Taylor Swift: “Showgirl” funciona, mas falta a faísca

Se existe um manual secreto para o estrelato pop, recheado de cláusulas sobre sacrifícios inevitáveis como invasão de privacidade (oi, Chappell!), resistência a críticas (pobre Lola Young), haters em massa e cultura do cancelamento (sim, você mesma, Doja Cat), muitas artistas parecem ter assinado sem ler as letras miúdas.

Ninguém, no entanto, parece ter decifrado tão bem essas regras implícitas quanto Taylor Swift, como se ela tivesse transformado cada entrelinha desse contrato não apenas em sobrevivência, mas em combustível criativo para erguer um dos maiores impérios da música pop atual.

Com “The Life of a Showgirl”, seu 12º álbum de estúdio lançado hoje, e já dono do recorde de título mais pré-salvo da história do Spotify, Taylor Swift dá sinais de querer retomar o calor e o brilho do pop em sua forma mais alegre, com pitadas de soft rock, deixando de lado (ao menos em parte) o tom sombrio e introspectivo de seu último projeto “The Tortured Poets Department”.

Para isso, abriu mão da zona de conforto com o produtor Jack Antonoff, parceiro de longa data, e convocou as divindades suecas do pop, Max Martin e Shellback, para entregar uma produção com melodias polidas, refrões radiofônicos e humor bem dosado.

Funcionou? Sim, principalmente pelo frescor de ver Swift soando leve depois de anos imersa no peso da própria mitologia. Sua vida pessoal também acompanha essa fase cintilante (Taylor está noiva do astro da NFL Travis Kelce). Mas, mesmo com o carimbo sueco de perfeição, paira a sensação de que falta faísca: há momentos pouco memoráveis quando se compara ao arsenal pop que ela já entregou.

O único feat. do álbum aparece na faixa-título e traz a baixinha Sabrina Carpenter, em uma escolha certeira, pensando com a cabeça de Taylor. A fórmula dos momentos mais emblemáticos do pop sempre se fez com encontros icônicos de alto calibre como Gaga e Beyoncé, Britney e Madonna, Shakira e Rihanna.

Mas se feats. historicamente foram palco de sororidade, essa rede se rompe rápido quando aparece a treta: fãs especulam que a faixa “Actually Romantic” seja a resposta velada à indireta de Charli XCX em “Sympathy Is a Knife” (2024, no álbum “Brat” – “Don’t wanna see her backstage at my boyfriend’s show” podia estar aludindo à Swift, uma vez que ambas namoravam integrantes da banda The 1975 na época.). A semelhança de títulos com “Brat”, que tem uma faixa chamada “Everything Is Romantic”, não passou despercebida, nem versos como “You call me boring Barbie… when the coke’s got you brave”, lidos como farpas direcionadas a inglesa.

Atualizando mais uma “era” na conta, Taylor Swift hoje é uma “showgirl” de outra ordem. O figurino nunca foi somente sobre paetê e pluma, mas cadernos de poesia, dores pessoais e tretas. “The Life of a Showgirl” é o autorretrato de quem sabe que a vida virou espetáculo e aprendeu novamente a transformar cada ferida em performance sob o holofote.