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Apitando em nosso radar há um tempo, graças ao single “I am Mark E. Smith”, de 2014, a banda pós-punk inglesa Fat White Family voltou a tocar forte por aqui nas últimas semanas por motivos bem aleatórios, na verdade.
(não precisamos dizer quem é Mark E. Smith, né?)
O primeiro dos motivos: Iggy Pop. Em seu ótimo programa semanal na rádio BBC6, às sextas-feiras, Iggy tocou uma música nova do grupo, “Whitest Boy on the Beach”. Incrivelmente suja, meio disco-punk/new-wave, meio que um Giorgio Moroder gótico, ela gruda quase que instantaneamente na cabeça.
Corta. Quando você se dá conta, já foi da rádio para o Youtube, do Youtube para o Spotify e assim por diante. O vídeo do single em questão, ambos lançados em dezembro de 2015, consegue deixar o “climão” ainda melhor. E põe climão nisso: dirigido por Tim Noble, ele mostra a banda com as cabeças raspadas e em trajes militares caminhando por Beachy Head, penhasco mais alto da Inglaterra que é cenário de vários vídeos – e de muitos suicídios.
Os “soldados” do Fat White Family parecem fazer uma busca por intrusos (refugiados?) na área, enquanto cenas de tortura com língua de boi (?) e mais cabeças raspadas pipocam aqui e ali. Melhor ver:
Meio fascista? Pode ser… Mas não segundo a banda (eles juram ser “de esquerda”), que diz que a música surgiu quando passaram uma temporada na Espanha, onde eram “os caras mais brancos da praia”.
Há controvérsias e não são poucas. Mas os “Fat Whites” têm respostas para todas elas. Ouvindo o último disco com mais atenção, “Songs for Our Mothers” — recém-lançado por selo próprio em janeiro deste ano — parece mesmo querer mexer onde não deveria: uma música do ponto de vista do Hitler, outra sobre, bem, ter “satisfaction” com um sobrevivente do Holocausto, as roubadas da heroína barata, relações abusivas etc.
O disco deixou os críticos tão confusos (dá para gostar de uma música sem problematizar seu conteúdo?) que apesar das resenhas positivas e das notas altas, “Songs for Our Mothers” vem sempre acompanhado por uma “bula” que inclui adjetivos como: transgressor, doentio, perturbador, desagradável, incômodo…
Um release gigantesco e maravilhoso, no qual a banda é definida, entre outras coisas, como “Kraut n’ Western”, deixa claro que a “problematização” está nos olhos de quem vê, nos ouvidos de quem ouve. Nele, a banda diz estar tão cansada da irrelevância do indie rock atual que precisava chacoalhar a ordem e bagunçar o coreto. “Se o indie rock está morrendo, os Fat Whites são a enfermeira bonitona que pressiona a seringa matando o paciente na frente de todo mundo“, diz a biografia-manifesto. Acho que a frase define.
A banda chamou a atenção de Sean Lennon, filho do John, que abrigou o grupo e abriu seu estúdio para que gravassem o segundo disco. O processo demorou tanto (o vocalista quase morreu de pneumonia, para piorar), que, quando o material ficou pronto, a banda já tinha uma outra idéia em mente, algo mais “disco”. Apenas uma música da fase Sean Lennon acabou entrando na seleção final, “Satisfied”, que, assim como a citada “Mark E. Smith”, tem um Q de Iggy Pop (não? Nightclubbing?).
A parceria com Sean Lennon acabou rendendo. Lias Saoudi e Saul Adamczewski, respectivamente vocal e guitarra do FWF, juntos com Lennon e sua namorada Charlotte Kemp Muhl, formaram o projeto The Moonlandingz, cuja música “Sweet Saturn Mine” ganhou este vídeo esquisitão aqui.
Seja somente para chamar a atenção, seja por estilo, seja por convicção ou zoeira, as polêmicas que as letras tentam criar não devem afastar você do disco. Nem da cena, que promete ir longe. Agitadores de Brixton, onde a banda nasceu dentro de um pub, os amigos promovem jam sessions com músicos (e baderneiros) locais.
E é aí que o outro motivo deste post aparece. No último final de semana, por uma coincidência que só a música explica, quando a gente já começava a pensar neste post, chegava um whatsapp do (entre outras coisas) baterista Iggor Cavalera, lá de Londres, dizendo que semana passada participou da Fats Orchestra, uma zoeira jam que o Fat White Family faz às sextas em um clube de Brixton, na capital inglesa. Iggor foi um desses convidados da rodinha pós-punk do FWF. E mandou um registro para a Popload.
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