Noel Gallagher contra o mundo. Incluindo Radiohead, Liam, Alex Turner…

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061115_noel1* Fotos de Simon Emmett

Ninguém no mundo dá entrevistas tão afiadas quanto Noel Gallagher. Ame ou odeie, o ex-líder do Oasis é figura fácil para um bom papo. Estampando a capa da edição de dezembro da tradicional revista Esquire, a publicação optou por postar uma espécie de monólogo, sem o tradicional perguntas e respostas, e o resultado ficou incrível.

Noel, que vem ao Brasil ano que vem como uma das principais atrações do Lollapalooza (festival que acontece no Autódromo de Interlagos dias 12 e 13 de março), disse que dar entrevista é o que ele mais gosta de fazer. E falou sobre tudo. Atacou o Radiohead, os popstars modernos, as gravadoras, falou do fim do Oasis e da volta do Oasis, da música britânica em geral e tudo mais.

A Popload destacou alguns trechos da entrevista gigante que pode ser conferida aqui. Estes melhores momentos podem ser conferidos abaixo.

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O Oasis e a hierarquia das bandas britânicas

Antes eu nos colocava no posto #7. Eram Beatles, Stones, Pistols, The Who, Kinks… Quem vinha em sexto? Não me lembro. Nós éramos os sétimos. Smiths e Specials estavam ali também. Onde eu nos colocaria hoje em dia? Provavelmente no Top 10. Não fomos tão grandes como os maiores, mas fomos melhores que o resto. Fizemos bem mais do que o Stone Roses poderia sonhar. Somos melhores que o The Verve. Se os mais grandes estão no Top 4, nós estamos no Top 4 abaixo deles, constantemente lutando pelo 5º lugar. Quero dizer, lutando para estar no Top 4.

Radiohead

Estou consciente que o Radiohead nunca teve uma review ruim. Entendo que se Thom Yorke cagar em uma lâmpada e começar a chupá-la como uma garrafa de cerveja vazia, provavelmente darão 9/10 na merda da Mojo. Isso eu reconheço.
Quando Thom Yorke escrever uma canção tão boa como “Mony Mony” [de Tommy James & The Shondells], me avise. Há alguns anos, eu e minha esposa estávamos no Coachella e o Radiohead era headliner. Foi tipo: “tudo bem, vamos dar a eles mais uma oportunidade”. O dia estava lindo, ensolarado. Caminhamos para o meio da galera e estavam tocando essa merda de post-techno “de-de de de”. Logo quando ele começou a cantar, pensei logo “não!”. Isso não é pra mim, somos de festa.

Popstars modernos

Vou te dizer o que está errado. A fama está sendo desperdiçada por esses malditos hoje em dia. Fora o Kanye West. Quando você o vê em prêmios da MTV, você pensa: “pode ficar aí, você está bem”. Alguém se interessa no que os popstars de hoje em dia andam fazendo? Quem se importa com o que a merda do One Direction está fazendo? Boqueteiros! Todos eles estarão numa clínica de reabilitação aos 30 anos. Quem se importa com o que a Ellie Goulding está fazendo? Adele, sério? Isso me deixa puto. Nada importa. A fama está sendo desperdiçada por eles com seus fones de ouvido e cigarros eletrônicos. Seus perfumes vão sair no Natal. Idiotas.

Rockstars modernos

Essa nova geração de rockstars se veste bem. Alex Turner, Miles Kane, os caras do Royal Blood… Tem todos calças justas, botas e delineador. Tenho um gato que é mais rock and roll que todos eles juntos. Pombos? Arranquem as cabeças deles.
Volto ao que falei: a fama está desperdiçada com essa gente toda. Essa nova geração… Quantas vezes alguém disse alguma coisa que te fez rir ou que você vai recordar? As pessoas dizem: “são realmente interessantes”… “Interessantes!”. Essa é uma palavra que devastou a música. “Sim, cara. Escutou o disco novo do Skrillex? É muito interessante”. Não quero nada interessante. O rock não é sobre isso. Para mim é de gente doente ficando loca. Quero genuinamente uma pessoa que use drogas, mas que não seja o Pete Doherty. Entende?
Você acredita mesmo que as pessoas vão seguir escutando o Foals daqui 12 anos? E que vai rolar uma comoção para que o Hot Chip se reúna em 22 anos? Não creio.
Meu perfume? Está vindo. Vai se chamar Toe –Rag e o frasco é em formato de um dedão do pé. Não existem mais pessoas rock and roll. O que as pessoas acham rock and roll agora é comprar uma camisa da turnê de 1972 dos Rolling Stones na Topman.

Perfil dos artistas

As gravadoras agora podem vender um bilhão de downloads do Ed Sheeran amanhã de manhã. Eles não querem gente como Ian Brown, Liam, Bobby Gillespie, Richard Ashcroft ou eu em suas empresas. Eles querem profissionais. Agora é assim. Eu posso te garantir que a palavra “carreira” nunca foi mencionada em alguma reunião do Stone Roses, Primal Scream ou The Verve. No Oasis certamente nunca mencionamos isso. Agora isso é falado constantemente pelos managers: “Não faça isso, é ruim para sua carreira”. O quê? Foda-se! Foi como quando ganhamos todos os prêmios no Brits e não demos a mínima. O cabeça deles disse: “Isso vai arruinar sua carreira”. Porra. Eu disse ao cara: “Você sabe o quanto estou chapado? Sabe quem vai arruinar minha carreira? Eu, não você. Fim de papo. Me passa mais champagne e vá se ferrar”.
Rock and roll é sobre liberdade e honestidade. Liberdade de pensamento, liberdade de expressão. Você tem a obrigação de ser honesto.

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Don’t Look Back in Anger

Lembro que a escrevi em Paris, numa noite chuvosa. Nós tínhamos tocado em um clubinho de strip. Quando acabamos o show, as strippers subiram ao palco. Nós éramos nada, uma pequena banda insignificante. E eu lembro de estar no hotel e escrever, e pensei: “Isso vai ficar muito bom quando gravarmos”. Se eu soubesse naquela noite o que eu sei agora, de que pessoas tocam a música em funeral e casamentos, eu nunca teria terminado de escrevê-la. Muita pressão. Tecnicamente, existem compositores melhores que eu. Os caras que escrevem no Guardian podem te dizer melhor. Mas alguma canção de outra pessoa tocou realmente uma geração? Radiohead? Quando as pessoas ouvem eles? Quando eles somem ou quando aparecem? Estou lutando para achar uma resposta.

Fim do Oasis

Oasis foi gigante. Não estou dizendo que não foi divertido, porque foi. Tivemos ótimos momentos, assim como tivemos momentos de merda. Os últimos seis meses foram uma bosta, estava insuportável. Eu e Liam tivemos uma puta de uma briga três semanas antes da turnê mundial começar e brigas como aquela, no passado, eram fáceis de serem contornadas. Mas, por alguma razão, eu não queria aquilo naquela altura. Apenas pensei: “foda-se esse cuzão”. E essa foi a atmosfera no mundo todo.
Se eu achasse que ainda haveriam coisas por fazer pelo Oasis, eu não teria deixado a banda. Eu tive uma decisão rápida no carro em Paris. Fizemos de tudo e a partir dali apenas andaríamos em círculos com turnês gigantes, pegar mais dinheiro e ter algum baterista novo, nós tivemos uns 11. Esgotamos todos os shows legais no mundo: Hollywood Bowl, Madison Square Garden, Wembley, City of Manchester Stadium, Hampden Park.
Naquela época (2009) eu viajava separado do resto da banda, e eu tenho que dizer que foi ótimo. Liam estava despedindo nossos agentes de turnê simplesmente porque não gostava dos sapatos deles. Quando ele começou com o papo de sua grife e começou a dedicar músicas para isso nos shows, pensei: “não é para mim”. Ele estava usando parkas no palco que você poderia comprar no site da loja dele. Faltavam dois shows para o fim da turnê. Se eu tivesse ido até o fim e parado para pensar pelos próximos seis meses, provavelmente superaríamos aquilo. Mas tivemos outra briga em Paris, sobre coisas nonsense, e ele ficou puto. Tínhamos cancelado um show no V Festival por causa dele e ele acha que eu controlo todos os jornalistas de Londres, que eu os levo para minha casa para almoçar aos domingos. Daí sentei no carro e pensei: “quer saber, já fiz o suficiente. Foda-se, tô caindo fora”.

Volta do Oasis

Eu fui perguntado sobre uma reunião do Oasis tipo cinco semanas depois que a banda acabou. Esse é um fenômeno moderno. Uma doença moderna, na verdade. Se o Oasis voltasse um dia, não seríamos maiores do que já fomos. Não há novidade em esgotarmos três noites em Wembley porque já fizemos isso. Stone Roses nunca tinha feito shows daquela magnitude. Eles voltaram e ficaram maiores do que já eram. Então nesse caso se justifica.
Daqui 10 anos, se eu acordar numa bela manhã e pensar: “quer saber, estou nessa outra vez”, eu posso te garantir que, por despeito, Liam vai dizer: “não, não estou nessa”. Porque é assim que a merda funciona. Eu posso dizer que tenho planejado meus próximos cinco anos. Então, uma reunião do Oasis não vai acontecer nos próximos cinco anos. Quem sabe quais as circunstâncias podem aparecer no futuro? Mas certamente isso não está sequer cogitado.

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