Semana de boas novas. Kendrick Lamar lançando um disco DO NADA. O Popload Festival voltando COM TUDO. Primeiro disco solo da excelentíssima KIM DEAL. Quer mais o quê? Até uma improvável reunião do Hot Chip com o Sleaford Mods rolou, pô.
No esporte sempre rola a dificuldade de rotular quem é o melhor da história. Porque o esporte muda radicalmente de tempos em tempos. Como se compara Pelé a Messi, por exemplo? Esse tipo de discussão chega na música e é o tipo de conversa que há muito ronda Kendrick Lamar. Como comparar com os mestres de outras épocas e contextos? Como traçar sua importância em confronto com artistas que tiveram menos tempo de vida criativa, como Biggie e 2Pac? Ou lendas que ainda estão vivas, como Jay Z ou Ye? São perguntas que ficam. O que temos para agora é que Kendrick tem o tamanho do artista que dispensa todas as regras não escritas da indústria. Pode lançar um disco sem alarde e isso vai ter o impacto de uma campanha multimilionária. É a música dele falando por si só em tempos que ninguém mais acha que música pode andar sozinha. Olhe o peso de uma música como “Reincarnated”, que soa clássica nos primeiros segundos ao retomar um sample justamente de 2Pac, uma provável referência a sua briga com Drake, que meteu um 2Pac feito de IA num de seus raps em resposta ao Kendrick. Na letra, Kendrick reflete sobre suas vidas passadas e fala sobre si mesmo na terceira pessoa em um texto cheio de referências bíblicas – e não soa arrogante!
Conforme previsto pelos singles, o primeiro disco solo da Kim Deal mostra a força criativa dela – força que talvez hoje falta aos Pixies, sua antiga banda. Pela primeira vez também estrelando uma capa de um projeto seu, Kim, sozinha, sem Pixies, sem Breeders, pode ampliar seus interesses e ideias. “Nobody Loves You More” é uma daquelas canções simples e direto ao coração, ao modo Leonard Cohen ou um tanto Lou Reed. Pouco texto, cortantes versos e um arranjo que não tem medo de soar um tiquinho brega. Estamos falando de um dos discos mais importantes do ano – e pensar que Kim sofreu e custou tanto para conseguir desfrutar esse espaço.
“Bruises” é o disco de estreia da australiana Total Tommy, codinome adotado por Jess Holt. Muito elogiado lá fora, o álbum é uma coleta interessante de um rock que soa ao mesmo tempo supernostálgico e superatual – aquela vibe de quem viveu enfurnado no quarto escrevendo as canções mais grudentas possíveis enquanto se alimentava de Nirvana, Pixes e outras bandas tão pegajosas quanto. Não estranhe se ela virar a melhor amiga da Olivia Rodrigo em breve.
E por falar em amiga da Olivia Rodrigo… Leram o jornal ontem/hoje? St. Vincent, que abre em março um show da Olivia em Curitiba, está confirmada como a mais nova atração do Popload Festival em maio. Sim, para quem ainda não percebeu, voltamos! E em grande estilo, com uma realização e tanto no central e delicioso Parque Ibirapuera, em 31 de maio. Será que a St. Vincent vai cantar alguma da versão em espanhol de “All Born Screaming”? Precisa? E vocês viram quem foi a primeira atração divulgada, certo?
A primeira atração anunciada foi a charmosíssima cantora e música nova-iorquina Norah Jones. Que traz para o Popload Festival o show de seu excelente álbum, “Visions”, lançado no começo de 2024. É o som mais solzinho leve noitinha agradável no Ibirapuera possível esse disco. Vai ser perfeito.
Dá para dizer que a dupla britânica Disclosure anda numa fase inspirada. Os irmãos Guy e Howard Lawrence, que costumam alternar altos e baixos, emplacaram um dos hits do ano com a delícia “She’s Gone, Dance On” e seguem na maré boa com um par de singles interessante: em outubro foi “Arachnids”, agora esta “King Steps”, parceria com o rapper Pa Salieu. Ambos trazem capas bem parecidas, será sinal de disco novo? 2025 tá aí, gente.
Antes de arrepiar no Popload Gig, o Franz Ferdinand visitou terras argentinas e convidou o duo local Pacifica para abrir seu show por lá. Alex Kapranos conheceu a dupla formada por Inés Adam e Martina Nintzel pelas redes sociais, onde elas viralizaram fazendo uma série de covers. Mas a música que chamou a atenção do escocês foi uma composta pelas meninas, “With or without You” ainda em uma versão caseira. Ele começou a seguir a dupla e anos depois pintou a chance de elas abrirem para o Franz. Tudo no seu tempo, veja só.
Parece a parceria mais improvável de todos os tempos: os certinhos do Hot Chip encontram os malvados punks do Sleafords Mods. Mas o combo deu liga! Em um dia de trabalho em Abbey Road, o “Hot Mods” fechou duas músicas e o material virou este single que terá os fundos revertidos para a ONG Warchild. Quem sabe eles animam fazer mais umas musiquinhas, né?
E pensar que há poucos dias estávamos ouvindo ao vivo em primeira mão essa inédita do Franz, hein? Mais um single do próximo trabalho do escocês, a sacolejante “Night or Day” foi antecipada no show de São Paulo. Tocada logo ali no começo da apresentação pelo Popload Gig, a música que é conduzida por um tecladinho pegou. Estamos confiantes no futuro de Alex e cia. Disco novo sai no comecinho de janeiro.
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* Na vinheta do Top 10, o rapper americano Kendrick Lamar.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.