Toda escolha é uma renúncia e, depois de seis décadas nos palcos, tomar a decisão de encerrar este ciclo é talvez a maior renúncia de todas. Em sua turnê “Tempo Rei”, Gilberto Gil dá uma aula sobre sua carreira e sobre como fechar este capítulo em nossas vidas.

A música ao vivo é uma das maiores expressões artísticas. Existem poucas coisas na vida que se comparam com um bom show, menos ainda com um show espetacular, algo que o artista baiano aprimorou perfeitamente ao longo de sua jornada.
Gilberto Gil é um dos grandes artistas da história da música brasileira, um dos maiores a subir em palcos pelo Brasil e pelo mundo com suas músicas, indo da MPB ao rock e ao reggae, com uma expertise única e sempre com um gingado no pé.
Ao selecionar o repertório para esta turnê, Gil conta sua história de forma quase linear. Depois de um primeiro ato, que inclui “Tempo Rei”, ele segue narrando sua vida: desde sua saída da Bahia, passando por um “Domingo no Parque” e a Tropicália, até o impacto da ditadura militar em sua arte, com uma homenagem aos assassinados pelo regime com “Cálice”, sua parceria com Chico Buarque. O roteiro segue com seu exílio na Inglaterra até “Back in Bahia”, cuja introdução faz referência à música “Bat Macumba”, uma pequena lembrança de Rita Lee e seus Mutantes.
O show segue para a trilogia “Re”, com “Refazenda”, “Refavela” e “Realce”. Entre uma música e outra, Gil vai apresentando sua excelente banda, da qual fazem parte alguns de seus filhos, Nara, Bem e José, seu neto, João, e até sua nora, Mariá Pinkusfeld. Em sua última passagem por São Paulo, no sábado passado, Gil lembrou de sua filha Preta, que morreu neste ano, em um dos momentos comoventes do show.
Cada data desta turnê tem contado com participações especialíssimas, como Caetano Veloso e Djavan no Rio. Já tinham passado alguns grandes artistas pelos shows em São Paulo, inclusive sua filha Preta e sua neta Flor, mas ninguém poderia prever que, na última apresentação na capital paulista, o Rei Roberto Carlos subiria ao palco para cantar algumas músicas com Gilberto Gil.
Ao longo da noite, mesmo sem perder o compasso baiano nos pés, a idade do artista (83 anos) se faz evidente em seu discurso mais pausado. É hora de descanso para o nosso mestre Gil.
Quando a sua música transforma (sempre transformou) e faz parte da história de um país, esta despedida ganha outra dimensão. Para nossa sorte, Gil deixa seus talentosos filhos e netos para seguir construindo essa trajetória.
E, mesmo assim, sua música seguirá por si mesma, seja quando toca “Toda Menina Baiana” e todos pulam juntos numa festa, seja quando você estiver indo embora do Rio de Janeiro e lembrar de “Aquele Abraço”, ou em tantos outros momentos em que as canções de Gilberto Gil são a trilha sonora perfeita para a vida, para um país todo.
A turnê “Tempo Rei” segue até o início de 2026, você pode conferir as próximas datas aqui.
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As fotos deste post e da home são fotos de divulgação da produtora 30E.