Top 10 Gringo – Ao Cure o que é do Cure (o topo!). Beach Bunny “sozinha” em segundo. Georgie Greep mete um blues em terceiro

Vamos correr com essa introdução porque estamos atrasados bem quando a semana traz como presente uma música inédita de ninguém mais, ninguém menos que Robert Smith e o seu The Cure. A gente achou que nunca veria uma inédita dos caras tão cedo e vamos ter um álbum todinho para apreciar logo mais. E o melhor de tudo: “Alone”, primeiro single apresentado, entra fácil num hall de melhores músicas da banda! Comentário ousado?

Em quase cinco anos de atividade, este Top 10 já pôde comentar inéditas improváveis – tipo Stones e até Beatles!!! Quem diria que chegaria o dia em que daríamos o primeiro lugar ao Cure? Mas Robert Smith tirou a banda do limbo das composições inéditas para nós. E que presente é “Alone”, uma canção épica de seis minutos – com uma introdução de mais de três minutos – que coloca o veterano grupo em diálogo com o presente – já que ela soa super-Cure, mas zero retrô. Faz sentido, já que será a abertura de “Songs of a Lost World”, primeiro disco da banda em 14 anos. Impossível não se arrepiar todo com o verso de abertura: “This is the end of every song that we sing”. É, leva 50 anos para fazer uma música com um peso desses. Não é uma missão para qualquer um.  

Ao contrário do que muitos possam imaginar, “Clueless”, em inglês, não significa “As Patricinhas de Beverly Hills”. Brincadeira, brincadeira – nós até gostamos das traduções bizarras de filmes no Brasil. Mas a tradução literal da palavra seria “sem noção” e é esse sentido que está presente em “Clueless”, novo single da sempre viciante Beach Bunny. A canção foi escrita em poucos minutos pela dona da banda, a senhorita Lili Trifilio, e é um desabafo de quem está completando 28 anos, idade que sempre sugere uma crise existencial básica.  

A banda inglesa Black Midi entrou em um período de longo hiato, mas não está morta, parece. E isso pode ser provado em “Blues”, segundo single do primeiro álbum de Geordie Greep, um dos vocalistas da banda. Está quase tudo aqui: os riffs frenéticos, o ritmo quebradiço, as letras longuíssimas quase faladas. Questionado sobre como é trabalhar solo, Greep elogiou que, por não ter que responder a ninguém, pode seguir seus impulsos. Sacou? O menino está soltinho. E podemos ousar? O outro single que ele soltou, “Holy, Holy”, tem uma coisa meio Lulu Santos do multiverso. Sério! 

Já falamos aqui do excelente Bartees Strange, inglês-americano, desde sua estreia. Por seu jeito muito original de mixar hip hop com emo. E o moço foi crescendo e crescendo e agora deve ir mais longe: seu próximo álbum, “Horror”, terá produções do requisitado Jack Antonoff (Taylor Swift, Lana Del Rey). Será que ele vai mudar de patamar em termos de popularidade? “Sober” é bem chicletinha, mas ainda é difícil apontar qualquer coisa. “Horror” sai logo mais – fevereiro de 2025!!! Toma esse susto, acabou o ano! 

“Harlequin”, novo álbum de carreira da Lady Gaga, inspirado em sua participação no novo filme do Coringa no papel de Arlequina, carrega um pouco da energia de suas gravações com Tony Bennett – material detestado por alguns fãs e adorado por nós que gostamos de ver Gaga deslocada do seu mundo pop, arriscando no jazz e mostrando seu enorme poder vocal. O álbum tem composições originais, mas brilha quando recupera coisas mais antigas, como “I’ve Got the World on a String”, uma canção dos anos 1930 que já passou pelas vozes de Sinatra, Vaughan, Fitzgerald e Bennett.  E, agora, de Gaga.

É fato que o grupo indie inglês Maxïmo Park nunca virou muito, especialmente aqui no Brasil, mas também jamais saiu totalmente de cena e está aí lançando seus discos. E, se eles nunca mais soltaram algo fenomenal na linha do incrível velho hit “Our Velocity”, seu novo álbum, chamado “Stream of Life”, carrega um monte de música bem da simpáticas, tipo esta destacada aqui. 

O charme único da esquisitice do trio americano de art rock Xiu Xiu (Jamie Stewart, Angela Seo, David Kendrick) segue intacto neste que é o 14º álbum da banda em pouco mais de 20 anos, ainda que leve o nome de “13” Frank Beltrame Italian Stiletto with Bison Horn Grips”. É assim mesmo o título do álbum! Metade do tempo você não entende o que está acontecendo, muito menos de onde vem 2/3 dos sons produzidos pela banda – mas de alguma forma o vocal baixinho, grave, quase falado, vai te conduzindo pelos tortuosos caminhos. “Commom Loon” é até convencional, dependendo do ponto de vista. Coisa de louco. Mesmo! 

Natural que as críticas não recebam bem o segundo e provavelmente, derradeiro álbum da DJ e produtora escocesa SOPHIE, chamado… “Sophie”. Sabemos como funcionam essas coisas póstumas, né? Não tem quem substitua o potencial artístico dela, que morreu em 2021. Mesmo com todo cuidado de seu irmão, também produtor, para respeitar os rascunhos que ficaram para serem trabalhados por parceiros próximos neste disco. Os críticos que esperavam um trabalho equivalente ao da artista em vida realmente viajaram legal aí. E quem sugere que o disco foi feito artificialmente só está sendo desrespeitoso. Vá buscando o correto, soa proveitoso. Muitos dariam tudo para fazer algo solto e inteligente como o trap de “Rawwwwww”. 

Quem tem idade para lembrar da era Vertigo do U2? O álbum marcou um certo retorno da banda ao rock básico, “Vertigo” foi um hit na época com seu riff poderoso, e causou no Brasil com uma turnê que provocou caos na busca por ingressos, numa época em que compras online ainda não eram tão acessíveis quanto são hoje. “Picture of You (X+Y)” é uma sobra bobinha, que deve ter sido descartada até por lembrar uma versão lenta de “Lukin”, do Pearl Jam, mas é um senhor convite para lembrar dos bons dias do U2.  

Enquanto alguns discos completam 20 anos, outros completam 30 (!). É o caso do famoooooso “Blue Album”, do Weezer, estreia da banda californiana nas nossas vidas. Celebrando a data, o Weezer soltou material gravado na época para a BBC. Tem coisas acústicas e apresentações elétricas. É um lance ver como a banda era antes de assumir camadas e camadas de ironia que distanciaram eles de si mesmos e tornaram a banda meio incompreensível. 

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* Na vinheta do Top 10, Robert Smith, do Cure, em foto de Mariano Regidor.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.