Top 50 da CENA – Stefanie não foge do topo, porque não adianta. Maré Tardia e o hit “Ian Curtis” sobe também. E Jadsa vem bilíngue e chique em terceiro

É muito feriado, né? Não estamos reclamando, imagina. Aqui é pelo fim da escala 6×1 e paz aos trabalhadores. Mas vai encavalando os lançamentos e a gente fica zuretinha. “O que saiu mesmo nesta semana?” O bom é que, depois que (nos) organizamos, basta você dar play e curtir o melhor da CENA. 

O rap nacional sabe esperar por álbuns. Emicida, por exemplo, precisou de muitas mixtapes até seu primeiro. Marechal, Ice Blue ainda prometem o seu – alguns juram que já ouviram e tudo. Stefanie esteve nesse time por mais uma década, não está mais. Seu flow único, reconhecido em grupos como Simples e Rimas & Melodias e singles solo, agora esparrama por dez faixas inéditas em “BUNMI”. “Não larguei mão e minha caneta ainda tem carga/ Travei várias luta, vivi vários luto/ Pra conseguir ficar tive que construir o meu reduto” versa Stefanie em “Fugir Não Adianta”, relato onde confessa sua quase desistência geral. Mas se o trajeto até aqui foi duro, agora entrega seus frutos, muito bem colhidos nas mãos seguras da produção tocada por Grou e Daniel Ganjaman, nome presente em quase todos os clássicos do rap nacional.  

Na cena independente do Espírito Santo, muitos nomes jamais tocariam no rádio (Mukeka Di Rato) enquanto alguns até tiveram seus momentos (Dead Fish). A Maré Tardia com sua mistura de indie/surf music/punk parece ser o contato dessa cena local com um tipo de rock que já foi muito grande no Brasil. Pense em Los Hermanos ou Titãs, grupos que traduziram nichos para as massas. Energia para chegar lá eles têm, e quem viu os shows da banda no “Circuito – Nova Música, Novos Caminhos” sabe do que estamos falando. Ah, se ainda tivesse MTV no Brasil, ia tocar muito na telinha. Fora que os meninos rendem até um pôster na “Capricho”, sabe? O legal é que nessa surf music deles cabe uma marolinha em Manchester para saudar o nublado Ian Curtis. Musicaça.

Em uma mistura charmosa de inglês e português, Jadsa versa contra a ansiedade perturbadora de sua paz. “Trust me/ Don’t forget/ Be alive and breathe/ Sempre que der”. O respiro no solo de trompete de Eduardo Santana. Daquelas músicas capazes de preencher fisicamente um espaço, trazer paz. Outra que encantou no último “Circuito – Nova Música, Novos Caminhos”, agora só vemos Jadsa de novo quando “big buraco” for lançado. Que seja breve!

Gabriel Ventura já tinha soltado dois singles neste ano, “Fogos” e “E o Que Quiser de Mim”. Agora soltou mais dois, “O Enfeite do Não e o Sim” e “Toda Canção”. São as últimas prévias dos seu próximo solo, “Pra Me Lembrar de Insistir”, programado para mês que vem pela Balaclava Records. Guitarrista dos barulhentos, é interessante ver Gabriel se desdobrar na busca por texturas acústicas. “Toda Canção”, uma reflexão sobre a incompatibilidade do amor e da dor, é total levada por violão, baixo acústico, bateria e clarinete, mas tem seu gostinho noise entremeado. 

No estrangeiro e talvez preparando material novo, Tim aproveitou a “folga” para gravar duas composições suas conhecidas nas vozes de Maria Bethânia (“Prudência”) e Alaíde Costa (“Praga”), esta última parceria sua com Erasmo Carlos”. “Dois sambas que são rock n roll disfarçado”, ele comenta. Do conjunto, ele escolheu “Prudência” para recriar em vídeo a estética do programa MPB Especial/Ensaio, a joia televisa inventada por Fernando Faro responsável por registrar o melhor da música brasileira a partir dos anos 70. Tim não teve a sorte de participar do programa, certamente seria um convidado, mas agora a seu jeito ele está lá. 

A banda paranaense Marrakesh, baseadíssima em SP, lança o segundo single do resto de suas vidas, “Brincos”, música que junto com “Talvez” puxarão o novo álbum do quarteto, a ser lançado ainda neste ano pela Balaclava Records e agora todo ele em português. O clima denso quase shoegaze, um tanto indie de “Brincos”, mais a residência em São Paulo, combinam com o clima “The Office” do plano invertido do caprichado vídeo, que saiu junto com o áudio. “Essa faixa tem uma energia de ironia e colapso — como se algo estivesse sempre à beira de desabar”, disse Truno, o vocalista. Ouvindo esta “Brincos”, é essa mesma a sensação que fica.

