Poucos artistas conseguiram transformar o caos em arte como o grande Ozzy Osbourne. E agora, poucos meses após sua morte, o lendário vocalista do Black Sabbath e showman sem igual ganha um retrato definitivo de sua jornada final. “Ozzy Osbourne: No Escape From Now”, lançado neste início de semana no Paramount+, é um mergulho profundo na vulnerabilidade, na dor e na lucidez de um homem que passou seis décadas desafiando tudo, inclusive a própria sobrevivência.
Filmado entre 2022 e 2025, o documentário começou como um registro da recuperação do cantor após uma série de cirurgias e complicações de saúde, mas acabou se transformando em uma despedida involuntária. Ozzy morreu em julho deste ano, aos 76 anos, e o material captado ganhou um novo peso: o de um adeus filmado em tempo real.
A produção, dirigida por Tania Alexander e realizada pela Echo Velvet em parceria com a família Osbourne, apresenta um olhar íntimo sobre os últimos anos do artista, um período em que o ícone do heavy metal lutava contra dores crônicas, crises de depressão e a frustração de não conseguir mais subir aos palcos com a mesma força de antes. Em depoimentos emocionantes, Aimee Osbourne revela que o pai “nunca conseguiu voltar ao normal” depois de uma queda em 2019, enquanto Sharon Osbourne comenta que ele viveu com “uma dor constante e arrependimento por ter forçado o corpo além do limite”.
A narrativa se alterna entre momentos de fraqueza e lampejos de esperança. O filme mostra Ozzy ainda em estúdio, gravando vocais para “Patient Number 9” e revendo imagens de “Ordinary Man”, lançado em 2020, obras que se tornaram símbolos de resistência. Em uma das passagens mais marcantes, o cantor admite que chegou a pensar em desistir da vida durante o auge de sua dor física.
Mas “No Escape From Now” não é apenas sobre sofrimento: é também sobre reconciliação. O documentário culmina no histórico “Back to the Beginning”, show realizado em 5 de julho de 2025, em Birmingham, cidade natal do Black Sabbath. O evento reuniu Tony Iommi, Geezer Butler e Zakk Wylde, marcando o encerramento simbólico da banda que mudou o destino do rock pesado. O show, que teve caráter beneficente, foi registrado em vídeo e tornou-se o último momento de Ozzy diante de uma plateia, uma cena que passou a soar um tanto profética.
Entre os depoimentos, aparecem velhos amigos e discípulos musicais: Duff McKagan (Guns N’ Roses), Robert Trujillo (Metallica), Slash, Chad Smith (Red Hot Chili Peppers), entre outros, que compartilham memórias, risadas e lágrimas ao descrever o homem por trás do mito.
O lançamento do filme ocorre poucos dias após a exibição de outro projeto inédito, “Ozzy Osbourne: Coming Home”, produzido pela BBC, que também revisita sua vida pessoal e musical sob a ótica britânica.