Lollapalooza Brasil 2015 e a dúvida: foi bom ou foi ruim? Ou os dois?

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* Comparando com edicões anteriores e com outros festivais de mesmo porte, foi um ano bem fraco para o Lollapalooza (complicando ainda mais com as perdas no line-up que essa edicão sofreu pelo caminho). Não foi difícil escolher o que ver, não tivemos grandes atrações em conflitos de horários e, em alguns momentos, não tinha nem o que ver mesmo, só vagar pelo autódromo. O grande drama, a nosso ver, foi o confronto “St. Vincent vs. Kasabian”, que não necessariamente chegou a doer. Mas não foi nada esperto.

* Nenhum line-up de festival agrada a todo mundo. Não existe um festival (de novo, deste porte) só com bandas indies ou só com bandas grandes ou só com hits. Afinal, a graça de um festival é exatamente conhecer atrações novas e misturar estilos e público. Mas, neste ano, a falta de grandes atrações espalhadas pelos palcos durante o dia acabou dispersando o público e desanimando um pouco. Gente que “mexe” com festivais nos afirmou com propriedade que, grandes atrações para fazer um festival mais “obrigatório”, ou já estava com 2015 compromissado ou sai em turnê apenas em 2016. Não estava fácil para o Lolla. Lembra que o line-up demorou a sair…

* Interlagos, apesar da distância absurda do centro da cidade e também de um palco ao outro, continua sendo um ótimo lugar para o evento. Ou melhor: nos convenceu ser. A organização impecável, sem filas, limpo, boas opções de comida e bebidas. OK, só não precisava ter um câmbio próprio que desvalorizasse tanto nossa moeda. Fora a inflação em cima da inflação que aconteceu no fim do domingo, quando os ambulantes cobravam mais que a tabela. Festa brasileira, mas isso é um problema mais complicado, e não exatamente do Lollapalooza.

* O primeiro dia foi, pelo menos por aqui por estes lados, considerado o melhor com unanimidade, ainda que não inesquecível. Ninguém consegue derrubar um dia que termina com Robert Plant seguido de Jack White com uma banda daquelas. E ainda passa pelo show fresquinho e bombado da St Vincent e com Alt-J abrindo a tarde. O melhor do novo abrindo para o melhor da “velha-guarda”. Porque dentro do indie, Jack White é quase que um clássico, sim, pensa. E que diferença, hein? Dividindo opiniões, essa fase “grande músico” do Jack White parece ter decepcionado quem queria ouvir White Stripes em versões White Stripes (aquele “Jack moleque”, né?), mas agradou muito quem acompanha o músico e todas as suas fases. Não há nenhum artista como ele hoje, ou, pelo menos, com aquele domínio de show e palco que ele mostrou no sábado. Banda perfeita, músicos tão estranhos e tão incríveis quanto ele, todo mundo brilhando um pouco ao mesmo tempo, aquele clima de faroeste com blues e rock de “tiozão” (aqui, como elogio). Perfeito demais? Chato? Banda de velho? Não importa, é um baita show e talvez o seu eu de “I Think I Smell A Rat” se sinta traído pelo movimento, mas, vai por mim, ele vai te entender um dia. 🙂 A gente vive reclamando de artistas que se repetem e acabam virando cover deles mesmos. O melhor do Jack White é saber que esse risco ele não corre e que cada show pode ser uma coisa diferente.

* A maior diferença sentida entre um ano e outro foi a presença mais marcante (e mais “valorizada”) das atrações eletrônicas/dançantes. Atracões de destaque, Skrilex e Calvin Harris saíram de tendinhas em horários a luz do dia para tocarem para um público gigante, digno de headliner, estilo David Guetta (ok, não tão ruins como ele). Pharrell deu check em quase todas as músicas da sua respeitável lista de hits e foi a escolha certa para fechar o segundo e mais jovem dia do Lolla, que teve mais ênfase nos DJ sets e no clima de festa (de formatura, de firma, de academia, da Vila Olímpia, etc, teve para todos os gostos). Isso é bom ou ruim? Fácil a resposta: É bom E ruim!

