Lou Barlow está firme no rolê paulistano. Quer dizer, mais ou menos. No domingão de Páscoa e na segunda feriado o ex-heroi do rock alternativo americano de outrora arrastou um grande número de indies “das antigas” e outros nem tanto para ver sua banda Sebadoh em ação, em dobradinha na Choperia do Sesc. Escondido atrás de um cabelo grande encaracolado jogado na cara, a barba proeminente e o par de óculos, era difícil ver seu rosto de qualquer ângulo que fosse. Low Barlow estava ali, em ação na nossa frente, mas era difícil VÊ-LO, propriamente. O ex-Dinosaur Jr e ex-Folk Implosion, acima de tudo Lou Barlow, desfilou alguns hits velhos e músicas de “Defend Yourself”, álbum do ano passado, o primeiro disco do Sebadoh em 14 anos. Tudo certo, tudo errado.
Normal, Barlow não é mais o mesmo heroi do “rock alternativo” americano, repito, enfatizando com aspas uma alcunha diferente de “rock indie” no caso do guitarrista/baixista/cantor/compositor de longos serviços prestados ao… indie. Dava para ver isso no show do Sesc, pelo menos tendo o de ontem, segunda-feira, como referência. Suas músicas continuam bonitas, o show foi OK, mas Lou Barlow está, sei lá, menos Lou Barlow. Dava para ver isso, mesmo não dando para ver Lou Barlow.
Talvez tenha sido uma má ideia minha ir ontem ao Sesc sem ter na cabeça uma boa e recente entrevista que li dele, acho que por ocasião da turnê australiana que o Sebadoh fez em março, antes de aparecer aqui pelo Brasil. Barlow falou que duas coisas marcantes devem ter influenciado as novas músicas, o novo disco, a nova tour: o fato de ele estar divorciado da mulher da vida dele, a que é “acusada” de ter pautado grande parte das tocantes canções do Sebadoh nos anos 90; e de ele também estar agora divorciado da maconha, com quem manteve um relacionamento “sério e intenso” por décadas, mas que agora ou não existe mais ou diminuiu muito. Nem isso ele sabe precisar.
A faceta prolífica de compositor impulsivo também já era. Claro. Barlow não é mais um “garoto especial” dentro do cenário independente, porque o tempo passa e tals. Mas, para acrescentar, ele disse na conversa que não aproveita mais a vibe das turnês para compor, fazer letra, fazer música. Agora Barlow, segundo define, é um “iPhone person”. Ele passa mais o momento na estrada, das viagens, no celular falando com os filhos no Facetime, vendo Twitter, Facebook, Instagram, trocando mensagens com amigos.
Um rato de shows no auge do Sebadoh, do Dinosaur Jr, do rock novo americano há duas décadas, Barlow afirmou que obviamente ainda curte viajar por aí para tocar, mas que prefere bem mais estar em casa, vendo os filhos crescer. Faz porque é músico, vive disso. Porque sua maior fonte de renda são as turnês, já que o dinheiro de venda de disco e direitos pelas músicas que compôs diminuiu bastante. É pela grana sim, porque afinal de contas tocar paga suas contas, ajuda a criar os filhos, faz de sua vida normal minimamente decente.
Com essa entrevista na cabeça, eu fui ver o Sebadoh ontem no Sesc Pompeia. Porque Lou Barlow é Lou Barlow. Mas, apesar da noite de fim de feriadão com uma banda como o Sebadoh tocando na minha cidade, vi que Lou Barlow não é mais o Lou Barlow. Pior que, baseado em suas afirmações na entrevista do mês passado, ele concorda comigo.
Sobre o lance de ser um “sujeito iPhone”, me assustou Lou Barlow, perto do momento de encerrar a noite no Sesc, não saber se tinha tempo de tocar mais músicas para não estourar o severo horário “institucional” que regula os Sescs. Não foi exatamente isso o que me assustou, mas o que se seguiu. Daí ele, guitarra empunhada, foi perto do amplificador e tirou seu iPhone de algum lugar: “Tem uma mensagem aqui me dizendo que não posso passar com o show das 20h30. Então dá para tocar mais umas duas músicas”. Nem se deu ao trabalho de perguntar para a galera da produção.
O show foi cedo, 19h. Saí do Sesc, atravessei a rua, entrei no Sonda Supermercados, que estava aberto. Comprei uns yogurtes para o café da manhã, umas bolachas e vim para casa colar figurinhas do álbum da Copa. Não foi uma noite ruim, longe disso. Mas foi uma noite, digamos, normal demais para o meu gosto e para minha relação de vida sonora das antigas com Lou Barlow.
Lou Barlow, o grande guitarrista/baixista que reveza com ele Jason Loewenstein mais o bom e novo baterista Bob D’Amico botam o Sebadoh para funcionar quinta que vem no Circo Voador, no Rio. Depois, até o final do mês, tem show da banda em Recife (Abril Pro Rock), num centro cultural em Cataguazes (MG) e Maringá, Paraná.
No dia 1º de maio, Lou Barlow se apresenta novamente em São Paulo, desta vez solo. Barlow toca no MIS, na festa de abertura do grande e movimentado festival de documentários musicais In-Edit, em sua 6ª edição.
Dos shows que o grupo de Lou Barlow fez no Sesc Pompeia, emprestamos dois vídeos do brother Alexandre Matias, do Trabalho Sujo, que inclusive entrevistou o músico americano.
A foto do show de ontem, no Sesc Pompeia, é do Facebook do Fabio Meirelles.