Top 10 Gringo – Florence, uma das grandes. O Phoenix eletrônico sendo Phoenix. E o dealer da Lola Young. Este é o resumo da semana

O que fazer em uma semana sem tantos grandes álbuns? Olhar para os singles, singles antecipando os nossos próximos discos favoritos do ano – aliás, ano que está acabando. Já parou para pensar nisso? Mas olha, tem aí na lista novidades de velhos conhecidos, tipo Florence + The Machine, e coisas que certamente você nunca ouviu, tipo crushed.   

Confirmando sua fase roqueira, Florence Welch soltou mais uma parceria com o Mark Bowen, mais conhecido por ser o guitarrista doidão do IDLES – aquele de cueca ali, oh! “One of the Greats” a busca por grandeza imposta tanto pela própria Florence quanto pelo ambiente externo. “Por que nunca estamos satisfeitos?”, comenta a compositora. Ao observar como o mundo é muito mais gentil com os homens nesse (e outros) quesitos, ela provoca com toda razão: “Deve ser legal ser homem e fazer música chata só porque você pode/ Não me entenda mal, eu sou uma fã/ Você é meu segundo vocalista favorito”. Indireta para mais de mil machinhos nervosos vestirem a carapuça. A faixa fará parte do álbum “Everybody Scream”, previsto para o fim de outubro. 

O indie pop Phoenix sempre esteve próximo da música eletrônica francesa. Da experiência com a italo disco em “Ti Amo” ao fato do guitarrista Laurent Brancowitz ter tido uma banda com os Daft Punk. Eles nem precisavam mudar de nome para assumir um projeto com o duo de house Braxe + Falcon, mas a junção leva o nome de UFOs. Resultado: é Phoenix purinho. 

Procurar uma nova “Messy” em “I’m Only F**king Myself”, terceiro álbum da inglesinha Lola Young, seria uma sacanagem. É um hit daqueles praticamente insuperáveis pelo texto e pelo acerto sonoro – uma pérola radiofônica para as próximas décadas. Lola Young sabe e talvez por isso já tenha metido um palavrão logo no título do disco. Se ela for a próxima favorita dos grandes estádios, será em seus termos. Ao mesmo tempo que ela não manda os fãs do seu sleeper hit passearem, entregando a boa e agradável “One Thing”, talvez os fãs mais novinhos tenham que baixar o volume para ouvir coisas como “Tell my dealer I’ll miss him” perto da mãe. Ela avisou que era “messy”… Bom, talvez os fãs brasileiros não precisem desse cuidado todo.   

Alguém aí lembra do confuso show do Portugal,The Man no Lollapalooza de 2019? Abriram com um cover de “For Whom the Bell Tolls” do Metallica e não passaram quase que uma música sequer sem citar outros artistas – Pink Floyd, Beatles, T. Rex. Tudo isso enquanto o telão avisava que eles tocariam “aquela lá”. Aquela lá era o hit “Feel It Still”, daqueles que todo mundo sabe cantar, mas não sabe de quem é até hoje de tão fora da curva da banda. Rumando para o décimo álbum da carreira, “SHISH”, eles continuam ligeiramente confusos e tudo bem. É um pezinho no pop e outro no rock. Metaleiros que ouviam Rihanna sem medo de ser feliz.  

A dupla Bre Morell e Shaun Durkan gosta muito de videogame. Pelo menos é o que indica o nome dos seus álbuns até aqui. O primeiro se chama “Extra Life” e o próximo leva o nome de “No Scope”, que é quando em um jogo de tiro alguém acerta o inimigo com uma sniper sem usar sua mira telescópica. Específico, né? Aproveitando o duplo sentido da expressão, significa também fazer algo sem grandes pretensões, planos. Em bom português, um “deixa a vida me levar”. Até porque foi assim que a banda surgiu, super por acaso. Ambos tinham programas de rádios, tocaram músicas um do outro de suas antigas bandas e foram formando uma amizade online trocando músicas favoritas. No repertório, anos 1990 à beça, indo de Cardigans a Natalie Imbruglia. Essa onda nostálgica está no som deles e causa uma sensação estranha no ouvinte. Sabemos do truque, mas eles são bons ilusionistas, viu? Parece novo em folha. 

Serge Pizzorno ficou intranquilo ao assistir “Hypernormalization”, famoso documentário do inglês Adam Curtis, onde ele aborda o excesso de individualismo provocado por anos de neoliberalismo – isso entre outras mil coisas, afinal é um doc do Adam Curtis. Elaborar um mundo onde as pessoas se reconectam foi o motor por trás de “Hippie Sunshine”, single com os timbres chapados de sempre e as baterias de som imenso. A ideia é que ela sobreviva até o próximo verão, quando o Kasabian promete um show gigantesco no Finsbury Park, em Londres. Pelo visto, Serge não ficou pessimista após sua dose de Adam Curtis. Não é para qualquer um. 

Durante toda a audição de “Bleeds”, o recém-lançado novo álbum do Wednesday, a impressão que se tem é que a banda da Carolina do Norte é a mais fofa do mundo. As melodias são doces, a mão é leve. Mas alguma coisa não deixa eles serem só fofura. As letras precisam ser levemente ácidas, Karly Hartzman vai querer gritar e mesmo nas faixas mais doces as guitarras, principalmente a do fera MJ Lenderman, vão derreter em noise em algum momento. Em alguns poucos instantes, tipo “WASP”, eles conseguem ser pesados o tempo todo enquanto Karly desabafa sobre seus medos. 

A animada “Let My Love Open the Door” é o único hit da carreira solo de Pete Townshend. Talvez por ser a música mais oitentista já feita, seria mil vezes copiada nos anos 1980, a ponto de hoje não ser tão lembrada. Dito isso, a alegria vira drama na versão de Mitski feita para o filme “A Grande Viagem da Sua Vida”, a polêmica fantasia romântica estrelada por Margot Robbie e Colin Farrell. O filme tem sido detonado pela crítica, mas Mitski nesse piano e voz é nota dez. 

Se o filme é ruim mesmo, vamos esperar a resenha da Isabela Boscov. Da nossa parte, é celebrar ou lamentar um pouco. Além da Mitski cantando Pete Townshend, eles conseguiram uma inédita da nossa favorita: Laufey. Infelizmente, é uma musiquinha meio genérica. Uma “The Blower’s Daughter” menor. 

“Hecklers Choice: Big Gums and Heavy Lifters” é só mais uma coletânea do Pavement com todas as músicas que já cansamos de ouvir. Mas a desculpa para ouvir tudo de novo (e beleza!!) é o fato de tudo estar remasterizado. Muda muito a vida de quem escuta pelas plataformas de streaming? Provavelmente não. O ouro está na trilha sonora do filme “Pavements”, com músicas ao vivo da turnê de 2022.

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* Na vinheta do Top 10, a inglesa Florence Welch, da Florence + The Machine, sob foto da badalada Autumn de Wilde.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix