Respeitem nossa dor. Tivemos que editar esse post enquanto juntamos os cacos após a notícia de que o Fontaines D.C não vem mais ao Brasil. É por motivo de saúde e a gente superentende, mas porra, dói mesmo assim. Para aliviar a agonia um pouco, só as melhores da semana – e esta semana entregou, como diria Chappell Roan, uma das escolhidas da vez.

Na semana passada premiamos as irmãs Haim sem precisar ouvir a nova música delas. Agora estamos com “Relationships” nos fones e que retorno, hein? Mantendo a parceria do trio com o espeeeerto produtor Rostam, ex-Vampire Weekend, e acrescentando Buddy Ross e Tobias Tesso Jr. no molho, as Haim parecem firmar uma pequena mudança no som, inclinando mais para o pop – algo que já estava no horizonte há um tempo. E é um caminho que supercombina com elas, afinal a pretensão aqui é humildemente ter feito o “hino do verão das garotas solteiras”. Fora que a capa do single tira uma onda com uma foto clássica da Nicole Kidman supostamente comemorando seu término com o Tom Cruise. Mais Hollywood e pop que isso é impossível. Melhor música das Haim?
E a Danielle Haim teve dupla jornada nesta semana. Junto com o single lançado com suas irmãs saiu também uma inédita do Bon Iver que tem a participação dela. “If Only I Could Wait” é uma das duas novas músicas que antecipam “fABLE”, o próximo álbum do artista norte-americano. A faixa se relaciona com “Relationships” ao abordar a dificuldade de manter uma relacionamento de pé quando só um dos lados sustenta a história. A diferença é que a abordagem Bon Iver é ligeiramente mais dramática, digamos.
Ainda no mundo dos relacionamentos partidos, Lucy Dacus chega com a barulhentinha “Talk”, doce nos versos e distorcida no refrão cheio de pausas. A pergunta que fica para o outro é simples: “Por que não conversamos mais? A gente falava por horas”. As pausas do refrão soam como o silêncio após a pergunta. Quem já viveu sabe. Silêncio de doer. E, sim, é Julien Baker ali no backing vocal – tudo para matar nossa saudade de Boygenius conta e para celebrar o fato de que elas assumiram o namoro. Algo que todos os fãs meio que já sabiam. Falta pouco para o lançamento de “Forever Is a Feeling”, quarto álbum da Lucy.
Após apresentar seu lado roqueira do começo do século XXI em “Love In Real Life”, o single anterior, Lizzo volta a sua velha casinha no groove de “Still Bad”, outra canção liberada de “Love In Real Life”, seu próximo álbum. Ainda que a linha de baixo caísse bem em uma música do Talking Heads, o resto da música é muito (muito) disco, com direito a todas as marcas do gênero – da guitarrinha aos coros. Tudo bem, gostamos também. Os Strokes da era “Angles” tentou fazer uma dessas.
Saca “Nós Somos a Turma”, do Ratos de Porão. Quando os punks só querem tirar uma onda fica meio assim. E essa é a onda dos californianos do Fidlar na inédita “New Tattoo”, a única novidade da edição de luxo de “Surviving The Dream”. Remédios, terapia? Que nada, uma tatuagem nova basta para esquecer você.
Gostamos quando um disco começa com a guitarra apitando. Funciona como uma dica: vem sujeira por aí. E é isso que o trio HotWax (que nome) entrega em sua estreia, “Hot Shock”. Formada por um trio básico, Tallulah Sim-Savage (vocalista e guitarra), Lola Sam (baixo) e Alfie Sayers (bateria), elas não inventam. São os três instrumentos e pouquíssima produção extra – no máximo, uma guitarra dobrada aqui ou acolá. O álbum é como ver e ouvir elas ao vivo na garagem – depois, descobrimos que elas convidaram os amigos para ver o processo de gravação, recriando o espírito do shows. Funcionou.
Há umas semanas comentamos por aqui como “Impossible Germany”, do Wilco, era uma música menor antes de Nels Cline entrar para banda e acrescentar seu solo magistral na canção. E agora, para entender um pouco a mente do guitarrista, nada melhor que ouvir seu mais novo disco solo. Disco solo onde o artista apresenta como um quarteto já no título, “Consentrik Quartet”. Cline na guitarra, Ingrid Laubrock no saxofone, Chris Lightcap no baixo e Tom Rainey na bateria. O resultado é algo entre o jazz e o noise, já que as composições são muito jazzísticas, mas a guitarra de Cline não se enquadra no seu espaço comum. Só ver a conversa entre sax e guitarra em “Satomi”, uma jornada de nove minutos onde cordas e sopros tentam falar a mesma língua.
Virar um fenômeno aos poucos exige cuidados especiais. Chappell Roan lançou seu álbum de estreia em 2023, explodiu com sua tour em 2024 e agora prepara aos poucos as novas canções. “The Giver”, apresentada ao vivo no “Saturday Night Live” no ano passado, finalmente saiu oficialmente. É uma balada country que tira os machões do gênero de cena: “Ain’t no country boy quitter/ I get the job done”, canta Chappell, avisando que sabe cuidar das mulheres melhor que os agroboys, se é que você nos entende. Essa entrega mesmo.
É comum no rap ter uma tiração de onda de quem faz mais dinheiro. Lil Nas resolveu tirar uma onda parecida, mas por outro viés. Para diminuir seu concorrente no páreo, ele pergunta para a pessoa se o outro já fez música com o Daft Punk (Lil já fez) ou se já esgotou alguma turnê (ele já) ou já se sentou ao lado Anna Wintour, chefona da “Vogue” (ele também já). “Damn, he ain’t that fun”, crava Lil. Divertido mesmo é esse chicletinho. Mais um dele.
Semana passada fechamos o Top 10 com uma prévia da música das Haim. Que tal repetir a dose e dar uma chance para músicas que ainda não conhecemos? É o caso da “nova” do Wet Leg. A banda reativou seu site e seu Instagram enquanto se prepara para uma boa turnê de verão pelos grandes festivais e deixou escapar um trechinho de som inédito em um post, provavelmente de um single a ser lançado nos . Os poucos segundos apresentam uma linha de baixo super sexy e uma letra que fala em “man down”. Bem sugestivo.
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* Na vinheta do Top 10, a banda americana de irmãs Haim.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.