folk bonitaço, trabalhado profissionalmente: mineiro. Que banda indie barraqueira interessante, de onde é: BH. Festinha cool, coletivo esperto, selo inventivo, festival em apartamento, estúdio nas montanhas? A terra do Keno e do Hyoran tem. Daí que nos tocamos que temos a maior representante da cena mineira com olhar sobre o mundo pop aqui mesmo, na Popload. Ela, a “creative” mineira Dora Guerra, da newsletter Semibreve, nossa parceira semanal deste espaço aqui. Como estamos sentido bons ventos musicais vindo de Belo Horizonte, resolvemos perguntar, direto e reto. O que está pegando aí, Dorinha?

Captura de Tela 2021-04-16 às 1.10.15 PM

Eu não sou natural de Belo Horizonte, nem completamente versada na música daqui. Demorou um tempinho (alguns anos) para que eu começasse a entender como a banda toca – mas quando eu descobri, a cidade se tornou outra.

Sinto que estou sempre correndo atrás de conhecer o que realmente acontece e alguém sempre me escapa: nos últimos anos, o que não falta é coisa nova e boa. Sempre com aquele jeitinho Belory Hills de ser – todo mundo é meio seu amigo, conhecido do seu conhecido ou inimigo do seu primo. Em BH, a regra dos seis graus de distância se torna um grau só.

Aqui não só não tem show, como já não tem mais casa: perdemos, entre outras coisas, a nossa querid’A Autêntica. Mas, de alguma forma, a música de BH não só resiste, comos consegue permanecer inventiva. E tem muita coisa gostosa surgindo.

Por isso (e a pedido do Lúcio), segue um pequeno tributo à música de cá – considerando só lançamentos de 2021, para ficar mais fácil. Tem para todo mundo. Olha só:

Para quem quer coisa nova (ou coisa velha com cara de nova), tem muito projeto incrível – muita música “daquele naipe”. Um deles é o Qnipe, um projeto de quatro músicos que dão uma carinha contemporânea e descolada a clássicos dos anos 2000. O resultado é impossível de ignorar. Tem que ouvir “Tremendo Vacilão”, com as talentosas Clara x Sofia, que é puro bom humor com vídeo gravado em Cyber Shot.

Aqui também tem festa para quem é de festa. A parte eletrônica da cidade vinha florescendo (às vezes aos trancos e barrancos, mas vinha!) e os rolês estavam transformando ex-indies em clubbers. Para apaziguar o coração de quem passava a noite na pixtinha, a festa e selo CurraL lançou a Curral01, primeira coletânea de música eletrônica autoral de Belo Horizonte. E tem faixa com nome de lugar, que acompanha uma imagem mental vívida das manhãs pós-festa no centro da cidade. Coisa com som de hoje, coisa com som de amanhã, e coisa com som oitentão, o que é superontem, hoje e amanhã.

Falando em beats: se você não conhece VHOOR (foto acima), tá perdendo. O produtor musical e beatmaker tem músicas que passeiam entre hip-hop e funk com influência de soul, jazz e até MPB anos 70. O menino é bom demais. Em 2021, ele lançou “Ritmo”, um álbum que vai até o afro-house e volta.

E aí se junta com FBC e o estrago tá feito: “OUTRO ROLÊ” é realmente outro rolê, um EP de rap que desce bem e acaba rápido demais. Com músicas feito “De Kenner”, que tem carinha de funk das antigas.

E, claro, tem banda para quem é de banda, também. Tem aos montes. A bem-indie Chico e o Mar, que estreou com o EP “sdds” há uns meses e já dá sinais de coisa fresquinha e promissora. Tem Moons, uma das maiores representantes de música-gostosa-para-contemplar-as-montanhas (vide música lançada hoje, “Love Hurts”). Tem a famosa Lamparina e a Primavera, que é bem brasilzêra – é MPB, mas tem sido bem funk também. E, na esteira MPB-indie, a clássica Graveola, que também anda lançando coisa.

Tinha Rosa Neon, o quarteto-surpresa de BH: que cresceu rapidinho, encheu show que foi uma beleza, foi na Europa e voltou. Deu seus últimos respiros ainda neste ano, como Marina Sena (vocalista) falava para o jornalista Guilherme Guedes em live: “Banda é feita para acabar”. E, enquanto durou, lançou cada membro com muito primor.

Tanto primor que vem aí – ainda em 2021 – Marina Sena (solo), cuja estreia com “Me Toca” (também deste ano) já deu um sustinho em todo mundo. Ela é boa demais, lança um “sexy caseiro” como ninguém. E vai explodir em breve. Pode anotar.

Para quem é genuinamente fã de rock triste, shoegaze e manifestações somente ocasionais de sorrisos, Minas também não falta com isso – porque é eclética assim mesmo. Um exemplo é o contemplativo (e ocasionalmente destrutivo) “Ensaio pra Destruir”, de Fernando Motta. A Geração Perdida é um coletivo independente daqui (que inclui Motta e seus amigos-colaboradores), mas também é meio jeitinho de ser.

Tudo isso que eu citei já dá caldo, mas devem ter coisas que eu provavelmente esqueci: gente que eu só vou lembrar quando voltar a ver pôsteres de shows ou vir algum deles bebendo no Maletta. É difícil honrar a música de cá com propriedade quando o fato de estar pertinho nem faz diferença. Mas fato é que a música de Minas e BH anda deliciosa de explorar: eclética, plural pra caramba.

Plural, sim, mas com uma coisa em comum: a cada 10 músicos, 10 citam Milton, Lô e o Clube da Esquina como influências. Independente do estilo musical.

Todo mundo parte do mesmo lugar. E é isso que faz a música de cá um trem de doido.

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