Baile funk ou Laura Palmer’s Theme? Qual é o seu mood? Nesta semana, o Top 10 é para todos os gostos. Do romance sombrio da Ethel Cain até a festa (brasileira) da Amaarae. Também aparece algumas coisas de pós-punk moderno e até um Radiohead argentino!

Fez todo o sentido quando descobrimos que Ethel Cain maratonava pela primeira vez “Twin Peaks” enquanto gravava “Willoughby Tucker, I’ll Always Love You”. O clima da histórica série de TV de David Lynch e Mark Frost está por todo o álbum – a faixa “Willoughby’s Theme”, por exemplo, é um aceno a “Laura Palmer’s Theme”. Dos timbres dos sintetizadores e das vozes até a temática. O disco é um prelúdio da história contada no primeiro álbum da artista, “Preacher’s Daughter”, onde seu alter ego é assassinado. Aqui vemos a personagem antes, se apaixonando pela primeira vez e vendo os limites da vida no interior dos Estados Unidos por conta da rigidez religiosa e social. Na vida real, Hayden Silas Anhedönia, a pessoa por trás do nome Ethel Cain, é uma mulher trans crescida em uma comunidade batista no sul dos EUA. Trocando em miúdos, ela sabe do que tá falando. Sua ficção tem fortes paralelos com a vida real, tanto que ela admite ser difícil escutar as próprias músicas de vez em quando. Discaço. E já é o segundo discaço dela só em 2025.
Amaarae garantiu que a sequência do elogiado “Fountain Baby” fosse à altura. “Black Star”, terceiro álbum da artista norte-americana com raízes em Gana, é um arraso. Na maioria das entrevistas sobre o disco, ela afirmou que só queria se divertir. E parece ter procurado nos lugares certos tanta diversão. Gravado em Miami e Los Angeles, parte da produção também passou pelo Brasil. Um olho nos créditos e você vai reconhecer nomes como Maffalda, Mu540 e Deekapz perto de caras como El Guincho. Vai, Brasil!
“Nossa” Laufey vem toda folk na quieta “Snow White”. Ah, espelho, espelho meu. Aqui o assunto é o padrão de beleza imposto às mulheres e suas consequências. Laufey descreve na letra como nunca se sentiu adequada ao que o mundo deseja e sempre visualiza como seria sua vida se fosse mais magra, por exemplo. Seria mais bem-sucedida? Seria mais feliz? “O mundo é um lugar doentio, pelo menos para uma garota”, conclui. Sem dúvida, Laufey.
Lembrando seus dias mais roqueiros de Savages, Jehnny Beth entrega a aflitiva “High Resolution Sadness”, onde grita apavorada com este “mundo que sempre esteve uma bagunça”. Sua ânsia, e a de todos nós, é por menos tela, a tal tristeza em alta-definição. Jehnny quer mais pele, mais contato, maior amor. Parece que encontraremos tudo isso em “You Heartbreaker, You”, seu novo solo previsto para 29 de agosto.
O Just Mustard é um dos nossos irlandeses pós-punk moderninhos favoritos e isso não é segredo. Na preparação para o terceiro álbum de sua história, o quinteto soltou a alegre “WE WERE JUST HERE”. Alegre no conceito deles, diga-se. Um bom jeito de tentar imaginar o conceito de euforia e festa do povo da Irlanda. A faixa é densa ao ponto de derrubar qualquer pistinha em terras brasileiras. Mas fica quentinha em bons fones. Ah, vale dar uma sacada no outro single já lançado, “Pollyanna”, que é puro ruidinho de guitarra.
Vamos dar uns créditos aos nossos hermanos argentinos. Quem escuta o Radiohead todo introspectivo em sua versão de estúdio não imagina que plateias são capazes de transformar a melodia de “There, There” em um canto de torcida. Porém, foi o que aconteceu quando a banda se apresentou em Buenos Aires. O registro aparece na novíssima coletânea “Hail to the Thief, Live Recordings 2003-2009”. Que loucura esses argentinos!
Além da Laufey, a Islândia nos traz Of Monster & Men, uma das bandas folk mais queridinhas do mundo. O quinteto está de volta em outubro com o álbum “All Is Love and Pain in the Mouse Parade”. “Ordinary Creature” é o segundo single antecipado, uma alegre canção que ficaria perfeita trilhando qualquer filme naquele momento de virada do personagem principal. “É sobre o momento em que você se sente você novamente após uma bad”, explica melhor a própria banda.
“No Rain, No Flowers” já é o 13° álbum dos produtivos Black Keys. Em uma verdadeira sessão de terapia, a dupla Dan Auerbach e Patrick Carney extirpam todos os problemas dos últimos anos – shows cancelados, pouca repercussão das novidades etc. É como se voltassem a ser os bons amigos interessados em apresentar músicas uma para o outro. Daí o disco ter climas tão variados, percorrendo os gêneros favoritos deles, do blue rock ao soul.
Como quem não quer nada, Lucy Dacus soltou um single duplo com duas músicas que já circulavam ao vivo. A apaixonadinha “More than Friends” entrou agora na turnê do recente “Forever Is a Feeling”, lançado em março. Já “Bus Back to Richmond” rola desde 2021, sempre acompanhada de pedidos da Lucy para que a plateia não gravasse nadinha. Era segredo, agora não é mais.
Ok, como quem não quer nada mesmo foi o Kaytranada, que lançou um single chamado “Space Invaders” e chamou a faixa para o seu novo álbum, que sai já na próxima sexta-feira, dia 15. É cada estratégia de marketing, né? Vamos lá.
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* Na vinheta do Top 10, a cantora americana Ethel Cain.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.