Não deixe escapar dos seus ouvidos um dos discos do ano por conta de algoritmos. Talvez “Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso” não tenha sido recomendado pelo seu streaming por não ser o nome de um artista conhecido. Mas o nome da peça de teatro de Felipe Hirsch também nomeia o “artista” autor da trilha sonora do projeto, formada por um time brilhante da cena paulistana. Vamos explicar melhor: A releitura da peça de Hirsch é calcada num conjunto de muitas músicas inéditas sobre SP, com direção de Maria Beraldo. Para salvar as canções da efemeridade diária do teatro, Maria Beraldo produziu com a banda da peça, formada por um grande elenco como Negro Leo, Thalin, Lello Bezerra, Heloísa Alvino, Fábio Sá, Julia Toledo e Gui Calzavara, uma trilha sonora para o espetáculo. Unindo compositores e atores, o álbum registra para sempre as faixas compostas por um time de peso absurdo: Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Langelo, Pirlo, Jards Macalé, Maurício Pereira, Negro Léo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes, Tim Bernardes e Tulipa Ruiz. Assim SP ganha mais um retratinho para chamar de seu – dos milhões de pontos de vista possíveis, esses artistas trazem mais que seu olhar atento ao que escapa. É a capacidade de tornar o incompreensível da maior cidade do país em algo para se ouvir, cantar junto e quem sabe compreender um pouquinho do que passa naqueles milhões de corações que atravessam (ou nem chegam) na Avenida Paulista. 

“Não sei se foi amor ou se foi onda de loló” deve ser a frase mais legal cunhada numa música em português hoje. Não sei se a Charli XCX seria capaz. Se o primeiro disco da banda carioca, esse “Veras I”, que saiu nesta semana, fosse lançado tipo no ano passado, duvidamos que a brit Charli não chamaria as Veras para fazer um dos remixes, tipo como fez com o Troyan Sivan, Billie Eilish e Lorde. O Cansei de Ser Sexy tem um sucessor, finalmente. Aprovados por Fausto Fawcett e Noporn. Maravilha!

“Não tem nada para ver aqui” é um título que tenta despistar, mas tem muito o que se ver na destacada estreia do quarteto paulistano Celacanto. Eduardo Barco (guitarra e sanfona), Giovanni Lenti (bateria), Matheus Costa (baixo) e Miguel Lian (voz e guitarra) entregaram uma estreia concisa, um álbum sabedor de si, conceitual, explorando a pressa do mundo. Como ficar de pé na correnteza moderna? Ainda uma banda jovem tateando seu caminho, as marcas das influências ainda mostram suas nuances, algo que eles não tentam esconder, outro mérito. “Dançado Sozinho” é Radiohead purinho e eles estão cientes da homenagem. Mas tem muito mais que Radiohead pelo disco. A faixa de abertura que leva o nome do álbum poderia ser do Squid ou de outros nomes do pós-punk atual. Para o bem ou para o mal, eles estão conectados na máquina, daí que vem o registro fiel do hoje.

Guarde seu lado mais crítico, até porque isso é fato: as músicas do Charlie Brown Jr. guardam uma doçura. Era o jeito Chorão de ser. A agressividade no som e até na vida pessoal eram a proteção de um sonhador. O que explica até sua tristeza quando o mercado traiu a banda, como acaba traindo todos os artistas. E foi atrás dessa doçura que o trio João Gomes, Jota.pê e Mestrinho sacou uma do repertório do Charlie Brown Jr. para o seu disco “Dominguinho”, um álbum de releituras do material do trio em formato bem rústico – tudo ao vivo, ao ar livre e com poucos instrumentos. Uma resposta ao “Tardezinha” do Thiaguinho agora com sanfona, talvez. 

11 – Tagua Tagua – “Let It Go” (5) 
12 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (6) 
13 – Terno Rei – “Peito” (7)
14 – Rachael Reis – “Jorge Ben” (8)
15 – Pélico – “Te Esperei” (com CATTO) (9)
16 – Moptop – “Last Time” (10) 
17 – Metade de Mim – “Metade” (11) 
18 – Bella e o Olmo da Bruxa – “A Melhor Música do Mundo” (12)
19 – Terno Rei – “Nenhuma Estrela” (13) 
20 – Gab Ferreira – “Carrossel” (14)
21 – Enme – “Esperando o Sinal” (com FBC) (15)
22 – Marina Sena – “Anjo” (16)
23 – Mahmundi – “Irreversível” (17)
24 – Superafim – “MOUTH” (com Duda Beat) (18)  
25 – Julia Mestre – “Vampira” (19) 
26 – Clara Bicho – “Cores da TV” (21) 
27 – Rael – “Onda (Citaçaõ A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (22)
28 – Leves Passos – “Ecos do Invisível” (23) 
29 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (24)
30  – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (25)
31 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (26)
32 – Danilo Moralles – “Fervo de Amor” (27)
33 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (29)
34 – Bufo Borealis – “Urca” (30)
35 – Terraplana – “Todo Dia” (31)
36 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (34)
37 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (36)
38 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (37)
39 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (38)
40 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (39)
41 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (40)
42 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (41)
44 – Gabriel Ventura – “Fogos” (42) 
45  – Nyron Higor – “São Só Palavras” (43)
46 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (44)
47 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (45)
47 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (46)
48 – Heal Mura – “Wu Wei” (47)
49 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (48)
50 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (49)


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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a rapper paulista Stefanie.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.