Rita Oliva olha a música por dentro e mostra como é possível a atuação da mulher em qualquer lugar da música

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*** A imparável Rita Oliva é cantora, guitarrista, baterista, tecladista, produtora e tem ou teve várias bandas/projetos. Atualmente de corpo e espírito no projeto Papisa, ela ainda tem energia para gastar com a banda Cabana Café e com a dupla Parati, suas outras atividades por ora em hiato. E ela, tõo infurnada no mundo da música independente, cumprindo até funções que não costumamos ver mulher cumprir, tem sua valiosa visão de mulher, bem de dentro dessa música em que atua.

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Rita Oliva

Faz mais de dez anos que toco em bandas, compostas por homens em sua grande maioria, e muitas vezes me questionei pelo fato de ser a única menina entre tantos caras. Até que, no ano passado, tive a oportunidade de lançar meu trabalho solo por um selo comandado por garotas, o PWR Records, focado em bandas que tenham ao menos uma mulher na sua formação. Nos últimos anos tenho visto cada vez mais cantoras, compositoras, musicistas e artistas colocando a cara no mundo e expandindo a noção limitada de como uma mulher deve atuar no mercado. Os tempos mudaram, ou estão mudando.

Apesar do aumento do espaço para que a gente tenha mais voz ativa, padrões de comportamento baseados em crenças antigas e sem fundamento continuam ditando regras. Por isso, levanto aqui quatro questões, como um recorte do que vejo por aí e do que vivi na minha trajetória até hoje, ilustradas por mulheres incríveis que me inspiram.

1) Mulheres tocam instrumentos, e já faz um bom tempo
Toco instrumentos desde pequena, mas por algum motivo sempre acabei assumindo o papel de cantora na maioria dos meus projetos. Se por um lado mulheres instrumentistas sempre me instigaram, sinto que ocupar esse espaço na prática exigiu e exige provas constantes de capacidade, inclusive para mim mesma. Sinto também que essa provação dificilmente se aplica aos caras com tanto rigor. Que fique claro que não tenho nada contra cantoras, inclusive isso seria negar boa parte do meu próprio trabalho. Mas o reducionismo é perigoso, e mulheres podem tocar o que quiserem, vide a musa Sister Loretta.

2) Beleza não é parâmetro de talento
Ser/estar bonita é uma imposição para as mulheres desde pequenas, mesmo que inconscientemente. É ridículo perceber que ainda hoje a aparência pode se sobrepor ao trabalho de uma artista. Quem viu a polêmica envolvendo o corpo da Lady Gaga no Super Bowl? Da série de coisas que não deveriam ser notícia. Juana Molina é uma grande inspiração pra mim, de alguém que faz música como bem entende e não está nem aí para o que o padrão de beleza exige.

3) Mulheres também manjam dos seus equipamentos
Quando entramos em assuntos técnicos, existe uma ideia chata de que a mulher simplesmente não sabe o que está fazendo. Aposto que grande parte das garotas que tocam já se sentiram inferiorizadas por outros músicos, técnicos de som, produtores, em relação ao seus próprios equipamentos. Sem contar a barreira que roadies, técnicas de som e produtoras enfrentam para conseguir validar seu trabalho. Aprendizado e capacidade não tem nada a ver com gênero, tem a ver com interesse e predisposição. Fica a dica com o exemplo da brasileira Mahmundi, uma mina que sabe bem o que faz.

4) Mulheres podem trabalhar com homens, mas não dependem deles para isso
Produzi e gravei o primeiro single do meu trabalho novo sozinha, o Papisa, sem banda ou produtor. Por isso, já me perguntaram se a mulher precisa fazer tudo sozinha, ou se precisa de homens, ou se precisa fazer tudo com mulheres. O que eu penso: a mulher faz o que ela bem entender. Sozinha, com homens, com mulheres, não tem regra. A regra é a gente se apoiar, se respeitar e saber que estamos no mesmo barco. A sororidade fala justamente da irmandade entre mulheres, da compreensão de que somos semelhantes, não competidoras. Não acho que isso significa excluir os homens das nossas vidas, nem quero. Mas igualdade e respeito, precisamos com urgência. A Camila Garófalo (e seu Sêla) ilustra bem a reunião de mulheres talentosas em função da arte.

Daria para seguir em diante com tópicos, mas paro por aqui. Acho que o exemplo prático é a melhor saída. Que venham cada vez mais Lorettas, Juanas, Marcelas, Camilas para nos inspirar e conquistar o respeito e o reconhecimento que todas merecemos.

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