Em uma semana de poucos álbuns notáveis fiquemos com os singles. Ah, os singles. E de novo, temos a oportunidade de colocar Beatles na jogada. É como se fossem os anos 60 de novo! Guerra Fria, Beatles…

Após cinco anos de silêncio, a intenção dos irmãos Jarman, o trio que forma o algo veterano grupo indie inglês Cribs (dois gêmeos e um “avulso”), é oferecer canções capazes de conectar-se com o público. “Se vão classificar como indie ou punk ou seja lá o que for, pouco importa”, escreve Ryan Jarman. Partindo do pessoal para o universal, um bom jeito de se trabalhar em termos de arte, o primeiro single de “Selling a Vibe”, álbum que sai em janeiro, é sobre uma certa melancolia com a chegada de mais um verão. Não pelo calor, mas pela passagem do tempo em si.
O terceiro álbum de Steve Lacy chega com a promessa de ser seu trabalho mais pessoal em uma chamativa matéria de capa da “Rolling Stone” americana, que ainda o classifica como um dos maiores talentos do pop moderno. A ironia de se fechar diante de uma plateia crescente aparece já na primeira amostra dessa sua retomada. “Nice Shoes” revela Steve expondo de forma provocante pirações e desejos “proibidos”. É como contar um segredo para um milhão de pessoas.
Em “Guitar”, Mac DeMarco fez tudo. Ele escreveu, gravou, produziu, mixou e até cuidou dos vídeos. “Phantom” é uma canção que reflete o quanto essa solidão deixou sua caneta mais sincera. O relato da música é um texto bem seco sobre o quanto um rompimento amoroso ainda o assombra, rendendo projeções de como ele poderia ser se não tivesse estragado tudo. Não é lá a coisa mais fácil de se admitir em público. Ainda mais com uma música desta e um final deste.
A música nova anda barulhenta demais. Oba. O quinteto pancada Fat Dog mistura uma algazarra noise tipo Atari Teenage Riot, mas com um bom humor que torna tudo uma festa, como se viu no último Glastonbury ou no festival português Paredes de Coura, onde tivemos e comprovamos. Foi o “momento loucurinha oficial” do verão europeu. Como disse uma amiga, se soubessem capitalizar tipo a Charli XCX, seria institucionalmente o Fat Dog Summer.
Pouco a pouco, o Oasis vai montando um álbum ao vivo com singles retirados de suas apresentações de retorno. A terceira mostra da série vem dos shows londrinos e é a primeira música com os vocais principais por conta de Noel, provando que os elogios a sua voz atual estão certos. Tudo fica ainda mais charmoso quando a grandiosidade do hino “Little by Little” é multiplicada por milhares de pessoas dando um apoio a Noel e berrando cada verso. Você também sente vontade de chorar nessas músicas ao vivo do Oasis?
Prince está vivão, né? Seja na porradaria do Mk. Gee, seja nas voltas do Blood Orange e do Steve Lacy lá de cima. Outro classudo desta turma é o cantor californiano Dijon, da mesma turma, que lançou semana passada o rasgadamente elogiado álbum “Baby”, que se localiza com sofisticação em algum lugar do soul, pop e R&B atuais. Fora ter participado de aclamados discos destes tempos, como os novos de Bon Iver e… do Justin Bieber. Sua estreia em 2021 foi encharcada de dor de cotovelo por um rompimento amoroso. Com este “Baby”, ou teve um novo ou segue sofrendo pelo antigo, porque, com essa “Higher!” como exemplo, a ideia é dilacerar corações.
Por falar em multidões e hinos, já dá para imaginar Pelle Almqvist, vocalista do Hives, esticando “The Hives Forever Forever the Hives” ao vivo para provocar uma comunhão entre banda e plateia para celebrar o Hives. A banda tem um hino para chamar de seu nos mesmo moldes que Iron Maiden ou Black Sabbath fizeram com músicas com os nomes da própria banda.
Jeff Tweedy conhece bem as amarras que a criatividade pode enfrentar. Além dos cercos impostos por nós mesmos, ainda tem a indústria, o público, os amigos e um monte de outros fatores travando a mente no processo com seu mar de expectativas. Normal. Na feitura de seu álbum solo triplo, Jeff notou uma liberdade inédita e resolveu homenagear isso. “Feel Free” é uma ode a esse momento. “Parece uma canção do passado, presente e futuro”, ele escreve. Em uma leveza que percorre sete minutos de canção, de fato temos aqui algo capaz até de provocar mudanças bruscas de humor. É um calmante e tanto.
Ex-baixista do Pixies, do Zwan (lembra?) e do A Perfect Cicle, Paz Lenchantin prepara um novo álbum solo. Para isso convocou os amigos de Perfect Cicle, uns tais de Josh Freese (ex-Foo Fighters) e Troy Van Leeuwen (Queens of the Stone Age). Dito isso, “Hang Tough” é engraçada porque tem partes idênticas à nossa “Cálice”, canção de Chico Buarque e Gilberto Gil. Eita nóis! Ainda fora dos streamings de áudio, tem no Youtube.
É óbvio que nunca faltarão novidades sobre os Beatles. Eles vão dar um jeito sempre. A deste ano é uma repaginada no projeto “Anthology”, uma junção de coletânea, livro e documentário produzidos em 1995, quando o trio restante da banda se uniu para registrar duas inéditas: “Free as a Bird” e “Real Love”. O documentário foi expandido e virou uma série de nove episódios para o Disney+, o livro foi reeditado e as coletâneas ganharam um volume extra com material inédito de outtakes do Beatles (com boa parte do material já lançado em versões de luxo do álbuns originais) e uma nova mix justamente para ambas “Free as a Bird” e “Real Love”. “Now And Then” fecha com chave de ouro a tracklist do volume 4 do “Anthology”, dando ares de encerramento grandioso. Não vamos cair nessa de novo. Desde “The End” é esse papinho.
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* Na vinheta do Top 10, o trio britânico The Cribs.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.