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A POPLOAD traz nos fins de semana algumas colaborações pontuais e selecionadas! A cultura musical latina, o cinema e o hip hop, ganham aos sábados um destaque especial e maior que a cobertura de rock e eletrônico independente que são o cardápio principal do site. O texto abaixo tem o carioca Felipe Evangelista escrevendo sobre o rico mundo do hip hop na seção especial Popload Beats. Hoje ele fala sobre o jovem rapper americano Logic, de Maryland.
POPLOAD BEATS – por Felipe Evangelista
A estreia com classe de LOGIC
* Tirando algumas boas exceções, o ano de 2014 vinha bem devagar no quesito álbuns. A gente teve a estreia do YG, novos trabalhos de lendas como The Roots, Dilated Peoples e Common e alguns outros poucos lançamentos de destaque, como Jeezy, Ab-Soul e Schoolboy Q da TDE, Pharoahe Monch, August Alsina, entre outros. Se fizermos uma comparação, em outubro do ano passado já tinham ganhado as lojas os álbuns de ninguém menos que Jay-Z, Kanye West e J. Cole, isso só para citar os principais.
Com os lançamentos das últimas semanas, porém, a história começa a mudar um pouco de figura. Duas revelações lançaram os seus primeiros trabalhos oficiais. De um lado o EP “Hell Can Wait”, do Vince Staples, e do outro o álbum “Cozz & Effect” do Cozz, nova aposta da gravadora Dreamville, do J. Cole. Outras duas edições relevantes, mas de figuras com uma rodagem maior na cena, são “House Slippers”, do Joell Ortiz, e “GSNT 3: The Troubled Times of Brian Carenard”, do Saigon.
Para completar, tivemos nesta semana dois grandes discos muito aguardados. O rapper T.I. está de volta depois do elogiadíssimo “Trouble Man: Heavy Is the Head”, de 2012, com um novo álbum que leva nos créditos a produção executiva de Pharrell Williams. Em “Paperwork”, o King não brilha tanto quanto no seu último trabalho, mas com algumas boas faixas não deixa de ser uma novidade interessante.
O outro lançamento, e tema da coluna de hoje, é a estreia oficial do rapper Logic.
Quem vê Logic lançando rima atrás de rima em uma intensidade assustadora pode facilmente tirar uma conclusão precipitada sobre esse jovem de 24 anos. Garoto branco, olhos azuis, sorriso na cara e uma tranquilidade plena. O que vem na cabeça? Filhinho-de-papai que teve tudo do bom e do melhor e nunca passou qualquer dificuldade na vida. Ledo engano!
Sir Robert Bryson Hall II nasceu em Gaithersburg, Maryland, cidade próxima à capital Washington. Durante toda a sua infância teve que conviver em um ambiente cercado por drogas, armas e brigas.
Em conversa com a revista “Complex”, Logic falou sobre o preconceito que enfrenta de pessoas que o julgam pela sua aparência. “As pessoas olham para mim tipo assim: ‘Ele é do subúrbio, nasceu rico e a mamãe e o papai pagam por tudo’. Cara, dá o fora daqui. Enquanto eu crescia, tinha armas em casa e meus irmãos vendendo crack. Eu cresci em uma moradia Section 8 (espécie de moradia fornecida pelo governo), com vale-refeição, assistência social e lidando com serviços sociais. Eu nunca tive um Natal, nunca tive um aniversário”.
Já para a “XXL”, ele contou como transforma as dificuldades na infância em inspiração para a música. “Veja, eu não tive ninguém no meu crescimento. Meus pais eram viciados em drogas e em álcool. Eu vi todas essas coisas negativas e todos que estavam a minha volta caíram nessa vida. Então isso foi muito difícil. Mas eu percebi que me ajudou a me tornar o homem que eu sou hoje. Por mais tempo e esforço, emoção, raiva, amor e alegria que você coloca em outro ser humano, você não tem garantia que vai receber isso de volta. E está tudo ok. Tudo certo. Mas eu peguei todas essas coisas e coloquei na minha música. E eu percebi que, tudo o que eu coloco na minha música, eu recebo de volta. Cada hora, dia, mês, ano. Eu recebo de volta.”
O primeiro trabalho oficial de Logic vem depois do lançamento de quatro mixtapes e leva o nome de “Under Pressure”. Com quase nenhuma participação especial clássica do hip hop (apenas Childish Gambino e Big Sean aparecem no disco), ele fez questão de deixar claro desde o início que esse álbum inicial seria dedicado a contar a sua história, então não faria sentido ter outros muitos rappers participando.
A produção executiva de “Under Pressure” ficou a cargo do incansável No I.D., aquele mesmo que nos últimos meses também trabalhou com Common e Jhené Aiko. O produtor também foi um dos responsáveis por levar o rapper para a Def Jam, a gravadora pela qual o disco foi lançado.
O primeiro single, que leva o nome do álbum, já dá uma amostra do que Logic é capaz. Na faixa de mais de 9 minutos, ele começa mandando um foda-se para todo mundo que agora está na sua cola, pedindo por favores e morrendo de amores por sua fama. Do meio para o final da faixa, o rapper narra diversas mensagens de voz deixadas por membros da sua família, algumas inclusive são as próprias mensagens reproduzidas inteiramente.
Nas mensagens, o seu pai e os seus irmãos cobram uma visita ou um telefonema, desejam sorte e o parabenizam pelo sucesso. Em resposta, Logic faz questão de lembrar que hoje é um novo homem, cheio de compromissos e deixa claro que a única coisa que importa para ele é a música.
Na faixa de introdução, o rapper já demonstra a satisfação de ter alcançado o seu objetivo. “Eu costumava imaginar como era a sensação. Mas agora eu sei, atingi o objetivo. Eu corri a corrida, eu ganhei o ouro. Eu costumava imaginar como era a sensação. Você pode realmente fazer qualquer coisa.”
Também na introdução, uma assistente robótica chamada Thalia se apresenta para dizer que ao longo do álbum ela vai revelar informações sobre o disco e a sua criação. Uma dessas informações aparece ao final da faixa “Buried Alive”. Nela são divulgadas as inspirações de Logic enquanto ele gravava o álbum. Outkast, A Tribe Called Quest, Red Hot Chili Peppers e os filmes do Quentin Tarantino. Tarantino é inclusive um dos grandes responsáveis por sua decisão em fazer rap. Ao ver o filme “Kill Bill” no auge da sua adolescência, ele ficou impressionado com a trilha sonora do longa e foi atrás para saber quem era o responsável. Ao descobrir que era RZA, líder do grupo Wu-Tang Clan, ele se aprofundou no gênero e se entregou à sua nova paixão.
Se com o lançamento das primeiras mixtapes, Logic já era considerado uma das grandes revelações da nova geração do hip-hop, com “Under Pressure” ele finca de vez seu nome na lista de destaques. Ainda um pouco atrás de gente como Kendrick Lamar, J. Cole, Big K.R.I.T. e Big Sean, o rapper de Maryland tem tudo para em breve estar encarando de frente esses que hoje são seus ídolos. Com uma gravadora forte por trás, um produtor parceiro do calibre de No I.D. e uma qualidade imensa, a espera não deve ser longa. Inspirações não vão faltar.
*Felipe Evangelista tem 27 anos e passou mais da metade da vida ouvindo hip-hop. É administrador e aspirante a produtor musical.
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