Top 50 da CENA – Segure as listas de melhores. Lia de Itamaracá e Mahmundi pedem revisão. Ottopapi também chega pedindo (pro ano que vem)

Lia de Itamaracá e Daúde chegam a dezembro com um dos melhores discos do ano. Mahmundi chega a dezembro com um dos melhores discos do ano. Ottopapi promete chegar ano que vem com um dos melhores discos do ano. É aquilo. Lista de melhores do anos estão sempre pedindo revisão. Revise a sua! 

Temos um dos versos mais bonitos do ano: “Eu vou varrer as lantejoulas que eu chorei e você não viu”. São de BUHR, o nome que Karina Buhr quer ser chamada agora – “feito o barulho do fantasma: bu”. Na voz de Lia de Itamaracá aos 81 anos, então, os sentidos se implicam. A canção faz parte da inédita parceria em disco da pernambucana Lia com a cantora baiana Daúde. “Pelos Olhos do Mar” ainda traz inéditas de Chico César, Emicida, Céu, Otto e Russo Passapusso em mais um daqueles esforços comandados por Marcus Preto de colocar diferentes gerações para conversar. Afinal, quem não tem passado não há de ter futuro. Exemplo, como destaca Daúde, temos aqui Lia mostrando sua força para além do coco e da ciranda. “Canta bolero, canção, divide com outra artista dentro do estúdio. É uma outra veia que está sendo explorada que ela tem dentro dela.” Revise imediatamente sua lista de melhores do ano.   

“Bem-Vindos de Volta”, novo álbum de Mahmundi, tem título dúbio. Quem voltou? Nós ou ela? Talvez as duas coisas. Com o fim de um período em gravadora grande e agora parceira da UnitedMasters Brasil, Marcelinha parece voltar a respirar um ar menos carregado, conectado com quem entende seu som, seu público e alcance. Menos margem, mais arte – ainda que todos os seus trabalhos na major sejam da maior categoria. Vai entender expectativa de executivo… Bom, seu novo disco transborda amor e amigos. Rico Dalasam é um dos feats. Transborda também seu interesse pela pesquisa de sons, cores e valores. Ou como simplificaram Magrão e Sá na voz de Milton Nascimento: “Doce ou atroz, manso ou feroz/ Eu, caçador de mim”. Ela nunca nos deixou, mas Marcela está de volta. 

Presença imensa na cena alternativa paulistana, entre produtor, agitador, frequentador e atração, Ottopapi vai aos poucos preenchendo um espaço vazio restante: seu perfil nas plataformas de música. Previsto para o ano que vem, seu álbum de estreia, “Bala de Banana”, ganha mais um single: a acelerada “Ruim da Cuca”. Desengonçada como o autor enquanto canção, mas superbem produzida enquanto fonograma por Chuck Hipolitho, a música vai escorregando nas confissões de alguém que tomou um fora daqueles.   

“Breu” já frequenta nossa lista há semanas. Denúncia forte à la Dylan quanto ao genocídio promovido por Israel na Palestina, a faixa é presença constante em shows de Chico Cesár. Devastadora, antecipamos ela aqui. Uma hora viria e veio a versão gravada por Chico em companhia de um time de músicos de origem judaica. Uma maneira de mostrar como é balela classificar a condenação ao genocídio palestino como forma de antisemitismo. 

Dos muitos Tuyos que existem (acústico, infantil e tantas versões do trio), o nosso predileto é o levemente fritadinho na eletrônica. É exatamente esse o caminho escolhido em parceria com o produtor português Branko. Delicinha para qualquer cair de tarde. E pro mundo todo ouvir.

Quando Caetano Veloso quis reunir os filhos para uma turnê, Zeca foi o mais receoso em aceitar. Cruzar o mundo com o pai e os irmãos deve ter acendido algo nele, fora sua música inédita na tour, “Todo Homem”, ter virado um fenômeno. Com calma, coisa de 8 anos, ele foi tecendo suas “Boas Novas”. O material de sua estreia lembra muito o do pai – no cadenciar do canto, na escolha das palavras e até dos arranjos, em especial da fase oitentista de Caê. Repare no brilho de “Salvador”, arranjado por Luciano Oliveira, e como ela dialoga com “Queixa” ou “Outras Palavras”, dica dada pelo próprio Zeca. Em entrevistas, já entregou que seu falsete, que percorre o álbum todo, também vem de Caetano em “Zii e Zie”, e também de influências estrangeiras, tipo Radiohead, embora deteste ser comparado a Bon Iver. Faz sentido. O minimalismo de Zeca Veloso parece ter mesmo outras origens. 

“5 anos e 8 meses depois…”, escreve a rapper e cantora paulistana Alt Niss. Foi um tempinho de relativo silêncio entre feats e dividir o palco com Don L e Bebé em muitas turnês mundo afora, mas ela retoma sua carreira com o EP “Al-Kimiya”. Com produções de Nill, o Adotado, Victor Henry e Déds, Alt Niss traz sua marca, de amar remeter seu som aos anos 90 e a uma nostalgia gostosa do romântico R&B da época com um tiquinho de fritação house. Quem chora ouvindo música vai entender esse EP de três músicas todinho. Saca? 

O que acontece quando dois grupos tristinhos se reúnem? Eles ficam melancólicos à beça, lógico. Assim é o encontro entre Jovem Dionísio e Terno Rei, em especial, na junção das canetas de seus vocalistas: Bernardo Pasquali e Ale Sater. Conduzidos pelo produtor Gustavo Schirmer, que conhece ambas as bandas de trás para frente, o resultado é como se existisse uma Jovem Terno ou Rei Dionísio ou qualquer outro mix entre as duas bandas. Juntas elas são uma só. Cabe disco aí, hein?

No imbróglio entre Emicida e Fióti com os negócios da Lab Fantasma, Drik Barbosa se viu na obrigação de ter que sair da empresa para conseguir tocar sua carreira com a serenidade necessária. Pelo visto, a escolha foi certa. Depois de três anos sem inéditas, ela chega soando melhor do que nunca em um single duplo: “Sob Medida”, rapzão com Stefanie e Cristal, e “Gosto Bom”, um mix de afropop e R&B produzido por Nave.  

Lua Viana se divide em duas personas artísticas: sonhos tomam conta e Antropoceno. A primeira é mais shoegaze, a segunda tem mais influência da música brasileira, o sambagaze. Outro tópico caro ao Atropoceno é a discussão sobre as mudanças climáticas, onde ela traz para o palco seu olhar ecossocialista e evoca os ensinamentos de mestres como Davi Kopenawa e Ailton Krenak. São personas tão diferentes entre si que uma é capaz de fazer cover da outra! E assim Antropoceno transformou em samba uma pedrada de sonhos tomam conta, “O Ar Nos Meus Pulmões”. Sambagaze, diga-se. Até porque a provocação de Lua para os roqueiros brasileiros é voltar a se atentar nos elementos de samba – menos bateria, mais percussão.

11 – Desastros – “Desastres” (6)
12 – Clara Bicho – “Telejornal Animal” (7)
13 – Emicida – “Us Memo Preto Zica” (8)
14 – Djavan – “Pra Sempre” (9)
15 – Sessa – “Pequena Vertigem” (10)
16 – Rachel Reis – “Coisa Rara” (11)
17 – Bella Guerra – “Licença” (com Mateus Aleluia) (14)
18 – João Parahyba – “Forró World” (15)
19 – Tori – “Trastejo” (16)
20 – Janine Mathias – “Deixa pra Lá” (17)
21 – YMA – “Rita” (com Sophia Chablau) (18)
22 – Carlos Dafé – “Jazz Está Morto” (19) 
23 – Pelados – “Modric” (20)
24 – Jup do Bairro e Negro Leo – “A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ F*** COMIGO” (22)
25 – Varanda – “Não Me” (24)
26 – Teago Oliveira – “Desencontros, Despedidas” (25)
27 – Tasha & Tracie – “Serena & Venus” (26) 
28 – Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro – “Cinema Total” (27)
29 – PUSHER174 – “Eu Sou do Contra” (28) 
30 – Oruã – “Casual” (29) 
31 – Douglas Germano – “Tudo É Samba” (30)     
32 – Eliminadorzinho – “Você Me Deixa Coisado” (31) 
33 – Valentim Frateschi – “Mau Contato” (com Sophia Chablau) (32)
34 – Supervão – “Love e Vício Em Sunshine (Ao Vivo)” (34)
35 – Mateus Fazeno Rock – “O Braseiro e as Estrelas” (35) 
36 – Joca – “BADU & 3000” (com Ebony) (36) 
37 – Marabu – “Rubato” (37) 
38 – Don L – “Iminência Parda” (38) 
39 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (39) 
40 – Zé Ibarra – “Segredo” (40)
41 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (41) 
42 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (42) 
43 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (43)   
44 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (44) 
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45) 
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46) 
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47) 
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48) 
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49) 
50 – BK – “Só Quero Ver” (50) 

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a incrível Lia de Itamaracá.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.