Do alto de seus 21 anos, Nina Maia já tem para mostrar um currículo interessante, tendo trabalhado com artistas do porte de Maria Gadu e Tiê em trilhas sonoras para filmes, participado de projetos como a banda Eiras e Beiras e colaborado em músicas de amigos, como “Falando Nisso”, de Valentim Frateschi.
Mas, na hora de sua carreira solo, Nina se escondia atrás de seu teclado Nord e fazia questão de dividir seu protagonismo artístico ao sempre levar a violoncelista, Francisca Barreto, sua amiga de escola, em apresentações como duo.
“Inteira”, seu primeiro álbum solo, sozinha e solitária, ela com ela mesmo, simbolizado por seu rosto estampado grande na capa (abaixo) dessa sua estreia finalmente lançada nesta semana, é uma ruptura e tanto. O nome do disco não é gratuito.
Esse processo de se assumir estrela de si mesma teve início meses atrás, no comecinho do ano, e foi ao vivo, em uma apresentação sua no Centro da Terra, espaço cultural alternativo da cidade, e veio crescendo.
Foi a partir deste show em especial, e todos os subsequentes em 2024, que aos poucos a persona artística de Nina e seu álbum foram se materializando. E se consolidando. E o fato de levar as músicas para fora do estúdio para experimentá-las ao vivo deu um toque diferente para seu trabalho de estreia.
“Fazer shows e tocar as músicas ao vivo antes de gravar o disco também ajudou a entendermos os caminhos da produção”, comenta Nina, que, em outro sinal de que ela apareceu por “inteira”, também assina como co-produtora do disco, ao lado do namorado Yann Dardenne.
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“Fomos testando propostas diferentes nestas apresentações, sentindo ao vivo as possibilidades dos arranjos de cada canção”, ela completou.
A raiz deste disco, que nasce dessas sementes plantadas ao longo da sua jornada, é sua famosa voz. Esse vocal de timbres únicos, um mix entre graves meio roucos que vai a um agudo que reverbera nos ouvidos, é o destaque das músicas.
E a produção foi certeira em identificar isso, criando arranjos que crescem em cima dos vocais sem os sobrecarregá-los de substanciais intervenções eletrônicas.
Quando falamos em vocais fica o destaque para as faixas “Caricatura”, que abre o disco de forma imponente, com o pé na porta. E para “Mar Adentro”, que começa grave e evolui para uma balada de referências latinas cujos vocais, com suas amplificações eletrônicas, são a força motriz.
Vamos voltar à produção rapidamente.
Yann Dardenne, co-produtor de “Inteira” e companheiro de Nina, também atua no selo independente Seloki Records, que é responsável por este lançamento.
Com seu olhar tão próximo a Nina, Yann conseguiu captar perfeitamente cada nuance de suas músicas e amplificá-las para um produto final muito interessante, que mistura sua capacidade técnica vocais com elementos eletrônicos em encaixes certeiros.
Além da produção do disco, Yann comandou as gravações com a banda que ao mesmo tempo construiu o disco e também estará nas apresentações ao vivo de Nina, formada por ela no vocal, piano e guitarra, Thalin (do projeto “Maria Esmeralda”) na bateria, Valentim Frateschi no baixo, Thales Hashiguti na viola e violino, e a sister Francisca Barreto no cello.
Há ainda a engenharia sonora de outra figura, a produtora Alejandra Luciani, venezuelana já brasileira, que ajudou a equalizar toques eletrônicos graves à personalíssima voz grave de Nina, estabelecendo um duelo bem interessante na maioria das músicas. A instrumentação não ficava submissa à voz de Nina nem o contrário.
Em “Inteira”, o álbum, ao longo de intensas oito faixas, Nina Maia conta uma história ali, talvez a sua mesmo, para burilar e consolidar sua visão musical, saindo de uma “Caricatura”, indo de “Menininha” a uma mulher “Inteira” sem esquecer os dissabores da vida tipo “Amargo” e dando um “Salto de Fé”.
Um arco narrativo, estilo coming- of-age completo, uma autodiscobiografia completa para quem ainda tem só 21 anos e ainda se encontrando e se ajeitando na verve da MPB, timbres eletrônicos e até no samba. E, de acordo com sua idade, sugerindo novos caminhos.
Uma Nina agora inteira, sim, mas ainda só no começo de uma interessante jornada, que com certeza acompanharemos.
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* As fotos de Nina Maia usadas neste post são de Elisa Mendes/ Fabulosa.CC