Top 50 da CENA – O samba pede passagem, com Janine Mathias e… Nina Maia. Para fechar as novidades, um rap du bom e três clássicos revisitados

Semana de samba no topo da nossa lista! Uma samba com rap, mas um samba na linha tradicional pensado por Janine Mathias, uma das vozes novas do gênero. Na sequência, um sambinha de Nina Maia, com toda estranheza que isso pode causar, mas que é muito natural para a geração dela. Também na lista da semana uma coincidência engraçada: três regravações muito especiais lançadas praticamente no mesmo dia. Que coisa essas andanças da música brasileira, nesse recorte do agora. 

Saudade de ouvir o Criolo rimando em velocidade cortante? É o Criolo que aparece no novo single de Janine Mathias, artista de Brasília que cresceu justamente entre o samba e o rap. E ela aqui também mostra seu lado versador nessa composição sua e de João da Gente, um samba de quem perde o lar, mas não perde a força e a fé – alguém lembrou também de “Saudosa Maloca”? A produção é do sempre certeiro Rodrigo Campos. 

Com sua voz fora da curva nas canções que habita, seja pop, um certo jazz ou as com uma levada eletrônica, a especial Nina Maia escolheu para fechar seu primeiro disco um samba. “Inteira”, que dá nome ao disco lançado nesta quinta-feira. Um samba do jeito dela, do jeito de seu parceiro co-produtor Yann Dardenne e com as preciosas buriladas sonoras da produtora Alejandra Luciani, engenheira venezuelana que já entendeu o que pode a ginga brasileira. “Inteira” fecha “Inteira” e você pensa, no final da música: “Wow”.

Em celebração aos 50 anos do hip hop, “A Mensagem” é uma coleta pensada por Kl Jay e Mari Paulino para homenagear alguns clássicos nacionais. A dupla escolheu dez sons e chamou a nova geração para reimaginar tudo. Tem Clara Lima e Ashira fazendo uma da Dina Di, Rael e Kayode com uma do 509-E, Akira Presidente com uma do Planet Hemp, entre outras coisas mais. Nesta festa, um dos melhores presentes fica com Amiri, que refaz “Rap Du Bom” de Rappin Hood, um rap clássico que homenageia justamente os clássicos do gênero. Formou.

Ao cantar o repertório de Gal Costa em “Beleza São Coisas Acesas por Dentro”, Filipe Catto precisou deixar algumas coisas de fora da seleção final do álbum, canções que só ganharam vida no palco. Para celebrar o primeiro aniversário do trabalho, um sete polegadas lançado em parceria com a Bolachão Discos, ela coloca “Chuva de Prata” e “Só Louco” no mundão. Será que não rola logo uma parte dois, não? 

Em um tempo muito distante, mais de dez anos atrás para ser quase preciso, Maria Luiza Jobim e Mahmundi dividiram uma noite no Riviera Bar em um rolê com curadoria da gênia Fernanda Couto. Era praticamente a primeira vez das duas artistas na metrópole paulista. 2024 eles se reencontram para um vinhozinho e cantaram juntas uma das belezinhas do pai de Maria. “E se a gente gravasse essa?” Gravaram. Ainda bem. 

Seu Nelson Motta dá a nota há 80 anos. E o aniversariante e mais novo oitentão na praça ganhou um presente perfeito da dupla mais fofa do Brasil: Fernanda Takai e John Ulhoa, que regravaram a filosófica parceria dele com Lulu Santos. Soa quase uma “brincadeira”, típica da dupla. Mas é bem sério. Ainda que zen.

Dora conta que pede músicas toda semana para a Sophia Chablau e poderia fazer três discos só com o que recebe da compositora. Fica na nossa imaginação esse álbum dos sonhos. Porque no ótimo “Pique”, a tardia (e certeira) estreia solo de Dora lançada há nem duas semanas, ressoa bem demais a deliciosa “Venha Comigo”, de Sophia. Uma música que faz mesmo a gente querer desligar tudo e ir direto para o Ceará – aliás, destaque para a parceria drum&bass da duplinha Sérgio Machado e Alberto Continentino que acontece pelo álbum todo. “Pique” é demais. E é cheio de acenos de Dora para o que ama, em especial em termos musicais. “Não Vou Te Esquecer”, de Dora e Tom Veloso, remete já no primeiro verso a Roberto Carlos para depois ecoar “O Seu Amor”, dos Doces Bárbaros. “Sim, Não” é só de Dora e traz uma pegada de Luiz Melodia, um samba rock rasgado. Ainda há piscadelas para Gal, Caetano, Gil (“VW Blues”) e lógico, Tom Jobim – seja o mais derramado “Essa Confusão”, seja o mais cambaleante “Caco”. “Existe essa emoção de querer colocar muitas vontades”, anotou Dora. Haja pique, mas é questão de respirar fundo e aproveitar a vida. 

