

Se você ainda não assistiu à peça “Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso”, de Felipe Hirsch, que estreou no Teatro Sesi-SP em fevereiro deste ano e segue em cartaz até junho, saiba que a importante trilha sonora do espetáculo, aliás o coração da obra, longa mas imperdível, foi lançada hoje, o que torna a ida ao teatro para ver a peça uma intimação, se já não era.

O projeto nasceu de um convite do Teatro Sesi para revisitar a peça “Avenida Dropsie”, dirigida por Hirsch 20 anos atrás no mesmo espaço. A partir do mesmo conceito, os cortiços do Bronx se transformaram em cenas cotidianas na icônica Avenida Paulista.
Para trazer a atmosfera da cidade para os palcos, Hirsch contou com Maria Beraldo como diretora musical, com quem colabora em seus projetos desde 2018, e reuniu um grupo excepcional de compositores para capturar a essência de São Paulo.
“Reconheço, neste momento de São Paulo, uma geração incontornável, extraordinária mesmo, criando discos inspirados, um atrás do outro, na terra da Lira de Itamar e Arrigo, na cidade de Racionais e Mutantes, de Walter Franco, Tom Zé e da Tropicália, de Ná e Tatit, e tantas outras constelações”, afirma Felipe Hirsch.
O que começou com um pedido para compor uma música sobre sua relação com a cidade se tornou um conjunto de 25 músicas, quase todas inéditas, de Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Langelo, Pirlo, Jards Macalé, Maurício Pereira, Negro Léo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes, Tim Bernardes e Tulipa Ruiz.
Para dar vida às canções, Maria Beraldo foi a responsável por montar a banda que toca ao vivo durante toda a temporada. Ela é formada por Negro Leo, Thalin, Lello Bezerra, Heloísa Alvino, Fábio Sá, Julia Toledo e Gui Calzavara. Um grande elenco.

“Chegou um momento, enquanto estávamos criando a peça, em que aquele conjunto de músicas, aquele encontro de pessoas, foi virando algo tão grande, como um tsunami que se erguia à nossa frente, que o Felipe virou pra mim — quase fatalista, mas muito entusiasmado — e disse: ‘Vamos ter que gravar isso tudo. E antes de estrear a peça’”, conta Beraldo.
Começou ali um desafio: reunir 35 artistas, em janeiro deste ano, antes que a peça começasse, para gravar as 26 músicas. Numa decisão interessantíssima, Maria Beraldo uniu os compositores das canções com os atores que as interpretam na peça para gravar cada faixa e o resultado foi absurdo. O absurdo que é São Paulo.
Quando eu digo que este álbum está absurdo, peço que não leiam essa palavra apenas como um adjetivo descritivo. Vou pegar emprestado o conceito do filósofo francês Albert Camus, que coloca o absurdo como “a relação entre o ser humano e o mundo, e a resposta a essa relação é a revolta”.
Este álbum é uma revolta. Uma contemplação sobre o cotidiano, as diferentes visões de um mesmo lugar pela ótica de alguns dos maiores artistas que esta cidade abriga atualmente. Enfim, um absurdo.

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* A peça “Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso” segue em cartaz no Teatro Sesi-SP, de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 19h, até 29 de junho. Os ingressos são gratuitos e você pode retirar o seu neste link. Enquanto isso, você pode ouvir o álbum completo – uma das músicas será disponibilizada em breve -, lançado pelo Selo Risco, em todas as plataformas de streaming.
** As fotos deste post são da Helena Wolfenson e a capa do disco foi feita por Bruno Senise.