Top 50 da CENA – Milton leva Esperanza ao clube. O lugar pacato do Varanda. Curumin traz sua paixão ao pódio

Seguindo o que avisamos no Top 10 Gringo, vamos celebrar mais um pouquinho  “Milton + Esperanza”, o encontro de Milton Nascimento com esperanza spalding. Só que desta vez homenageamos a parte brasileira da obra. 

“Cais”, uma das músicas mais marcantes do álbum “Clube da Esquina”, por consequência uma das mais marcantes na carreira de Milton Nascimento, já foi regravada tantas vezes por ele mesmo que fica a pergunta: vale ir lá mais uma vez? Sim. Ô, se vale é a resposta que encontramos em “Milton + Esperanza”. É de se imaginar que Esperanza Spalding não gostaria de atravessar essa aventura sem imaginar um arranjo seu para “Cais”. E é na sua opção em desacelerar a canção, já bem lenta originalmente, que encontramos uma nova voz de Milton. Um Milton que se alterna em seu timbre envelhecido, mas que em breves momentos soa como o jovem compositor de “Cais” – ele beirava os 30 quando registrou a canção pela primeira vez. Qual é a mágica? Não sabemos. Talvez seja até um truque da nossa percepção emocionada. Em se tratando de música, tá valendo. 

Se tem uma banda que só melhora single a single é a turma do Varanda. O time mineiro formado por Amélia do Carmo, Augusto Vargas, Mario Lorenzi e Bernardo Merhy parece cada vez mais entrosado e gostando do jogo bem jogado. E o excesso de metáfora futebolística aqui é porque o vídeo deste single “Vida Pacata” apresenta o quarteto batendo uma bola. Dolorida e colorida, com versos como “Fala que gosta, mas já não gosta tanto assim”, a música estará no álbum de estreia da banda, “Beirada”, que chega aos nossos ouvidos ainda neste agosto.  

Curumin vem aos poucos dando pistas do seu próximo trabalho solo, ainda sem nome. Os singles apontam para uma ambientação serena, em especial na voz sempre tranquila do baterista. Falando de amor com discretas influências de rap: “Flecha do Dedo” parece a base de uma hipotética track romântica dos Racionais enquanto esta “Paixão Faixa Preta” é parceria com Rico Dalasam. 

“Um Tom de Azul” é o ponto alto de “Portal”, novo álbum de Rashid. A faixa retoma musicalmente a introdução do disco e ainda traz como feat. Péricles, que é mencionado em verso na faixa anterior, “Sem Norte”. Esse contexto todo derrete qualquer ouvinte, se é que sobrou alguém firme depois da declaração de amor de Rashid ao filho em “Cairo”. “Portal” é bem conceitual mesmo, como define o próprio rapper. Cada música fala de períodos-chave da vida que quase todos atravessam, como verdadeiros portais – o começo de amores, o flerte com a desistência do sonho, a chegada de um filho, o final de um relacionamento. A+. 

Conjunto de João Pessoa que causou com sua pesadíssima estreia “Holoceno”, de 2021, o Papangu vai surpreender muita gente com seu segundo álbum, “Lampião Rei”. Álbum conceitual sobre Virgulino Ferreira da Silva, o grupo apresenta seu novo formato, um sexteto, e um novo baterista – que chega com a propaganda de ser o único hoje no mundo tocando triângulo em grupo de forró pé-de-serra e bateria em grupo de death metal. Se antes eles eram muito comparados a bandas internacionais, agora a turma vai entender que esses cabras são brasileiros e dos bons.

Vitor Milagres, um dos Rosabege, conta que gostaria que cada faixa do seu álbum solo “Vontade da Beleza” tivesse uma paisagem sonora diferente. E dentro de cada paisagem um universo amplo sonoridades. “É um álbum maximalista, com 60/90 tracks por música”, ele explica, tendo montado também uma banda específica para cada canção. Para se ter ideia, só pelas baterias e percussão passeiam: Thiago Fernandes, Pedro Fonte, Sergio Machado, Rodrigo Maré e ÀIYÉ. O desejo virou realidade. É nessa diversidade e multiplicação de informações que Vitor encontra algo bem seu. Soa clássico e soa fresco. É impossível não ficar com vontade de escutar “Vontade da Beleza” inteiro depois dos primeiros segundos desta “Um Barato”, primeira faixa que traduz a ideia do disco em verso: “Quero viver uma vida cheia de paisagens”. Nota 10.

