Encontramos força em algum lugar e voltamos ao trabalho em plena Quarta de Cinzas. Afinal, é preciso honrar nossa pesquisa semanal atrás das melhores músicas internacionais possíveis. E os gringos capricharam. Afinal, sem Carnaval, eles tiveram que trabalhar normalmente. Sorte a nossa que ficamos com o melhor dos dois mundos.

Parece que estamos em LA, perto do verão do amor, e Panda Bear entra no rádio entre um som do Beach Boys e outro do Mamas and the Papas. É assim que soa o clima de “Sinister Grift” com sua atmosfera e harmonias super-retrôs. Esse é o primeiro álbum de Noah Lennox, aka Panda Bear, em cinco anos. Todo gravado em Lisboa, onde mora há tempos, com direito a trechos em português registrados pela filha de Noah e tudo. Tem participações de Cindy Lee, Rivka Ravede e de todos os amigos de Animal Collective – é o primeiro álbum solo do Panda Bear em que isso acontece.
Após cinco anos sem disco novo, Will Toledo e seu Car Seat Headrest voltam com um projeto que é a cara da banda: um disco conceitual ao modo ópera rock. O projeto ambicioso já diz a que veio no primeiro single, um som de mais de dez minutos com diversas partes, honrando a tradição do gênero – The Who e Green Day aprovariam. “The Scholars” sai pela Matador no dia 2 de maio. E promete ser discão.
Ainda na editoria “sumidos”, quem volta depois de muito tempo é o Tune-Yards, duo formado por Merrill Garbus e Nate Brenner – lembra? Até causaram bastante em uma passagem por São Paulo no Cine Joia, mas essa é uma outra história. “Better Dreaming” será o primeiro disco de estúdio desde 2021. O single “Limelight” mantém a tradição esquisitinha da sonoridade do álbum. Remete um tiquinho ao Talking Heads, para ficar em uma referência bem objetiva. O álbum sai em maio.
A gente imagina que o nome Nicolás Jaar remete a um som específico aí na sua cabeça, certo? Ampliando os sentidos da música eletrônica diferentona que você imaginou, Jaar mantém uma banda com Dave Harrington (e agora com Tlacael Esparza) chamada Darkside. De acordo com o “Público”, jornal de Portugal, eles fazem “funk líquido para tempos duros”. Achamos curioso. Sim, tematicamente é um disco carregado – uma das faixas leva o nome de “Hell Suite” e tem versos para John Lennon chorar, como “Imagine all the people living in hell/ Doesn’t take much”. Mas não deixa de ser curioso que o álbum soe na real otimista ao ser um elogio à criatividade e ao improviso ao encontrar em longas jams temas instrumentais agradáveis. Mesmo o que soa esquisito ou fora do lugar passa longe de soar incômodo ou perturbador. É uma busca artística tortuosa, mas mais parceira do ouvinte. Se tem um tanto de trilha sonora do fim do mundo aqui, pode ser, mas eles tão pensando de maneira bem menos cínica que o habitual, viu? E isso é muito bom.
O pessoal do “Stereogum”, site musical americano bem bacana, pegou no pé da turma do Bedridden por conta do nome da banda – em tradução livre, “Acamados”. A gente achou o nome de um humor peculiar, digamos. Onde concordamos com o site é que o som da banda vai em uma onda retrô legalzinha de olho no rock alternativo dos anos 90. Alguns jogam o grupo no balaio do shoegaze, mas a gente acha que é outra parada. Eles são mais pop e energéticos. “Moths Strapped to Each Other’s Backs” será lançado em abril.
Depois de deitar na perfeita releitura do disco “About Damn Time”, hit de 2022, Lizzo mira agora no indie rock e faz aquela que o Strokes ficou devendo – o timbre da guitarra é idêntico a “Last Nite”. “Love in Real Life” é um rock sujinho meio apaixonado de olho em todos os ganchos possíveis. A faixa também dá nome ao futuro disco de Lizzo, previsto para este ano ainda.
Seguindo a tendência moderna de soltar música inédita mesmo pouco tempo depois de ter soltado um disco novinho, Halsey traz ao mundo “Safeword”. Provavelmente, o single é uma forma de impulsionar sua tour, em fase de venda de ingressos. Seja lá qual for a razão, ganhamos uma divertida música sobre BDSM e oportunidade de Halsey mostrar seu lado mais bubblegum + riot grrl + punk. “I’m not a bad girl, I just like it wild style”
Não tem muito tempo que vimos em um Popload Gig que Billy Idol “still dancing” – show marcante também por ser o primeiro pós-pandemia. Mas Idol quer afimar isso ao mundo e daí colocou essa energia em canção, remetendo ao clássico “Dancing with Myself”. A faixa estará em “Dream into It”, seu primeiro álbum de inéditas em 11 anos. O reflexo de uma jornada aparece também nas participações especiais, com vozes de diferentes gerações: Avril Lavigne, Joan Jett e Alison Mosshart.
Charli quem? Nada mais lógico que Rebecca Black fazer um baita álbum na linha hyperpop. Conhecida pela música-meme “Friday”, tão ironizada pelo excessivo autotune e por se vídeo tosco 14 atrás, quando ela era só uma criança e a internet não perdoou, Black dá a volta no estigma que rendeu uma adolescência com depressão e ressignifica toda sua carreira artística e vida pessoal. Só ver seu set supercool no Boiler Room para entender o novo patamar que ela alcançou.
É raro uma proposta de disco acústico ser muito criativa. Nos acústicos MTV da vida até que alguns artistas tentam ousar, mas na maioria do tempo música pop acústica é tirar a mão para soar mais leve, mais palatável. Contradizendo a lógica, Mdou Moctar, sem dúvida o guitarrista mais inventivo de sua geração, resolveu reler todinho no violão “Funeral for Justice”, álbum lançado no ano passado. Sem o peso da distorção, ele e sua banda encontram novos sentidos para as composições, mudando radicalmente os arranjos. É muito mais do que tirar o pé – é sobre expandir a sonoridade, encontrar novas belezas. Uma experiência e tanto é ouvir na sequência a original e a versão acústica, nem parece a mesma canção.
***
* Na vinheta do Top 10, o músico americano Panda Bear, em foto de Chris Shonting.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.