* Lembramos aquela cena no filme “A Festa Nunca Termina”, quando o clube The Haçienda começa a bombar com a “nova cena” dançante de Manchester, no final dos anos 80, e o personagem do Tony Wilson vira para a câmera e fala: “Vocês estão reparando em alguma coisa estranha aqui? Essas pessoas estão aplaudindo o… DJ!”. Não dá para achar estranho uma cena dessas em 2015. O fato dessa “cena” estar cada vez mais presente em um festival de “rock” (esse termo ainda é relevante?), o que deve causar um estranhamento, é apenas um reflexo do (novo) público, claro, e também de como um festival é visto hoje em dia. E não que isso não deixe a gente se sentido cada vez mais velho, mas quanto mais você aceita essa verdade mais fácil fica para curtir.

* Tem DJ sim, tem pen-drive sim, tem explosões, tanquinho de fora e fogos e se reclamar vai ter mais ainda.

* Partindo desse princípio, e vá-la, o segundo dia do Lolla foi bem dividido e democrático, agradando quem gosta do indie-teen ao dance farofa, passando por rock nacional e pelo folk. Perdidão de verdade, mesmo, talvez apenas o Interpol, que teria feito bonito no primeiro dia ou com um show mais para o fim do dia. Interpol no meio de uma tarde de domingo é tipo botar o Joy Division tocando em Trancoso ao meio-dia. Não orna. Ainda bem que estava nublado, quando não chovendo.

* Sem querer ser donos de opiniões e fazer um “Textão de Facebook”, cheios da razão, a gente até se posiciona por aqui, por que não? Sabemos que, nesta fase grande festival do Lollapalooza, depois do ínicio indie-alternativo-underground dos anos 90, o festival é mainstream. De alternativo, não tem quase nada. De novo a questão de ser bom ou ruim, o alternativo dentro de um festival outrora alternativo é um item alternativo. Haha. Me entende? Tendemos a achar isso normal, na verdade.

Mainstream para festivalzões como Lolla não é Pearl Jam ou Arcade Fire. É Pharrell. Indie-star hoje em dia não é Jack White, é Skrillex. Anos atrás, nem tão longe assim, uma “volta” dos Strokes no Lollapalooza de Chicago tinha menos público indie que a Lady Gaga, que tocava no mesmo horário.

Mas, de todo modo, “exigente” que somos, nós pensamos longe da conclusão da Folha de S.Paulo, para pegar um exemplo de “opinião”. O jornal achou que o Lollapalooza consolidou, depois de Calvin Harris e Pharrell de ontem, uma fórmula de sucesso, com sua escalação eclética. De onde enxergamos o festival, ficamos com uma sensação muito esquisita no final do domingo, ao ver Calvin Harris e Pharrell lotando, e Smashing Pumpkins com relativamente pouca gente. Parece que o semifiasco de público do Arcade Fire no ano passado obrigou o festival a expandir para outras áreas para chamar a atenção para si (vender ingressos). Quem foi lá ver Calvin Harris provavelmente estava se lixando para o resto da escalação. O problema é que aumentaram de um lado, tirando de outro. Tentaram ser um pouco para todo mundo, mas acabaram não sendo muito para ninguém. Mas isso acima é o que NÓS achamos. Até porque, no final das contas, tendemos a achar que festivais, em sua essência, tipo nos áureos tempos ingleses ou mesmo no começo da onda festivaleira americana do início dos 2000, é coisa para “alternativos”. E a cena geral não ajuda mais, seja o Lolla Brasil, o Reading Festival ou o farofão da vez, o Coachella (guardada as devidas proporções). O negócio é que é difícil ser conclusivo ou facebookiano com um festival “eclético”.

Achamos que a coisa precisa ser voltada ao ventre. Alternativo está virando alternativo de novo. Não dá mais para generalizar e ficar esperando que isso parta de grandes eventos para “grande público”. Nem ficar indignado com “festivais bem consolidados com sua escalação eclética”. Vá ser feliz musicalmente em clubes com personalidade e festivais pequenos idem, cóf cóf. Pardón my french. Hahaha.

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** COBERTURA POPLOAD – Lúcio Ribeiro, Alisson Guimarães, Ana Carolina Monteiro, Fernando Scoczynski Filho, Alexandre Gliv Zampieri. Fotos deste post: Hick Duarte (I Hate Flash)

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