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* Álbum novo do quinteto paulistano Holger sempre é um evento indie. Desde que eles começaram com um EP-Pavement, a fase Álbum-Chiclete com Banana, o amadurecimento resvalando a MPB com pitadas eletrônicas, o afro-indie, os hiatos mais longos do que o esperado, a mudança de formação, pouca mas significativa, porque Holger antes de ser uma banda é um coletivo de brothers. Agora chegamos neste “Relações Premiadas”, o quarto álbum, um disco que tem todas as fases acima e mais um pouco. É tipo um trabalho sonoro de revisão de carreira. E, acho, o melhor deles.
“‘Relações Premiadas’ é o retrato do Holger de hoje. De uma banda que nunca se limitou a fazer o que se esperava dela, que deu a cara à tapa, que errou, que acertou. Não é nada igual ao que já fizeram mas, ainda assim, é Holger pra caramba”, alguém escreveu para nos ilustrar o novo disco em palavras. Acertou pra caramba.
O novo álbum deve deixar o Holger ao vivo mais rico e intenso do que é, naquela coisa muito da banda de um monte deles tocarem várias coisas e ter várias vozes. Agora com vários sons. Holger é várias bandas em uma. “Relações Premiadas” é vários discos em um.
O álbum também tem, talvez, as melhores letras da banda. Porque letra boa de música não precisa ter filosofia e literatura inspiradas, mas sim casar palavras bem faladas com a sonoridade da canção e seu clima. Para funcionar como recado, revolta, acalento, auto-ajuda, o que for.
“Não posso aceitar, não posso aceitar, não posso aceitar” ser um mantra repetido na música “Não Posso Aceitar”, que abre o disco de nove canções, pode soar uma citação boba, mas não é. Porque às vezes para se chegar a um resultado às vezes é complicado. Ou muito às vezes muito simples.
Uma das faixas mais bonitas do disco novo, “Preciso Dormir”, diz algo na linha “é preciso acordar, mas preciso sonhar, a vida é assim”, com um jogo de “só” e “mas” entre as frases. Muitos significados dizendo o mínimo. Semiótica indie, haha.
Alguns sinais captados, no restante das faixas o Holger volta a parecer Pavement, lembra At the Drive In, Chic (Daft Punk?), Strokes e Wilco em algumas instâncias alcançadas. E até Holger mesmo, tem horas. Continua com posicionamentos geográficos, fala da Chapada da Diamantina, do bairro de Perdizes. Bem Holger.
Frases pontuadas como “E este tempo que não passa o que é que eu passo pra fazer” e “Você não estava lá, você não quis me escutar”, fora alguns títulos na linha “Se Não Der Mais”, “Tudo Vai Mudar”, “Difícil Pra Você” não necessariamente explicita o quanto o Holger foi feliz neste disco novo.
Ouça abaixo, então, este “Relações Premiadas”, um lançamento bravo da brava Balaclava Records. E desenhe você mesmo seu mapa do Holger, porque a banda erra, acerta, nada é igual ao que fizeram. Mas ainda assim é Holger pra caramba”
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** As fotos do Holger usadas neste post são de Henrique Tarricone.
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