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* OK. São os Beastie Boys, uma das bandas mais legais da história. E que tiveram um final bem triste. A zoeira branca no meio do rap negro americano. E isso foi demais de importante. A banda punk que no fim queria ser hip hop. E foi. Uma carreira construída na acidentalidade, toda ela. Sem saber que o primeiro disco, o recordista e acachapante “Licensed to Ill”, ia vender tanto e ser recordista e acachapante; sem saber que o segundo, o ótimo e à época aguardadíssimo “Paul’s Boutique”, ia vender tão pouco.
O documentário dos Beastie Boys, que estreou com exclusividade da Apple TV sexta passada, mas deste então já foi passado em link com legendas em português de mãos em mãos na “clandestinidade” das redes sociais, é tõo gangorra de emoções, risos, arrepios, lágrimas e trapalhadas quanto a carreira deles.
Parece um desses Ted Talks no que tem de empolgante porque o assunto é muito bom e no sono que pode provocar quando a conversa tem as inconstâncias de uma apresentação de PowerPoint.
Beastie Boys em PowerPoint? É bacana porque Beastie Boys é muito bacana. É esquisito porque Beastie Boys é muito, mas muito mais que isso. Escolha seu lado.
Esse “Beastie Boys Story” é um doc gravado ao vivo em NYC, com plateia, que nasceu quando os dois old beasties boys remanescentes, Ad-Rock e Mike D, recentemente resolveram remexer em sua absurda história lançando o espetacular “Beastie Boys Book” e se reunindo para conversas com os fãs em teatro. Tudo até como uma forma de homenagear o terceiro e fundamental para a banda Adam “MCA” Yauch, perdido para um bizarro câncer na glândula salivar em 2012. O que decretou o fim do grupo. Porque os três eram muito ligados e não fazia sentido continuar.
O filme tem as piadas boas, tem as ruins, tem os desencontros infantis, hoje os desencontros adultos, tem as histórias bizarras de uma banda fora do comum. E tem as fotos legais, os vídeos incríveis toscos e a extraordinåria música que era rock pesado mas era hip hop malemolente na mesma levada.
Se a geração MTV (tipo eu) encarava os Beastie Boys como um exemplo de rebeldia sonora e despertava um gatilho enorme de energia interna em quem curtiu a banda na época, “Beastie Boys Story” pode significar muito pouco para a geração de hoje, ainda mais contado na forma de Ted Talks. Qual a dimensão dele, então?
Sem Yauch e com os dois não mais seguindo a carreira musical como Beastie Boys, o documentário às vezes tem um gostinho amargo de ser mais sobre os efeitos indeléveis da passagem do tempo em nós fãs de música do que um filme sobre uma espetacular banda que bagunçou um bom período de nossas vidas. Ele é sobre amor também. E sobre perda. E, num primeiro momento, olhando assim, esses sentimentos não combinam com os Beastie Boys.
Mas o negócio, para resumir tuuuuuuuuuuudo, é que os Beastie Boys não combinavam com nada mesmo. ENTÃO TUDO CERTO, GENTE!
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Os Beastie Boys fizeram dois passeios pelo Brasil em sua história e causaram dois efeitos bem diferentes em mim, particularmente. Sem aqui querer fazer um MeMeMe habitual das redes. Mas já fazendo.
Quando tocaram no finado Olímpia em 1995, em SP, assisti ao show perto do então meu primeiro grande chefe no jornalismo (hoje um relevantíssimo repórter de um enorme programa da Globo), que explodiu o pé em fratura no fantástico último bis que a banda de Nova York fez em SP, contendo “No Sleep Till Brooklyn”, “So What’Cha Want” e “Sabotage”. E minha vida virou um pouco infernal até uns dois meses depois desse show, por conta do mau humor do chefe entrando na redação aos pulos, com muleta.
E na segunda vinda do trio, em 2006 para show duplo no Tim Festival, desta vez no Rio e em Curitiba. Na capital paranaense, de forma tão acidental quanto a carreira da banda, acabei convidado para jantar com eles, não lembro se na noite da véspera ou na mesma da apresentação deles. Sentei bem ao lado de Adam Yauch. E trocamos pouco mais que murmúrios durante o jantar todo, porque a situação toda daquela noite se fez exatamente assim, acidental. Teria falado mais, puxado mais conversas, se soubesse que a história minha com os Beastie Boys teria o fim que teve.
Portanto, nem leve em conta meu achismo sobre o documentário dos Beastie Boys. Ele está contaminado. Só veja. Beastie Boys é obrigatório de qualquer forma, até em PowerPoint.
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Seu chefe trabalhava no suplemento Folhateen? É o Álvaro??