Entre mil barulhinhos, “Baleia” escondia uma melodia todinha na voz de Juçara Marçal em sua versão presente em “Delta Estácio Blues”. Em “Colinho”, Maria Beraldo, uma das autoras das músicas, pega o que estava na voz de Juçara e espalha pelo arranjo guiado por um piano circular dentro de uma batida reta, mas sutilmente fora do eixo pela acentuação. E isso tudo é só uma pequena parte de todo poder de fogo de “Colinho”. A faixa-título, por exemplo, ganhou a marquinha de conteúdo explícito por conta da letra quente. Mas nem precisa de letra. Só o jeito que Maria organiza a música e coloca a voz já é o suficiente para deixar a censura maluca. E é um disco que tem a sabedoria de contemplar um samba de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, a belíssima “Minha Missão”. 

No caseiro “Cultura do Ódio”, seu álbum de estreia recém-lançado, a influencer e aqui, mais que tudo, cantora Juvi Chagas se diverte entre loops e efeitos para criar canções com piadas que lembram os vídeos engraçados que a tornaram famosa nas redes sociais – sacadas espertas e bem colocadas do terror moderno de nossos dias. “Novas Drogas Legais”, por exemplo, é uma listagem das novas drogas socialmente aceitas – e aí a lista inclui desde vídeos verticais até os remédios mais fortes disponíveis em qualquer farmácia. O moderno é aqui. E faz uma conversa com uma certa velha vanguarda paulistana. Mas não é hora de termos essa conversa.

Em mais um single do seu disco em homenagem à obra de Ederaldo Gentil, Giovani Cidreira mostra seu lado mais visceral no canto, investigando as fortes emoções de uma declaração de amor poderosa ao samba – parte inseparável do compositor. O canto colaborativo de Céu contrabalanceia tudo, serena na discussão. 

11 – MOMO. – “Passo de Avarandar” (5)
12 – Paira – “O Fio” (6)
13 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (7)
14 – Mundo Video – “COMO VOCÊ ME VÊ” (8)
15 – Meu Nome Não É Portugas – “Céu e Mar” (9) 
16 – Madrid – “Eu Não Ligo, Eu Finjo” (10)
17 – Kamau – “Casa” (11)
18 – Sítio Rosa – “Amarelo” (12) 
19 – Edgar – “Chave de Ouro” (13) 
20 – Julia Zatt – “Visceral” (com Florence Lil Flowers) (14) 
21 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo,  iloveyoulangelo – “Todo Tempo do Mundo” (18)
22 – Livia Nery – “Tempo de Mistério” (19)
23 – Tuyo – “Dógui” (20) 
24 – Rancore – “Quando Você Vem” (21)
25 – Giovani Cidreira – “Feira do Rolo” (com Vandal) (22)
26 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (24)
27 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (25)
28 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (27)
29 – Papangu – “Rito de Coroação” (28)
30 – Zé Manoel – “Canção de Amor para Johnny Alf” (29)
31 – Ale Sater – “Final de Mim” (30)
32 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (31)
33 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (32) 
34 – Bruna Mendez – “Temporal” (33) 
35 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (34) 
36 – Vitor Milagres – “Um Barato” (35)
37 – Apeles – “Fragment” (36)
38 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (37) 
39 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (38) 
40 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (39)
41 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (40)
42 – TRAGO – “Porvir” (41)
43 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (42)
44 – Papisa – “Vai Passar” (43)
45 – Antônio Neves – “Dinamite” (44)
46 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (45)
47 – Julia Branco – “Baby Blue” (46)
48 – Taxidermia – “Clarão Azul” (47)
49 – Mirela Hazin – “Delírio” (48)
50 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (49)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a .
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.