Saiu “I’m Only F**king Myself”, o novo álbum de pop errático da Lola Young. E isso é algo muito bom!

Artista que já mostrou que não quer ser condensada em caixinhas genéricas do pop, Lola Young enfim soltou seu novo álbum nesta sexta-feira. “I’m Only F**king Myself”, seu terceiro disco cheio, é barulhento, íntimo, contraditório e profundamente autêntico, um mergulho em tudo o que normalmente uma cantora pop de 20 e poucos anos tenta esconder. 

Se no super hit “Messy” ela já havia lançado uma espécie de manifesto da imperfeição, aqui ela amplia esse gesto e transforma cada música em um recado direto: ser caótica, frágil, contraditória e até exagerada. Tudo faz parte do jogo. Em um cenário onde a maioria das estrelas polidas busca alinhar cada detalhe à estética da perfeição, Lola prefere mostrar as rachaduras e é justamente nesse contraste que ela soa mais humana e, paradoxalmente, mais pop. O tal pop errático do título.

A força do disco está também no contraste da sua voz, que se move com naturalidade entre o sussurro frágil e o grito rasgado, sempre carregando emoção. Em “Spiders”, ela despeja um grunge visceral; em “d£aler”, dá corpo a uma canção que mistura pop oitentista com uma tensão autodestrutiva; já em “Can We Ignore It? :(” a súplica por esquecimento se transforma em um refrão desesperado, e “F**c Everyone” abre o álbum como um hino de libertação hedonista, insolente e divertido, poucos minutos depois do interlude de abertura trazer linhas como “I’m grateful for you and grateful that I’m here and I’m makin’ art”. 

Até quando uma letra escorrega para certas doses de exagero, como em “Not Like That Anymore”, a entrega vocal sustenta a experiência, provando que Lola tem talento para transformar até as frases mais cruas em momentos de impacto. Essa falta de censura pode soar errática, mas justamente esse “pop desajustado” é o que dá frescor à sua presença.

Existe certo ar de nostalgia em Lola, uma herança da rebeldia de Amy Winehouse ou Lily Allen (para falar só de cantoras britânicas modernas), mas ela traduz isso para uma geração que prefere a bagunça à perfeição. Ao invés do perfil  “popstar certinha” que domina o cenário atual, ela oferece sujeira, irreverência, perigo e vulnerabilidade. 

“I’m Only F**king Myself” vai bem além de uma porção de músicas em um disco e chega meio que estabelecendo que está tudo bem não seguir padrões. E, nisso, Lola Young surge como um sopro de ar fresco num gênero que muitas vezes se acomoda no previsível.