Pergunta simples: o Alt-J é a maior banda indie do mundo hoje?

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Joe Newman em sua viagem particular. À sua frente, 16 mil pessoas que esgotaram os ingressos no Madison Square Garden numa simples noite de segunda-feira. A foto é do NYTimes

É sempre bom tirar um tempinho às vezes e parar para tentar entender como uma banda amadurece, cresce, sai do clubinho para o Madison Square Garden em poucos anos e começa a cair (bem ou mal) na boca da galera. Com o Radiohead sumido e o Arcade Fire de férias, hoje essa banda da vez talvez seja o Alt-J, de recente visita ao Brasil para um show incrível no Cine Joia, com “seu” público, e um outro digamos pouco inspirado no festival Lollapalooza, num fim de tarde, com audiência mais eclética.

Para entender o burburinho em cima do trio de Leeds é bom recapitular a fase inicial deles. Tipo fim de 2012, o Alt-J não passava de uma banda pequena abrindo shows para a quase tão pequena quanto Wild Beast na Irlanda. Um ano depois, o mesmo Alt-J (só com um disco nas costas) já havia feito show bem cheio no Central Park em Nova York e tocado para 40 mil mexicanos loucos numa quarta-feira. Sozinhos, shows deles, sem ninguém abrindo.

Muito da subida do grupo se deu logo no disco de estreia, “An Awesome Wave”, que ganhou o conceituado Mercury Prize britânico em 2012. Com uma pegada até certo ponto “comercial” na medida do possível, muita gente imaginou que a banda se faria entender melhor no segundo álbum, “This Is All Yours”, lançado ano passado, e o que se viu na verdade foi uma sonoridade ainda mais complexa e “difícil” de se entender. Só que isso causou um efeito contrário e na verdade fez o Alt-J crescer ainda mais, alcançando direto o topo das paradas britânicas, por exemplo, e se tornando disco de ouro por lá esses dias, batendo a casa das 100 mil cópias, feito atingido por poucos em tempos modernos.

A questão é que o Alt-J tinha tudo para dar “errado”. Aqui, abre-se um parêntese, errado em termos de popularidade, não em qualidade sonora. A presença de palco deles é quase imperceptível. Noel Gallagher reclamou que o tecladista tem bigode e por isso não pode curtir a banda. O vocal não é muito comum, as músicas são quebradas, a bateria é descompassada e parece estar no ritmo de outra música que não é a deles. Mas o importante é que, no fim, tudo funciona, e faz deles uma banda “moody indie”, termo do qual eles se apropriaram naturalmente.

Eles saíram do show do Lollapalooza em Interlagos direto para Nova York, onde fizeram um show na segunda-feira (!) no Madison Square Garden (!!) com ingressos esgotados (!!!). O NY Times, em review publicada ontem no site e hoje na versão impressa, descreveu o som da banda como “cryptic with a crisp beat” e não teve pudor em botar o título da review do show assim: “Drawing Listeners Closer by Pulling Back”. Em tradução livre, tratam a sonoridade como “enigmática, com uma batida penetrante”; o título algo como “aproximando os ouvintes enquanto os afasta”, batendo na tecla de que o Alt-J trabalha bem a analogia de polos opostos, atraindo e afastando as pessoas ao mesmo tempo, ou que a própria banda se retrai e se afasta, mas com isso acaba atraindo mais seus “ouvintes”. Está dando para acompanhar?

Ontem, eles resolveram escrever mais um capítulo desse dilema inconsciente ao aparecerem em rede nacional no programa de Jimmy Fallon, tocando a boa “Every Other Freckle”, como se eles estivessem nem aí com o que anda acontecendo de forma acelerada na vida deles.

* O grupo continua excursionando pelos Estados Unidos, com a maioria dos shows em teatros a céu aberto e um Coachella no meio. Depois, eles embarcam para uma turnê de arenas na Austrália e em seguida tocam em diversos festivais como o T in the Park escocês e o Lollapalooza de Chicago, sem falar em um show marcado para um parque irlandês que deve receber mais de 30 mil pessoas, em julho.

Onde essa banda deliciosamente esquisita vai parar?

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