Top 10 Gringo – Geese volta fácil com o número 1 esquisitão. Shame emplaca ensinamentos punk amorosos. A Indigo de Souza vai na mesma linha, mas nem tão punk. Tudo musicão

Setembro vai ser o mês da melhor música em 2025. Ou pelo menos essa é a previsão possível diante do volume de singles que saíram nesta semana, antecipando discos previstos para o nono mês do ano. Vai anotando para não esquecer nada e não se perder no volume de lançamentos. Segundo semestre está aí e não está de brincadeira. 

Os nova-iorquinos do Geese são há um tempo uma de nossas bandas indies favoritas no mundo. Mas tínhamos medo de que o quinteto de amigos da escola se desfizesse justamente pelo fim da escola e o começo da vida adulta – o espertíssimo vocalista Cameron Winter, líder da banda, por exemplo, lançou disco solo e tudo. Para nossa sorte, eles seguem na ativa e vão alcançar o terceiro álbumda carreira, uma sequência para o robusto “3D Country”. “Getting Killed” chega em setembro e o anúncio veio acompanhado de um senhor single, esta “Taxes”, que encabeça nosso top. A faixa começa molenga, com um canto preguiçoso de alguém puto com os impostos, e cai em um refrão assim: “Doutor, doutor, cure-se/ E eu quebrarei meu próprio coração”. Será que o Geese está falando mal do caríssimo custo da saúde nos EUA? Vamos apresentar o conceito de SUS para eles. Musicaça com um vídeo melhor ainda.

Também em setembro sai “Cutthroat”, o novo dos ingleses do Shame. O vocalista Charlie Steen já disse que o álbum trata dos covardes, cuzões e hipócritas. O single “Quiet Life”, que tem uma levada bem Vaccines, repare, prova isso dando a parte sobre os cagões. No caso, o covarde é alguém preso em um relacionamento insatisfatório e incapaz de fazer algo a respeito. “Sou um covarde porque sei que não sei dizer não”, diz um dos versos. Embora soe imediatamente sobre relacionamentos amorosos, a letra da margem para interpretações abertas. O relacionamento ruim pode ser com alguém, mas pode ser também problemas com trabalho, a política, a sociedade. O Shame quase implora: tome as rédeas da própria vida. Faz algo diferente para sair dessa. 

Outra canção nesse sentido é esta “Be Like a Water”, a nova da Indigo de Souza. Ela também parece tratar de um casal com problemas (“Você pode cair fora se quiser/ Não precisar dizer a razão”), mas a própria Indigo defende outras leituras: “Você tem o poder de mudar, a vida é curta para gastar em sofrimento”, argumentou. A faixa estará em seu próximo disco, “Precipice” – esse chega antes, está previsto para o mês que vem!

Nosso carinho pelo Hot Chip está em outra dimensão. Não é só uma das melhores bandas dos últimos 20 anos, mas é também uma banda que a gente se orgulha de ter trazido ao Brasil dentro do Popload Festival. Como esquecer aquele dia, pouco antes da droga da pandemia? Por isso a gente se sente um pouco parte quando descobre que eles celebram seus 20 e poucos anos de estrada com uma coletânea de hits, “Joy in Repetition”. Lembra quando o conceito fazia a gente economizar dinheiro ao não ter que comprar todos os discos? Das coletâneas dessa época, um dos atrativos para quem já tinha tudo era a inclusão de uma inédita e o Hot Chip seguiu a tradição. “Devotion” fecha a coleta. Bateu saudade do nosso velho discman. 

Falando em coletânea, um disco de inéditas com nome digno de compilação é o próximo do Hives: “The Hives Forever Forever The Hives”. “Legalize Living” é o single mais recente do álbum, previsto para agosto. A música mira nesse malestar geral que deixa tudo que a gente gosta com cara de “imoral, ilegal ou engorda”. Por uma vida onde sejamos menos empresa, menos batedor de metas, o Hives implora: “Legalizem o viver”. Como dizem 99% dos jogadores de futebol hoje em dia, vamos “desfrutar”. 

Syd, nossa predileta no grupo Internet, está de volta desde o lançamento do excelente álbum “Broken Heart Club” (2022). O single “Die for This” não parece antecipar por agora um trabalho novo, mas aparece dias antes de ela entrar em turnê com Billie Eilish pelos Estados Unidos – um bom momento para ser “descoberta” por milhares de fãs jovenzinhos que a verão por acaso e com certeza vão se apaixonar. Importante preparar o terreno para os recém-chegados. 

E temos o solo de guitarra do ano. Vem da maior herdeira da St. Vincent que temos: Nilüfer Yanya. A britânica, uma das prediletas da casa, caprichou em seu novo EP, “Dancing Shoes”, uma coleção de tracks feitas com seu parceiro criativo mais fiel, o guitarrista Willma Archer. São músicas que poderiam estar facilmente em seu disco mais recente, “My Method Actor”, mas faltou tempo e eles acabaram sobrando. O repertório vai do estudo de sobreposição de guitarras (“Where to Look”) até a construção de beats gordurosos (“Cold Heart”). Fã de Pixies, Nilüfer sabe fazer melodias chicletes como ninguém. Viciante. 

Ethel Cain descreve “Fuck Me Eyes” como uma ode às garotas que todos condenam, mas desejam ser. Em suas palavras, “aquelas que são perfeitas e têm tudo, mas carregam a reputação de vadias da cidade”. Vai ver é a gente revendo “Twin Peaks”, mas ela tá falando da Laura Palmer? A atmosfera da música caberia como trilha sonora alternativa da série, inclusive. A faixa estará em “Willoughby Tucker, I’ll Always Love You”. 

Saudade das Boygenius? Encontramos um trio de garotas capaz de aplacar um pouco esse sentimento. Folk Bitch Trio é uma banda australiana formada por Grace Sinclair, Jeanie Pilkington e Heide Peverelle. Elas se alternam entre os violões e suas afinações alternativas enquanto capricham em criar as harmonias vocais mais bonitas possíveis. Delícia de ouvir. 

Na febre do retorno, o Oasis emplacou uma nova edição de luxo de “(What’s The Story) Morning Glory?”. Como quase tudo do período já foi lançado, o problema da falta de material inédito foi resolvido um material acústico que parece bem tosco pela mostra dada nesta versão da magnânima “Acquiesce”, o que explicaria ter ficado escondido tanto tempo. Mas os Gallaghers e o clima bom provocado pelos shows da volta transcendem tudo isso. Estão perdoadíssimos.  


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* Na vinheta do Top 10, a banda americana Geese, em foto de Mark Sommerfield.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix