>>
Muita lama, um Dalai Lama, menos um Dave Grohl, um mar de barracas de camping, 135 mil pessoas, 100 palcos e mais de 1000 apresentações artísticas. Este é o resumo do resumo do absurdo festival Glastonbury, o maior do mundo, que começa para valer hoje em uma fazenda na região de Somerset (Inglaterra), puxado por uma fila de atrações de peso, ainda que o Foo Fighters tenha cancelado o show previsto para hoje, graças ao tombo que resultou em uma fratura na perna de Dave Grohl.
Estar entre as atrações principais do Glastonbury significa que a carreira do artista se consolidou, independente da qualidade, gênero musical ou tempo de estrada. Os headliners do evento são alvos de apostas ferrenhas todos os anos, ininterruptamente. Quando acabar o Glastonbury domingo agora, na segunda já estarão circulando os favoritos de 2016, sempre esperando um retorno do Radiohead ou do David Bowie ao festival ou do Oasis ou Smiths à ativa.
Na edição deste ano, as principais atrações são Florence and the Machine, Motorhead e Mary J Blige nesta sexta; Kanye West, Pharrell, Burt Bacharach e Paloma Faith no sábado; The Who, Patti Smith, Lionel Richie e Paul Weller no domingo.
Ser headliner em Glastonbury é tão coisa séria que, em levantamento divulgado pelo site irlandês Breaking News, das 70 atrações principais dos 45 anos de festival, apenas 10 foram headliners duas vezes. E um seleto grupo formado por quatro bandas foi três vezes protagonista.
No seleto clubinho dos que foram headliners duas vezes estão Arctic Monkeys, Blur, David Bowie, Muse, Oasis, Peter Gabriel, Pulp, Radiohead, REM e o The Who, que encerra o festival no domingo. Na rara turma da trinca estão Coldplay, Elvis Costello, The Cure e Van Morrison.
Roger Daltrey (71) e Pete Townshend (70) entrarão para o Top 3 de artistas mais velhos se apresentando na cobiçada Pyramid Stage. Ficarão atrás apenas do inoxidável Charlie Watts, baterista dos Stones, que tinha 73 anos quando tocou por lá em 2013. O Who está em seu último giro mundial.
Outro tema de comentários e debates recorrentes são os gêneros dos artistas que vêm ganhando papel de destaque no evento. O momento de maior choque de opiniões e tensão rolou em 2008, quando o anúncio do rapper Jay Z como headliner abriu uma roda de discussões na linha “isso está certo?”, reverberada e potencializada pela fraca venda de ingressos e a opinião forte de Noel Gallagher, que não teve pudor em dizer que rap no Glastonbury, um palco tradicionalmente do rock, “estava errado”.
Quase uma década depois e com uma Beyoncé no meio, Kanye West pinta como show de maior desconfiança em 2015. A presença de artistas do rap de fato é pouco representativa no palco principal do Glastonbury. Entre os tais 70 headliners da história, apenas 2 eram rappers. Do total, 37 eram bandas ou artistas de rock, seguidos por 17 nomes considerados pop.
Florence Welch, que substitui o Foo Fighters hoje como atração principal, também terá que enfrentar uma resistência histórica. Em 45 anos de festival, apenas 17% das bandas consideradas headliners tinham mulheres em suas formações. 83% eram bandas ou artistas totalmente masculinos. Paloma Faith e Patti Smith vão ajudar a subir um pouco essa média.
O fato é que o Glastonbury vai muito além do palco principal. Na verdade, a graça do evento está em seus palcos secundários pois são deles que despontam as bandas apontadas na semana seguinte como “the next big thing” na imprensa britânica, ou ainda algum show inesperadamente incrível partindo de alguém que esteja com sua carreira em franca ascendência, casos de FKA twigs, Father John Misty, Sharon Van Etten, Wolf Alice, Jamie xx e Perfume Genius, por exemplo. Veteranos e ainda representativos como The Chemical Brothers, Belle & Sebastian, Hot Chip, Super Furry Animals, Suede, Death Cab for Cutie e Spiritualized ajudam a engrossar o caldo e podem pintar com uma vibe revigorada e agradar não apenas suas fortes bases de fãs conquistadas ao longo dos anos.
*** Nos próximos dias, a Popload vai falar bastante sobre Glastonbury. O line-up completo e gigante do evento pode ser conferido aqui.
>>