“Caco” é a primeira pista que Dora Morelenbaum dá do seu primeiro álbum solo. A música é super Tom Jobim – nos acordes dissonantes, no arranjo cheio de assobio e na letra que fala de vidro, pé e coração. Para os saudosos do Bala Desejo, “Caco” é parceria dela com Zé Ibarra, que também faz o violão e participa do coro que ainda tem Lucas Nunes e Julia Mestre, fechando o núcleo Bala. A produção é de Ana Frango Elétrico, que deixa sua impressão caótica e superpop marcante no trabalho de Dora. 

Formando um verdadeiro megazord de CENA, a paulistana Bebé e os baianos Rei Lacoste, Giovani Cidreira e o Tangolo Mangos se reúnem nesta track feita durante um encontro da turma no Festival Oferendas, durante a festa de Yemanjá, em Salvador – encontro que virou um pequeno doc disponível no YouTube. A diversidade sonora da turma se reflete no som, inclassificável pelo números de elemento. O fato é que o mote “Sem Ódio na Pista” fica na cabeça. Esperamos pelo possível disco cheio desse time. Ia dar bom, viu? 

Ampliando as possibilidades do seu espaço no Terno Rei e mantendo sua investigação sobre o tempo e suas dores, Ale Sater apresenta em “Ontem” o prenúncio de seu primeiro álbum solo ainda sem nome, mas previsto para setembro. Bem interessante ver Ale ultrapassando as fronteiras mais acústicas do seu repertório solitário apresentado até aqui, embora ele diga que esse é o som mais maximalista que teremos no álbum. O que vem pela frente?   

Desde o poderoso “Cavala”, lançado no muito muito distante 2018, esperávamos o próximo passo de Maria Beraldo. Ela não saiu de cena, lançou single, colaborou com outros artistas, mas faltava o segundo rumo. Agora vem aí “Colinho”. A promessa do álbum é ser mais pop e experimental que seu antecessor e a proposta não é nada absurda. Faz todo sentido quando damos de cara com este primeiro single “I Can’t Stand My Father Anymore” e sua tortuosidade meio Talking Heads. Ancorada pelo baixo de Marcelo Cabral e a bateria de Sérgio Machado, o piano e a guitarra de Maria não buscam os acordes precisos, mas os sons que fazem ou deixam de fazer sentido. Na letra, uma provocação com quem atribui aos problemas paternos o fato de ela ser lésbica – uma chavão preconceituoso que ela já teve de aturar por muito tempo. E, para evitar malentendido poético, já que Maria não detesta seu pai na vida real, ela mandou a música para ele com as devidas explicações. Além de superentender, o pai respondeu Maria em versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor”. Fofo, não? 

11 – Sítio Rosa – “Lhasa” (7)
12 – Apeles – “Fragment” (8)
13 – Sant, Don L, Nill, Caio Passos e BPP Tan – “Coisas Que Se Resolvem na Porrada” (9) 
14 – Siba – “Vaivem” (10) 
15 – Jota Ghetto e Jamés Ventura – “Downtown” (com KL Jay) (11)
16 – Febem – “Abaixo do Radar” (com CESRV e Smile) (12)
17 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (13) 
18 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (14) 
19 – PLUMA – “Se Você Quiser” (15) 
20 – Hoovaranas – “Fuga” (17) 
21 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (19)
22 – PECI – “Doce do Azedo” (22)
23 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (23)
24 – TRAGO – “Porvir” (24)
25 – FBC – “Não Deixa Secar” (25)
26 – Samuel Rosa – “Não Tenha Dó” (26)
27 – Mundo Video – “SOZINHOS: O Desafio (com Gab Ferreira)” (27)
28 – Tontom – “Tontom Perigosa” (28)
29 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (29)
30 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (30)
31 – Jup do Bairro – “Mulher do Fim do Mundo” (31)
32 – Paira – “Música Lenta” (32)
33 – Papisa – “Vai Passar” (33)
34 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (34)
35 – Antônio Neves – “Dinamite” (35)
36 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (36)
37 – Max B.O – “Impossível Não Achar Possível” (37)
38 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (38)
39 – Julia Branco – “Baby Blue” (39)
40 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (40)
41 – Varanda – “Vá e Não Volte” (41)
42 – Taxidermia – “Clarão Azul” (42)
43 – Mirela Hazin – “Delírio” (43)
44 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (44)
45 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (45)
46 – Tuyo – “Devagar” (46)
47 – Irmãs de Pau – “Megatron” (47)
48 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (48)
49 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (49)
50 – Amaro Freitas – “Y’Y” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o duo Esperanza Spalding e Milton Nascimento.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.