>>
* A poploader fundadora Ana Carolina Monteiro está em Londres, por motivos de jogos do Arsenal, eleições gerais, declarações ou não de independência e, claro, música que a gente gosta. Sobre este último assunto, ela foi ontem à noite numa igreja ver o querido grupo escocês Belle & Sebastian, apenas. Belle & Sebastian & igreja & Londres. Quão perto do céu é isso, @anabeanjean?
por Ana Carolina Monteiro
Antes de começar a maratona de festivais de verão e de dar sequência a uma turnê longa que se encerra só final do ano, o Belle & Sebastian tem feito uma série de shows pelo Reino Unido. Durante o mês de maio, tocam quase todos dias do mês por cidades da Inglaterra, quase sem descanso. Ontem a banda se apresentou em Londres, em uma igreja metodista em Westminster, pertinho do seu cartão-postal mais famoso, o Big Ben. Foi a segunda apresentação seguida na cidade, ambas “sold out” em poucas horas (2 mil fãs por noite).
O lugar acabou sendo perfeito para ouvir cada detalhe do piano, do quarteto de cordas e dos metais, e também para acompanhar aquele excesso de fofurice que vem no pacote B&S e que exige sempre um pouco de silêncio da plateia e muita acústica. Tudo certo aí: não era permitido beber álcool (“Apenas 2 copos de vinho por pessoa ou 2 garrafas de cerveja”, vendidos pelos funcionários da igreja) e a concentração do público no show era de invejar (para quem está acostumado com o nosso público-balada, que fica até de costas para o palco na maior parte das vezes), se bem que algumas palminhas e gritinhos a mais teriam deixado o lugar mais “warm”.
A banda conseguiu equilibrar bem as músicas do disco novo “Girls in Peacetime Want to Dance” com os outros “hits” (com aspas bem grandes) de seus 20 anos de carreira. Ao contrário da noite anterior, Stuart Murdoch deu mais espaço para as músicas antigas e apresentava todas elas como uma pequena retrospectiva dessas quase duas décadas de grupo. “Essa eu escrevi há 20 anos” ou “Essa foi a música que a gente fez no primeiro dia de ensaio do Belle & Sebastian”, antes de tocar “My Wandering Days Are Over”. Também entraram no repertório-retrospectiva “Dog On Wheels” [na lojinha de merchan no hall da igreja, os broches com o cachorrinho com rodinhas desapareceram de vista. E olha que custavam 125 reais cada…], “Expectations”, “If You’re Feeling Sinister”, entre outras (setlist no fim do post) e até uma versão “country” de “Wrong Girl”, assim apresentada por Stevie Jackson.
Não faltaram intervenções engraçadíssimas de Murdoch sobre as peculiaridades londrinas (com trechos de filme, slide de anúncio de metrô e tudo mais) e discursos políticos sobre os recentes e decepcionantes resultados das eleições locais e sobre a (não) independência da Escócia. Antes de começar o show, foi exibido um documentário sobre o país e sobre o desenvolvimento de Glasgow, cidade natal do grupo.
Para as músicas novas, eles usaram um recurso muito interessante e “esperto”, segundo os próprios, “para evitar que o público disperse e vá para o bar”. Todas as cancões do disco mais recente foram acompanhadas por vídeos lindos (às vezes cheios de efeitos, para as mais dançantes “Party Line” e “Nobody’s Empire”, por exemplo, e outros com atores em cenas aleatórias). Somada à característica dança desgovernada e fofa de Murdoch, a nova fase “disco” acabou ficando ainda mais divertida ao vivo. Os três personagens em destaque na capa do disco aparecem no telão, e a mulher central, linda de morrer, pede para as pessoas dançarem ou simplesmente anuncia algumas das músicas. “It IS OK to dance, you know?”, ela diz.
Não precisou insistir muito, já que nas duas últimas músicas (antes do bis) um terço da pista estava em cima do palco, incentivados pela própria banda. O show é tão completo que só de observar o troca-troca de instrumento (todos tocam de tudo e se revezam em todas as canções e funções por todos os lados do palco) vale como uma aula. Foi interessante notar também a mistura de público, com vários pais jovens e seus filhos semi-adolescentes (a censura era de 14 anos), provavelmente criados no indie. Tem quem reclame do tralalá, das letras sem refrão, do ritmo arrastado ou até da voz “suave demais” de Stuart Murdoch, mas é difícil alguém não sair feliz (em caps-lock, dá licença: FE-LIZ!) de um show do Belle & Sebastian. E isso vale para fã e não fã, para quem se joga na dancinha ou não. É missão dada e cumprida.
<3
** Foto da home da Popload é do jornal “The Guardian”.
>>