Com “Brat”, Charli XCX conseguiu de novo. Ninguém faz igual a “essa b*tch”!

Eis que finalmente foi nos entregue, na sexta e na íntegra, tudo o que estava por vir da viralizada capa minimalista cor verde neon.

As últimas semanas que anteciparam o lançamento de “Brat”, sexto álbum da cantora inglesa Charli XCX, tinham sido mais que intensas.

De flashmobs nas mais hypes ruas nova-iorquinas, novo vídeo recheado de “it girls” do momento, colaboração com a veterana Robyn e todos os memes verdes que invadiram a internet, ainda fomos surpreendidos na véspera com uma declaração da sua colega de profissão Lorde, ressurgindo da sua pacata reclusão que acontece nos hiatos de seus álbuns, declarando: “Ninguém faz igual a essa vac*”.

Todo esse turbilhão de informação, furor e frenesia parece de certa forma combinar com a persona festeira e atrevida que Charli quer evocar em sua visão criativa de “Brat”, minimamente bem-costurado por uma fusão ousada de pop experimental e eletrônico com a energia das raves e dos clubs, ou, como a mesma diz, um álbum feito totalmente para as pistas.

Digamos que “Brat” como tradução literal venha de um lugar de desobediência, meramente uma válvula de escape para Charli ligar o f***-se.

Já faz um tempo em que ela parece muito sintonizada às premissas de seus fãs trabalhando do seu jeito, sem muita pretensão em atingir patamares altos que a indústria da música exige. Por um outro lado, seu fandom leal, que já não cola pôsteres nas paredes do quarto, nem a colocam numa rinha de comparações com outras cantoras pop já vinham usando a internet como palco para sua devoção a introduzindo como “futuro do pop”, hoje o presente.

O single “Von Dutch” lançado no mês de fevereiro, com o nome da marca de bonés de caminhoneiros popularizada nos anos 2000, já trazia um cheiro de que algo nostálgico estava por vir. A canção, hyperpop na veia, com letra arrojada, autotune e uma base de synth pop, já entregava algo mais, digamos alarmante: era o retorno do ELETROCLASH. Isso não estávamos esperando.

Embora o auge do electroclash tenha sido relativamente breve, lá nos mesmos anos 2000 dos bonés Von Dutch, seu impacto na música eletrônica e na cultura pop foi significativo. A atitude DIY (do it yourself) e a ênfase na autenticidade e na provocação ajudaram a moldar a cena musical independente e alternativa que hoje Charli cultua. As inspirações de Felix da Housecat e Miss Kittin são notáveis.

“Brat” tem uma experiência auditiva fresca e empolgante passando pelas faixas: “Sympathy Is a Knife”, “Rewind” e “Mean Girls”, somadas às já lançadas “B2B” e “Cult Classics” que parecem fazer até mais sentido juntas da obra completa.

Aqui devemos destacar também sua curadoria musical, escolhendo colaboradores que enriquecem suas produções e as tornas imprevisíveis, como é o caso A.G. Cook (presente em quase todas as faixas), Gesaffelstein (“B2B”) e El Guincho (“Everything Is Romantic”).

Se você achava que a brincadeira era baseada somente em cores, espere para entender o conceito com números ao ouvir a última faixa, “365”. Essa na verdade é um sample em loop da primeira faixa do álbum (“360”), a qual compartilha os dois primeiros dígitos. Digamos que o conceito de Charli aqui é nos levar de uma declaração sobre auto-confiança (“I went my own way and I made it / I’m your favorite reference, baby”) se enxergando em 360 graus, para o non-stop party dos “365” dias do ano que vem por aí.

Então tá, Charli! Vamos nessa!

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* Colaborou Vinicius Dota